Um episódio pedante de tão expositivo, mas para uma série curta e com tanta informação é um pouco difícil de evitar. A animação desde o primeiro episódio (na verdade desde o trailer) já dá a entender que é um anime de baixo orçamento, então é o caso de não ter grandes expectativas com nada, nem mesmo com o roteiro. A ideia com certeza é muito boa e eu estou gostando bastante, os personagens são cativantes, o cenário é criativo, mas nada disso impede que SukaSuka tenha uma narrativa fraca. E com efeito, é o que estou assistindo. Pelo menos as informações novas desse episódio não foram quase inúteis, como aquelas dos dois episódios anteriores, e a cena final foi emocionante. E SukaSuka começa a me lembrar Madoka Magica.

O reencontro do Willem com seu passado foi muito mais bem focado do que eu esperava. Já estava imaginando um monte de histórias irrelevantes dele em seus dias de juventude, as pessoas que conheceu e esse tipo de coisa, mas não foi nada disso. Não muito, pelo menos, teve uma cena curta mas acho que ela foi bastante justificada. Willem lembrou-se de como conheceu Souwong e ele ainda era bastante novo, mais do que ele, e de como ele e a misteriosa garota de cabelo vermelho zombavam do agora Grande Sábio das ilhas voadoras. Foi curto e serviu bem para explicar o tom do Willem com o velho barbado – sem isso seria muito estranho vendo-o fazer pouco caso de alguém que tem a cara clichê da sabedoria e da respeitabilidade. Pareceria heresia, algo pelo que Willem deveria pagar caro. Mas eles sempre foram assim e o velho sempre foi desajeitado, então nada ali pareceu artificial. Que a maior parte da magia que sustenta as ilhas voando venha de uma besta também faz bastante sentido, e para evitar necessidades de mais explicações foi muito útil que essa besta não fosse outra senão a que travou com Willem o combate derradeiro de ambos.

Mas isso tudo, embora importante, foi só o aperitivo daquela reunião entre velhos amigos. O prato principal foi a verdade sobre as fadas: espíritos de crianças mortas que vagam pelo mundo sem consciência de si mesmas são capturadas e ganham um corpo novo através de magia necromântica. Porque já são mortas, não temem a morte. Mas a magia é uma porcaria e eventualmente elas podem começar a recuperar suas memórias de vidas passadas – e é assim que a mente de uma fada se deteriora, com a mistura caótica de memórias de várias vidas vividas. É uma ideia muito interessante. O tipo de coisa que eu gostaria de ter pensado, hehe, e explica as asas de borboleta que elas possuem: no imaginário japonês (e não só lá), borboletas são espíritos ou levam espíritos. Em diversas obras japonesas pode-se ver borboletas de verdade ou de energia (ou apenas metafóricas, talvez como efeito artístico na animação) usadas como símbolos para a morte. Qualquer morte – alguém que já morreu ou como indício de que alguém irá morrer. Ah, e posso falar o que me fez lembrar de Madoka Magica? Bom, é spoiler se você ainda não tiver assistido, então leia por sua conta e risco:

Em Madoka Magica, as garotas mágicas são tecnicamente mortos-vivos. Alguém que já jogou RPG deve reconhecer: elas são liches. Um tipo de morto-vivo criado quando se remove a alma do mago de seu corpo e a coloca em uma joia ou recipiente, chamado de filactéria. Normalmente é o próprio mago quem faz isso para se tornar imortal, mas em Madoka Magica são os incubadores que fazem isso com as garotas (sem contar a verdade para elas, é lógico). Suas almas são removidas de seus corpos e colocadas no que eles chamam de Jóias da Alma. Seus corpos se tornam potencialmente imortais (não chegam a ser imortais de fato – pobre Mami), mas se regeneram de danos físicos bem rápido, desde que não sejam danos letais. E como liches, dado tempo suficiente se corrompem (em Madoka, suas mentes se espatifam por exaustão ou trauma emocional) e se tornam malignas – viram bruxas. Em SukaSuka, espíritos vagantes são presos a um novo corpo que não é no entanto um corpo vivo verdadeiro. São, portanto, mortas-vivas. De um tipo que eu nunca ouvi falar antes – talvez “golens de alma”? – mas mortas-vivas. E como as garotas mágicas de Madoka, as fadas de SukaSuka eventualmente têm suas mentes destruídas. Pelo menos a Chtholly não perdeu o controle, mas esse é um clichê bom demais para ser desperdiçado, aposto que veremos algo assim no anime ainda!

Souwong revela a verdade sobre as fadas para Willem, que não fica muito feliz

Como o Souwong não sabe a hora de calar a boca, ele contou toda a verdade em detalhes para o Willem, que obviamente o abominou por isso e rejeitou definitivamente o plano do amigo de construir um grande exército de fadas para retomar a superfície. É fácil falar em guerra quando são os outros que vão lutar, não é? Se não acha isso abominável o bastante, que tal criar seres inocentes que não pediram para estar ali e não têm nada a ver com os seus problemas e transformá-los em seus soldados, forçando-os a lutar a sua guerra? Que tipo de mundo se constrói assim? Eu entendo que a situação das ilhas flutuantes é mesmo preocupante, desesperadora talvez (principalmente para alguém que já viveu isso por 500 anos), consigo compreender a necessidade de sacrifícios, mas de que sacrifícios estamos falando? Do sacrifício alheio? Um mundo construído sobre o sofrimento de almas inocentes seria justo? Um futuro assim valeria a pena?

  1. Angelo Kaoru Gomes Ribeiro

    Esse episódio é a prova que o anterior foi puro desperdício de tempo. Da para desenvolver o assunto sem muitas delongas e até mostrando cenas casuais. Ademais, ótima review

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      O episódio anterior foi muito triste mesmo. Não que eu goste desse tipo de episódio carregado de diálogos expositivos, mas acho que vale pela criatividade, esforço e por algumas cenas que ficaram bem legais apesar de tudo.

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

  2. Este episódio de SukaSuka, foi muito bom. Este episódio 6, é a prova mor, como o episódio 5 foi pura perda de tempo. O episódio 6 em si, teve muita informação, mas eu gostei bastante (e gostei ainda mais de algumas respostas que o episódio deu às minhas dúvidas). Eu desde o primeiro episódio, que tinha curiosidade do passado do Willem e este episódio, mostrou ainda mais do que eu esperava sobre o passado dele. Achei meio fraco (em termos de narrativa) a introdução de um dos membros do trio de heróis que o Willem pertencia. Foi engraçado ver, de onde o Willem conhecia o Souwong e tal, quando eles mais a Lilia ainda estavam todos felizes da vida (mesmo tendo que combater bestas/deuses). Foi interessante ver este flashback, para perceber aquela atitude do Willem para com Souwong. Mas como o episódio 6, ainda estava cheio de informação, para esfregar na cara do espectador, introduz um personagem (aquilo pode ser considerado personagem, certo? a besta que Willem quinhentos anos antes, tinha tido a sua derradeira batalha como herói. E como este episódio esteve longe de ter momento algum de alegria ou felicidade, o Souwong, conta uma verdade que não agradou ao Willem. Estava na cara que para manter aquelas ilhas a flutuar seria necessário alguém com muito poder (neste caso a cabeça demoníaca que anda de cadeira de rodas) e no que toca na defesa do resta da humanidade, seria necessário usar refugo, neste caso as fadas. Eu percebi a atitude de desagrado do Willem com esta informação, para mim não está correcto, usar a vida dos outros para salvaguardar a minha e o Willem pensa a mesma coisa. Além que é cruel e desumano, usar a vida das outras pessoas, para ganho próprio, nenhum mundo se constrói assim, de forma tão pouco moral e saudável. O mais triste nessa revelação, é que não bastando o facto de os meio-animais e outros seres racionais daquele mundo, se estarem pouco se lixando, para as fadas que os protegem, ainda acham moralmente aceitável que estas sofram e morram, nas lutas que eles deviam lutar. Para mim um futuro construído sobre pilares assim, não valeria a pena e seria vergonhoso viver num futuro construído na base do sacrifico alheio.
    Voltando ao flashback, eu espero que a Lilia tenha um pouco mais de destaque, afinal ela foi alguém importante na vida do Willem, além que esta parecia nutrir sentimentos pelo Willem.
    A parte da Chtolly, foi muito triste, já se sabia que ela estava no seu limite, já algum tempo, mas aquele último esforço que ela fez para salvar a garota que estava a cair do telhado, foi a gota de água para o estado dela ceder de vez. Foi bem doloroso, ver a Chtolly em estado vegetativo e o foco dos olhos mortos dela, que o estúdio fez, deixou a cena ainda mais dolorosa. O corpo dela estava ali, mas a sua mente já não, o corpo dela naquele momento, não passava de uma casca vazia. Como seria de esperar o Willem ficou muito desesperado e a Nygglatho também. Aquela conversa entre o Willem e a Nygglatho, quando estes estavam no quarto da Chtolly, foi bem tocante, tão tocante que a Chtholly fez um último esforço para regressar, mas qual será o preço que ela irá pagar? Desconfio que será algo mais caro do que ela poderia esperar. E cada vez mais, estou curioso para saber, qual a relação da Elq com a origem das bestas que devastaram aquele mundo.
    A tua comparação deste episódio com Madoka, foi bem realista, e foi a parte que mais gostei de ler neste artigo.
    Como sempre, mais um excelente artigo de SukaSuka Fábio.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Bom, a relação da Elq com as bestas foi revelada. E dela com Chtholly também. É tudo muito louco e até agora não consegui digerir direito, hahaha! Mas o anime acabou, foi divertido, então tudo bem, posso apenas aceitar que seja assim.

      Os homens-animais das ilhas flutuantes vivem um permanente dilema moral: eles são incapazes de lutar contra as bestas pois apenas as fadas conseguem usar as únicas armas que podem derrotá-las: as espadas lendárias de nome complicado (e não é porque “imitam” os seres humanos, mas porque são de fato almas humanas! Bom, exceto a Elq, talvez? Ou será que ela também era humana? Quantas dúvidas! Que droga de anime terminado!). Em uma situação desesperada dessas, eu aceitaria essa solução se as fadas pelo menos fossem respeitadas, mas sabemos que não é bem assim. A Chtholly foi apedrejada logo no primeiro episódio.

      E o anime acabou e mais uma vez a Nygglatho teve que ser forte. Depois de vê-la nesse episódio, depois de vê-la após a partida das garotas alguns episódios atrás, consegue começar a imaginar qual não é o sofrimento pelo qual ela está passando? O que ela não deve estar escondendo muito bem de todas as garotas? Ela tem que ser forte. É ela que as fadas vão procurar. O que seria da Ithea sem a troll de bom coração para consolá-la?

      É meio estranho misturar isso com episódios tão pesados assim, mas para não perder o costume: feliz aniversário =))

      • Eu ainda hei-de de comentar o que me falta dos artigos deste anime. Ainda só não o fiz por falta de tempo e também, porque o rumo final do anime, foi tal e qual como eu imaginava que ia ser, o que me desmotivou um pouco.
        Os homens-animais, são a pior personificação dos humanos do passado. Eu compreendo que eles necessitem das fadas para a sua protecção, mas ao menos podiam respeitá-las, em certos momentos parece que esses homens-animais cospem no prato onde comeram.
        A Nygglatho sofreu muito na parte final, ela mesmo se fazendo de forte, dava para notar a dor na cara dela. Deu maior dor no coração, quando a Ithea começou a chorar no final do último episódio. Logo ela que era a mais alegre do grupo, ainda bem que ela tinha a troll de bom coração para a consolar.
        Também para não perder o costume, obrigado Fábio.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Não gostou do final de SukaSuka? Fiquei um pouco decepcionado, talvez, por ter sido um final aberto, mas acho que o arco final foi muito bom.

        O dilema dos homens-animais é ainda maior: se respeitassem as fadas, não viveriam tão tranquilos mandando as fadas para a morte. Eles não sabem toda a verdade e quem quer que tenha decidido ser melhor assim sabe o quão cômoda é a situação. Mas como poderia ser diferente se Suowong, o próprio mago necromante que dá vida as fadas, as considera tão descartáveis?

        Eu acho que a Ithea não sobrevive mais do que apenas o suficiente para as demais fadinhas crescerem e a substituírem. Mesmo que ela talvez esteja imune ao efeito de degradação mental, porque sua mente já foi totalmente substituída por uma outra, a motivação para continuar viva dela irá diminuir bastante agora sem as suas melhores amigas.

      • Não é bem não gostar, eu esperava que o final de SukaSuka, fugisse um pouco àquilo que eu já previra, desde o episódio 3. O anime terminou em aberto, mas ao menos a minha personagem preferida, a Ren não morreu. Quem sabe um dia haja uma segunda temporada de SukaSuka e desta vez pelas mãos de um estúdio melhor. A Ithea não vai aguentar muito, pois ela vai morrer de uma coisa, que tanto humanos e animais morrem, que é a solidão. A Ithea gostava bastante da Ren e da Chotholly, a vida dela sem as amigas não tem sentido.

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