Passado e Presente: arquétipos de Death Note
Gente morrendo, entrando em pânico, nomes em cadernos, suspense e gente enlouquecendo. E não, não estou falando da minha faculdade. Estou falando de Death Note, um “anime raiz”, e você deve saber disso. É aquele anime que você recomenda para qualquer iniciante no mundo dos animes. Sim, isso mesmo, vamos recomendar um anime que aborda ideias sérias para crianças de 12 anos, porque nobody yes door.
Enfim, caso você não conheça Death Note, ou DN em siglas, é um anime que foi adaptado do mangá. Conta a história do Light ou Raito Yagami, um estudante que encontra um caderno misterioso que mata qualquer um cujo nome esteja escrito nele. Graças a isso, Light, acaba deixando esse poder subir à cabeça dele e tomar conta dele. Como consequência ele precisa enfrentar L, um detetive famoso, mas que ninguém sabe quem é. Agora Light precisa matar L se ele quiser salvar o mundo dele da forma que ele quer.
Em outras palavras, é uma competição pra ver quem é mais antissocial. Digamos que o Kira e o L têm visões diferentes, e isso resulta em algo que eu já escrevi: Good vs Evil. Sim, eu gosto desse arquétipo, esse arquétipo é o único que faz com que a minha fé na humanidade não morra ainda.
Vamos começar com o Kira. Ele é basicamente um estudante que deu certo. No começo tinha boas ideias, porém, como todo adolescente ele deixou o poder dominar ele. Vale lembrar que em Death Note, o bem o mal é meio que totalmente pessoal. Eu não vejo problema se você realmente gosta mais do Kira ou do L e não vejo problema em gostar de um ao invés de outro. Isso deve ser pelo fato de que ambos os lados recebem suporte. L tem a equipe dele com o pai dele e etc, enquanto Kira tem a Misa e os shinigamis. Fora que as ideias dos dois representam situações que ainda acontecem hoje.
Kira sempre teve ideias que beneficiariam os jovens, quando ele via alguma coisa tipo: caras dando em cima de uma mulher e ela se sentindo desconfortável ou algo assim. Ele já escrevia o nome no caderno sem dó, pelo menos no começo, até perceber que ele realmente tinha chance de mudar o mundo com o caderno e decidir fazer o que quisesse; começar a julgar as pessoas basicamente no “se eu gosto, eu deixo vivo, se não eu mato”. Em outras palavras, a mão dele tremia quando ele sabia o nome de alguém, o que é um problema. O autor coloca muitas características do personagem em uma ideia que deveria ser objetiva, fazendo com que as pessoas sejam atraídas porque tem alguma coisa em comum com o personagem, e não pela “ideia” inicial. Isso ainda é considerado Good vs Evil, mas é diferente. Eu também não sei se essa era a intenção do autor ou não.
Do outro lado, L pra mim é completamente neutro. Ele segue as ideias dele sem deixar que as emoções pesem nas decisões que ele toma. Pessoalmente, na época que assisti e atualmente, prefiro o L ao invés do Kira. Deve ser porque eu nunca me dei bem com o Kira mesmo, aí eu tive que ir pro lado do L. Eu gosto como o L combate toda a justiça distorcida do Kira. Enquanto o Kira fazia de tudo, pouco se fodendo pras regras da sociedade para conseguir fazer a utopia dele realidade, L seguia fielmente as regras. Por isso ele perdeu grande parte do anime buscando provas de que o Light/Raito era o Kira. Um dos motivos que eu mais gosto do L, é por ele se comportar diferente do Kira, mesmo ambos estando na mesma posição.
Lembrando um pouco o arquétipo do “Professor Deus”, ambos são os professores nesse título, o que ajuda a separar as coisas, como quem é o bem e quem é o mal. É triste admitir mas os alunos do L são bem chatos comparados a ele. Do outro lado o Kira só tem uma aluna, que é a Misa. Até aí ok. Mas com o decorrer da história, você percebe como dividir o Kira ou o L como herói ou vilão. Enquanto Kira usava a Misa do jeito que ele queria… Ok, ele não usava a aluna, ele manipulava, coisa que pessoas nesses arquétipos não deveriam fazer (se você considerar o Kira como um Professor do bem). Enquanto L é difícil ver se ele realmente era um professor do bem, já que entre os alunos dele tem um “rebelde” s/2 .
Como eu planejo focar no L, eu não acredito que como o N ou M se comportam na série faça alguma diferença, mesmo o M sendo tão radical como o Kira, M meio que era uma versão terrorista do L. O pior era ver que o Kira respondia às barbaridades do M com mais barbaridades, isso fazia com que ele se distanciasse mais ainda do “Good side”, tornando a guerra contra o L cada vez mais irrelevante.
Com o N, as coisas eram diferentes. Kira ainda tentava se manter objetivo, porém falhava miseravelmente. É difícil manter objetividade quando você precisa enfrentar alguém como o M e o N juntos. É tipo ser bipolar, mas esconder isso das suas namoradas. Um lado sabe que você tá chifrando o outro. Infelizmente não acho que a intriga entre Kira e N adicione algo pro arquétipo Good vs Evil, acredito que nesse ponto todo mundo já sabe como é a consequência do Kira. Ele totalmente esqueceu das ideias dele e está construindo um mundo onde agrade só ele. Enquanto N é a figura mais perto dos ideais do L, o trabalho dele foi basicamente terminar o que ele fez.
Falando do Kira como professor, bom, já vimos que ele tinha uma aluna, a Misa, que tem um papel importante na série. Ela é fanática por ele, e o Kira não falhou em perceber isso. Infelizmente, ele decidiu usar a Misa, em vez de ensinar. Digo, ele não precisa ensinar ela pra ser uma pessoa do bem, pode usar ela também, ensinar ou usar não importa. O que importa é quais sentimentos você coloca nessa relação de estudante – professor. No caso, o Kira não dava a mínima pra ela, e quem via percebia isso, fazendo com que Kira recebesse uma imagem negativa. Uma prova de que ele é do mal é porque ele simplesmente usou a Misa enquanto ele deveria ter no mínimo ensinado pra ela algo que faria os telespectadores refletirem, em outras palavras, a Misa deveria transmitir uma mensagem e não simplesmente colocar gasolina no lado escroto do Kira.
Enfim, no anime o Kira pode ter uma imagem positiva, já que vimos no final um culto que ainda lembra dele. Pessoalmente, aquilo parece um grupinho religioso, é só colocar gasolina que o Kira é do mal, significando que ele só consegue convencer as pessoas deixando elas fanáticas ou pessoas que já eram fanáticas. Eu acho isso uma coisa negativa já que transforma ideias em crenças. E a diferença de um crença de uma ideia é que ideia você pode mudar de acordo com os argumentos, crença não, você tem certeza que é real e luta pra provar isso, eventualmente você ignora o resto. Não, eu não to falando que ter uma crença é ruim, eu só quero falar que as pessoas acabam escolhendo líderes, sejam eles políticos ou não, baseando-se nos gostos. L e Kira são exemplos mais populares.
No momento que você coloca DN em um post de facebook, vai ter pelo menos um comentando que prefere um ao invés do outro, seja porque ele se simpatiza mais com um do que o outro, ou porque ele gosta das ideias de um ao invés das do outro. Enfim, eu só queria falar que eu acho essa “discussão”entre Kira e L algo bem aplicável à nossa realidade. Sabe, hoje em dia parece que as pessoas escolhem os líderes baseando-se nos gostos e não nas ideias. Adicionando o fato que vários líderes de hoje, colocam tanta opinião pessoal às ideias deles, fazendo com que as pessoas não liguem pras “ideias” deles e sim porque eles simplesmente gostam da opinião deles. Eu não vou citar nomes, porque eu não tenho saco pra prolongar esse post.