Violet Evergarden – ep 5 – Se quer algo, vá e fale
Bom dia!
Nessa semana em Violet Evergarden a ghostwriter protagonista ficou tão importante que foi contratada para escrever uma carta de amor para uma princesa! E o equilíbrio político do continente dependia de seu sucesso! Se a máquina de escrever de Violet não fosse boa o suficiente o início de uma nova guerra não seria um resultado inimaginável. Mas como dizem, a pena é mais forte que a espada, mesmo se for uma pena mecânica operada por uma ex-veterana de guerra.
De princípio pode parecer um pouco forçado que Violet tenha sido contratada para uma missão tão importante, em primeiro lugar dado tudo o que vimos dela até agora. Apenas no episódio anterior ela se tornou capaz de escrever cartas competentes, mas ainda assim não especialmente notáveis, e sua língua solta com certeza parecia um risco formidável. Que tipo de incidentes diplomáticos catastróficos ela não seria capaz de causar? Mas a explicação simples vem logo no começo: ela já está trabalhando há meses. É verossímil que alguém como ela seja capaz de adquirir técnica (para escrever boas cartas) e disciplina (para manter a boca fechada) nesse espaço de tempo. A explicação completa vem depois: a princesa queria alguém com a sua mesma idade, com quem pudesse se identificar.
Qual idade, afinal? Quatorze anos. A nossa heroína ainda é uma criança! Exatamente como todos dizem desde o começo do anime, aliás. A aparência dela engana um pouco, mas vá lá, é verossímil. A Princesa Charlotte, por outro lado, não tem dificuldade nenhuma em passar por criança. Acreditaria até se me dissesse que ela tem menos de 14 anos. Mas isso é normal, não é? As pessoas amadurecem em ritmos distintos. A biologia não vem ao mesmo tempo para todo mundo. E ao mesmo tempo faz sentido narrativamente que uma ex-soldado aparente ser mais velha e madura que uma princesa. Então elas não têm nada em comum? A princesa deu azar em sua tentativa de se identificar com sua ghostwriter?
Eu argumento que não. Ela não foi para a guerra, vive uma vida bastante confortável, tem empregados só para ela e uma cama forrada de bichos de pelúcia – aquele tipo de brinquedo que a Violet rejeitou no primeiro episódio, tendo aceitado um só porque sentiu-se ordenada a fazê-lo, depois jogou-o no chão e de lá demorou a tirá-lo. Charlotte e Violet não poderiam viver em mundos mais diferentes, mas há uma coisa que elas têm em comum em suas experiências: nenhuma teve a opção de escolher seu destino. De formas diferentes, e implicando riscos diferentes (e, lógico, muito maiores para a Violet), tanto a princesa quanto a soldado nunca decidiram nada por si mesmas. A Charlotte de 10 anos foi forçada a começar a escolher um marido, e a Violet de 10 anos foi forçada a lutar na guerra. Seus campos de batalha são diferentes, mas nem uma nem outra o escolheram.
E há outra coisa que as conecta: o amor. Nenhuma delas entende muito bem o que é isso. Charlotte se impressionou com o Príncipe Damian no dia de seu aniversário de 10 anos, mas eu não diria que o que ela sentia então ou o que sente agora seja amor genuíno. O episódio parece reconhecer isso também, tendo se encerrado sem que nenhum dos dois digam “Eu te amo”. Ela se impressionou positivamente com ele e não conseguiu tirá-lo da cabeça, mas seu sentimento não deve ser muito mais do que curiosidade e atração física (ele é um príncipe bonitão e ela é uma garota passando pela puberdade, afinal). Violet tem sua própria história bem conhecida com o amor. Gilbert a amou, mas ela amou ele? Seria talvez só lealdade? Ou talvez apenas o afeto justificável por uma pessoa querida que cuidava dela? Ela quer descobrir. Essa é a história do anime, afinal.
Isso tudo o que vai acima é apenas o contexto em que a história do episódio se desenvolve. A Violet tem a oportunidade de mostrar o quanto avançou em sua habilidade como ghostwriter e escreve algumas peças formidáveis para Charlotte. Mas, por belas que fossem, aquelas cartas não pareciam vazias? Charlotte sentiu esse mesmo vazio na carta que recebeu de Damian, obviamente também escrita por ghostwriter. Isso a perturbou. Charlotte nunca teve escolhas na vida, mas pela primeira vez ela se esforçou para, dentro das suas possibilidades limitadas, escolher algo que ela pode: com quem se casar. Ela escolheu aquele príncipe bonitão que mostrou gentileza para a criança chorona que ela era quatro anos atrás (e quatro anos é um terço da vida de alguém tão novo; pense nisso por dez segundos e entenda porque ela se tornou tão obcecada). Mas será que ele se lembrava dela? Será que ele queria se casar com ela de verdade? Será que ele gostava dela?
Bom, ele provavelmente não gostava dela. Nem desgostava. Ela era, para todos os efeitos, só uma criança que ele encontrou chorando em sua própria festa de aniversário quatro anos atrás. Ele próprio era, como ele deu a entender no passado e como repetiu no presente, alguém meio “por fora” dos costumes da realeza. Não se sentia muito confortável com tudo isso, então certamente não estava se importando muito com esse casamento arranjado. Era algo que tinha que acontecer, se ele pudesse evitar evitaria, mas eventualmente acabaria casado e é isso aí. Ele sabia disso tudo. Suas cartas não seriam de coração nem se ele não usasse uma ghostwriter para começo de conversa.
Mas e se ele realmente não usasse uma ghostwriter porém tivesse a liberdade de escrever como realmente se sente? Foi nisso que Violet pensou. E ela deixou bem claro para Charlotte que aquilo era escolha dela. Não tenho dúvida de que Violet quisesse ajudar a angustiada princesa, mas ao mesmo tempo aquilo deve ter servido como um tipo de experimento para ela entender o que é o amor. Me pergunto se ela entendeu isso e se pensou nisso quando tomou a sua decisão. Sem o fardo da etiqueta burocrática, Damian escreveu de coração. E igualmente de coração Charlotte respondeu. Suas cartas impressionaram o povo por sua refrescante honestidade, e logo todos estavam investidos na história de amor entre os príncipes dos reinos de Drossel e Flugel. E mais importante, as cartas chegaram ao coração de quem deveriam chegar, e os dois se casaram. Não porque têm que se casar, não pela paz entre seus reinos e no continente, mas porque assim escolheram – ainda que nesse momento seja difícil chamar o que há entre eles de “amor”.
A princesa que parecia uma bonequinha guardada em meio a bichos de pelúcia no começo do episódio foi mudando ao longo dele, parecendo cada vez mais madura, até ao ponto de dizer para Alberta, sua criada pessoal e, na prática, mãe de criação, que já era “adulta” também. Em que pese eu ter severas reservas à ideia de uma criança de 14 anos se casar (ainda mais com um homem dez anos mais velho), contextualmente faz sentido e no final das contas ela conseguiu se casar com quem ela escolheu. O momento em que ela diz que já era “adulta” me fez sentir incomodado, mas não quero que isso atrapalhe a experiência.
A relação entre Charlotte e Alberta era singular e muito bonita, e em outro anime qualquer eu adoraria vê-la melhor desenvolvida. A Violet cresceu ao longo do episódio também, além de ter mostrado o quanto já havia crescido antes dele. No final, o reencontro com o irmão mais velho de Gilbert. Será uma deixa para o próximo episódio? De uma forma ou de outra, sinto que aquela cena final marcou um ponto de inflexão no anime, que talvez agora conte mais sobre o passado da Violet. Até semana que vem!