Que episódio, não? Sinceramente, estou cada vez mais encantado com Kino no Tabi. Sempre tive curiosidade de conhecer melhor a franquia, mas — por algum motivo idiota — sempre empurrava com a barriga e, no fim, nunca assistia ou lia nada relacionado a Kino. Se arrependimento matasse, acho que eu já estaria abaixo de sete palmos há muito tempo. Felizmente, com este novo anime, pude enfim conhecer o universo de Kino no Tabi e testemunhar a verdadeira qualidade dessa obra que já possui 17 anos de publicação.

Bom, então, sobre o que foi o 2º episódio de Kino? Se eu pudesse resumir em uma única palavra, eu diria que: vingança. Esse episódio de Kino no Tabi foi basicamente sobre vingança. A protagonista, Kino, conheceu um novo país e — por conta da política existente naquele país — uma sutil história de vingança se desenrolou pelos poucos 24 minutos de episódio. Junto dessa sutil trama vingativa, dois novos personagens foram apresentados e um “lado” da personalidade de Kino foi revelado. Porém, esse episódio — apesar de interessante — possui alguns problemas, que apesar de não parecerem tão sérios, prejudicam o desenvolvimento de Kino no Tabi como um todo.

Comparar Kino no Tabi à Bíblia seria um pecado? Calma aí, deixe-me explicar melhor, caso contrário, tenho certeza que isso ficará desnecessariamente confuso e sem sentido. Acho que já deu para perceber que Kino no Tabi sempre procura deixar uma mensagem com as histórias que são contadas, certo? Não, definitivamente não deu para perceber isso ainda. A light novel de Kino — e o anime antigo também — certamente procuram fazer isso, mas esse novo anime — por algum motivo engraçadinho — não está conseguindo fazer isso tão bem. Bom, deixando esse detalhe técnico um pouco para o final do artigo… por que no início eu comparei Kino no Tabi à Bíblia? Para quem ainda não entendeu — apesar de eu já ter explicado indiretamente — as histórias de Kino são basicamente parábolas, que no caso, são narrativas que transmitem — de forma indireta — uma mensagem através de comparações e analogias. Qual outro livro também faz isso? Certamente existem muitos outros livros que fazem isso muito bem, mas creio que o mais conhecido seja a própria Bíblia Sagrada, que através de suas parábolas transmite diversas mensagens para seus leitores. E é justamente esse o problema do novo anime de Kino, ele não está conseguindo transmitir essas mensagens de maneira indireta — ou sequer direta. A graça de Kino no Tabi são justamente essas mensagens e reflexões que o capítulos da light novel trazem para o leitor, coisa que o anime antigo conseguiu fazer muito bem. Antes que alguém venha atirar alguma pedra em mim dizendo “você não assistiu o anime antigo, então, como pode afirmar isso com tamanha certeza?”, gostaria de dizer que — apesar dos pesares — eu sempre tento ser um tanto quanto profissional quando se trata de escrever um artigo, então, antes mesmo de escrever esse artigo sobre o episódio 2 de Kino, eu busquei tomar conhecimento sobre o anime antigo, além de ter conversado com diversas pessoas que também já assistiram a animação antiga. Sendo assim, creio que possuo o mínimo de credibilidade para fazer esse tipo de crítica. Além do mais, é mais que óbvio estar faltando algo nesse novo anime de Kino. Entretanto, isso não quer dizer que eu esteja achando o anime ruim, muito pelo contrário, eu estou adorando, mas também não posso ignorar certos probleminhas que podem ser vistos ali e aqui.

Assim como as imagens já estão indicando, neste episódio, Kino viajou para um país — com arquitetura claramente inspirada na Roma Antiga — onde um Rei louco — que aplicou um golpe para chegar até o trono — obriga os visitantes a participar de batalhas até a morte em uma espécie de cópia mal feita do Coliseu. No anime antigo, essa história envolvendo esse país é bastante icônica, pois é a única que é dividida em dois episódios; porém, no novo anime, algo estranho aconteceu, já que por algum motivo essa história foi comprimida em um único episódio, fazendo com que o desenvolvimento dessa história ficasse bastante raso e sem sentido em alguns momentos. Outra coisa bastante esquisita com relação a essa história foi que as batalhas da Kino foram todas levadas para um lado cômico, ao invés de mostrar o lado sério delas, excluindo todas as razões que cada oponente — que Kino enfrentou — teve para estar ali lutando — coisa que o anime antigo conseguiu apresentar de uma forma consideravelmente boa. Além do mais, aquele final onde a Kino apenas agiu como uma verdadeira sociopata perdeu todo seu verdadeiro significado com a execução desse episódio. Vendo a partir desse novo anime, eu posso afirmar que a Kino não teve motivo algum para fazer todo o público se matar ou sequer odiar o Rei. Certo, ela ficou irritada por conta daqueles dois viajantes, mas aquilo foi apenas uma desculpa esfarrapada para tentar dar um sentido para as ações da personagem.

Aliás, ainda comparando com o anime antigo, nos dois episódios gastos para desenvolver essa história em torno do Coliseu, uma parte da cidade — onde todos odiavam a violência vista no anfiteatro — foi apresentada, coisa que não foi mostrada — ou sequer citada — no novo anime. Outra coisa bastante importante é saber o real motivo para Kino ter feito aquilo no fim, de fazer todos caírem na porrada até a morte, que no caso, foi motivada basicamente por ódio mesmo. Todas aquelas pessoas que estavam lá — apenas querendo ver sangue sendo derramado — na verdade, é a parte da população que é rica e que tá pouco se lixando pra galera que tá morrendo na pobreza; só que nesse novo anime, essa ideia não foi apresentada, fazendo com que a Kino parecesse apenas uma sociopata qualquer. Bom, mais uma coisa que ficou meio jogada foi a Kino querer se vingar do Rei, coisa que não foi muito explorada no novo anime. Na animação antiga, o rei se intrometeu em uma das lutas da Kino, fazendo com que a garota ficasse bastante irritada com ele; além, claro, de todos os males que ele causava para o país.


Sendo sincero, neste novo anime, a história do Coliseu foi comprimida e apenas serviu para apresentar o Shizu. Sério, não tem outra explicação, esse episódio só foi feito assim para apresentar o Shizu. Creio que se o personagem não aparecesse nessa história, nem teriam refeito ela. O episódio em si não foi ruim, mas algumas coisas ficaram jogadas e no ar. E, claro, em comparação aos dois episódios da animação antiga, a história adaptada na animação nova definitivamente foi muito inferior.

  • Detalhes técnicos:

Como já expliquei no artigo de primeiras impressões, o estúdio Lerche — atual responsável pela animação de Kino no Tabi — não costuma fazer sakugas. Em contrapartida, o estúdio, mesmo com uma animação simples, prefere dar mais atenção à qualidade visual do anime. Sendo assim, diferentemente dos artigos de Kekkai Sensen, onde provavelmente comentarei algumas sakugas, com Kino no Tabi isso não será possível. Óbvio, caso alguma sakuga apareça em Kino no Tabi, farei até festa, mas por enquanto, apenas comentarei o que der com relação a animação do anime.

Apesar da animação simples, já deu pra perceber que visualmente Kino no Tabi está incrível. Acho interessante destacar o trabalho do Saori Gouda, que é o color design do anime. A coloração do anime realmente me agrada muito, pois as cores que foram escolhidas definitivamente combinam com a vibe que o anime quer passar.

Apesar de provavelmente ser ideia do diretor, existem algumas cenas — de mais impacto — onde tudo fica vermelho, que no caso, são cenas incrivelmente lindas; mais uma vez, Kino no Tabi consegue usar as cores ao seu favor (mesmo sem necessariamente ter dedo do Saori no meio).

  1. Concordo com tudo o que escreveste Nomichi. Eu não gostei da adaptação da parte do Coliseu nesta versão, eu como fã do Universo de Kino, achei uma merda (peço desculpa a expressão) aquilo que o Lerche fez na adaptação desta parte. No fundo o episódio, pareceu-me apenas que a Kino se quis vingar do rei e daquelas pessoas daquele pais, aquela frase final dela, deu a entender que a Kino era uma sociopata que apenas quis vingar o marido da senhora que apareceu no começo do episódio.
    Para mim o arco do coliseu na versão antiga, foi dos que mais gostei, a Kino ali foi completamente diferente da Kino desta nova versão. O rei a mesma coisa, o rei na versão antiga era um ser grotesco, nojento e psicopata e a versão antiga fartou-se de mostrar isso. Fora que o rei tinha um interesse especial pela Kino, ao ponto de lhe oferecer cidadania sem necessidade de ela combater mais, coisa que neste episódio não se viu. Os combates no coliseu na versão antiga, foram muito bons, tinha lá personagens com histórias e motivações sérias (como era o caso do pistoleiro e da mulher que usava um rifle conversível), mas esta nova versão, meio que fez os combates com um tom mais cómico, matando o clima dark que marcou quem viu a versão antiga. Não gostei do facto de cortarem o desenvolvimento do príncipe, na versão antiga salvo erro, este tinha contado a verdade à Kino antes do combate entre ambos, porquê esta nova versão cortou isto. Até parece que apressaram o episódio, se for para ser assim, nem vale a pena continuar a ver a esta nova versão.
    Nomichi, corrige-me se eu estiver errado, mas no final do arco do Coliseu da versão antiga, a Kino não fez uma lei, onde dizia que todos os que estivessem interessados no poder (neste caso as elites), estas deviam lutar entre sim e o vencedor passaria a ser o governante (atitude típica da Kino mais séria). Mas nesta nova versão, parece que a Kino perdeu a compostura e agiu por pura vingança, a desordem que ela causou no final com a sua lei, não a faz diferente do rei malvado e dos ricos podres que gostavam dos combates.
    A parte final da conversa entre o príncipe e a Kino ficou mais aos menos, só achei engraçado a discussão entre o cão falante e o Hermes.
    Excelente artigo de Kino no Tabi Nomichi.

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