Violet Evergarden – ep 10 – Você é tudo para mim
Bom dia!
Eu continuo achando que o arco anterior, de queda e recuperação da Violet, foi um ponto fora da curva – e no mau sentido, já que sendo o arco mais importante do anime era de se esperar que fosse, de alguma forma, fora da curva.
Isso dito, esse décimo episódio só foi possível porque foi depois do “fim”. Violet Evergarden está de volta e melhor do que nunca!
Será que a Violet teve uma infância normal? Conheceu outras crianças? Teve uma família? Tenho vários motivos para acreditar que não, mas enquanto o anime não bater o martelo sobre o assunto sempre irá restar a possibilidade de eu estar errado. E isso é de especial importância para esse episódio, porque pode muito bem ter sido a primeira vez que a Violet interagiu com uma criança em toda a sua vida (bom, provavelmente ela interagiu com algumas desde que começou a trabalhar como ghostwriter, mas duvido que o tenha feito por tanto tempo com uma criança só). Isso tem seu valor em si, e é só o começo das semelhanças entre a Violet e a Anne – que também parecia não ter nenhuma outra criança com quem brincar. Não com frequência, pelo menos.
Esse episódio foi de espatifar o coração. Contado do ponto de vista da criança, logo no começo Anne diz que a chegada da Violet lhe parece uma “má notícia”, e na cena seguinte vemos sua mãe de cama com alguns abutres em volta, dos quais ouvimos coisas que parecem tratar do futuro da casa e da menina. Com certeza é uma má notícia, essa mulher está morrendo! E está escondendo da filha, o que é compreensível – como explicar o conceito de morte para uma criança de 7 anos? Uma que já perdeu o pai na guerra e que já deve ter sofrido um bocado para entender isso (a não ser que tenha sido quando ela era ainda muito jovem e não tenha memória nenhuma dele)?
Anne é uma garota sozinha no mundo, ela tem apenas a sua mãe, e ela vai morrer logo. Essa situação espelha a da Violet, para quem Gilbert foi também uma figura paterna. Gilbert era o mundo da Violet, e o mundo dessa garotinha é sua mãe. Apenas a Violet que já descobriu que o Gilbert morreu e teve que lidar com isso seria capaz de sentir verdadeira empatia pela Anne.
Violet já ajudou muitas pessoas antes, mas sempre foi por intuição (como no caso da princesa) ou intromissão (como no caso da Iris). Claro que ela sempre teve sentimentos, mas era difícil para ela entender os seus próprios, quanto mais os dos outros. O sentimento da Anne, por outro lado, ressonou imediatamente com a Violet, e por isso, conforme ela disse no final, precisou se segurar para não chorar enquanto fazia o seu trabalho. Alguém poderia dizer que “não pareceu” que a Violet estivesse se segurando, já que seu comportamento e sua expressão pareciam absolutamente normais. Mas ela estava normal mesmo?
É verdade que a Violet tem histórico de ceder aos seus contratantes e fazer mais do que o trabalho de ghostwriter pelo qual está sendo paga (e o episódio do dramaturgo é o exemplo mais claro disso), mas algo em mim quer acreditar que foi por empatia o tanto que a Violet desse episódio brincou e aturou a Anne e correu atrás dela no final. No caso do dramaturgo ela atendeu aos pedidos absurdos do artista para conseguir fazer o seu trabalho. Nesse caso, ela poderia ter ignorado a Anne e ainda assim conseguido fazer o seu trabalho, ou poderia ter dado menos atenção, ou poderia ter deixado que outra pessoa fosse buscar a Anne no final (não era da conta dela afinal).
Mas se você ainda tem alguma dúvida, considere apenas a cena em que a Anne briga com sua mãe porque revela que sabe que ela está morrendo e, poxa vida, se ela tem pouco tempo, a garota quer esse tempo todo para ela! Anne sai correndo da mesma forma como Violet correu quando Hodgins confirmou para ela que Gilbert estava morto. Violet a alcança, e para convencer a menina de que ela não tem culpa de nada (assim como a Violet já se convenceu de que não tem culpa de nada no episódio anterior), diz que ninguém poderia fazer nada a respeito de sua mãe. Não era culpa de ninguém. Assim como seus braços nunca poderiam ter uma pele macia como a da Anne.
Os braços da Violet representam suas cicatrizes de guerra. E de todas as coisas que ela perdeu na guerra, a mais importante de todas sem dúvida foi o Gilbert, mas isso não é algo que ela pudesse explicar para uma criança de 7 anos e esperar que ela entendesse. Falar dos braços, que já haviam despertado a curiosidade da Anne e que ela podia ver e entender ali, imediatamente, era muito mais eficiente. Anne não tinha culpa pela doença da mãe como Violet não teve culpa pela morte de Gilbert. As duas perderam tudo o que tinham no mundo, sofreram, e depois se recuperaram.