Bom dia!

Infelizmente, como o Kakeru informou em seu artigo sobre Legend of The Galactic Heroes, o CrossSylvia precisou afastar-se da equipe por razões pessoais. Desejamos o melhor para ele, sua falta será sentida, e tanto para honrar sua breve participação no Anime21 bem como para não deixar na mão os leitores que acompanhavam com ele seus animes incríveis, demos um jeito de continuar a cobertura de ambos.

Lá em Galactic Heroes, o Kakeru. E aqui em Megalo Box, eu, que já havia escrito as primeiras impressões do anime inclusive.

E começo já com esse par de episódios excelentes. O arco que contrapõe o velho discípulo ao novo discípulo. Os dois episódios são muito bons isoladamente, mas juntos … certamente passam longe de serem ruins, mas acho que vale a pena aproveitar a oportunidade para discutir o que aconteceu com a narrativa aqui à luz do formato seriado, de longe o mais comum em animes, muito comum também em programas para a TV em geral e cada vez mais comum em literatura (com séries de livros) e no cinema.

Todo o ponto desse arco era opor o Joe ao Aragaki. Claro que há outras coisas importantes, como a relação entre o Aragaki e o Nanbu, enormemente explorada no episódio 5, mas sejamos francos: o Aragaki provavelmente não vai mais aparecer no anime. Se aparecer, vai ser muito mais uma “participação especial” do que como um agente da narrativa de verdade. Seu propósito é servir de contraponto ao Joe, e sua relação com o Nanbu existe em função disso. O Aragaki tem um passado para justificar sua relação com o Nanbu e, consequentemente, sua relação indireta (e conflitante) com o Joe. No entanto, como ele foi um personagem apresentado apenas agora e como foi necessário revelar muita coisa sobre ele em relativo pouco espaço de tempo para que ele tivesse apelo suficiente para cumprir seu papel de forma verossímil, o Joe participa pouco do quinto episódio. Assim, ao olhar para os dois episódios como um conjunto, como um arco, ele acaba desequilibrado – e em desfavor do protagonista, que foi quem passou pela evolução relevante para a história.

Não obstante, cada um dos episódios foi em si muito bom. Não reclamo disso, não vou parar de assistir animes para TV ou parar de consumir qualquer outra forma de narrativa seriada. Apenas quis aproveitar que, por questões que fugiram ao meu controle, acabei escrevendo um artigo sobre esses dois episódios, sobre o arco inteiro, e me pareceu uma boa oportunidade para destacar uma das desvantagens da mídia através do exemplo tão bem dado por esse par de episódios. Mas chega de comentários meta-linguísticos.

Aragaki está no passado de Nanbu, literalmente e metaforicamente. Ele foi seu discípulo há muito tempo, antes de partir para uma guerra na qual seu treinador achou que ele havia morrido. Ele não morreu de verdade, mas uma parte dele morreu, sim. Aleijado, sem mais perspectiva de lutar como tanto gostava, e ainda por cima abandonado por seu ex-mestre a quem tanto respeitava e que havia lhe prometido um lugar para voltar, cogitou matar-se de uma vez por todas. Um bilhete de aposta, uma promessa boba mas cheia de afeto, o manteve vivo. Carpediem, “aproveite o hoje”, era o nome do cachorro em quem Nanbu apostou – e perdeu. A aposta no “hoje” foi o que manteve Aragaki vivo, sempre lutando pelo “amanhã” que seu ex-mestre lhe dizia que ele alcançaria se continuasse lutando mas no fundo sem jamais ter conseguido se livrar de seu passado.

Joe é o amanhã. Enquanto lutava apenas para viver cada dia de uma vez, um depois do outro, ele também queria morrer. Não era suicida, mas não tinha apreço nenhum pela vida – por isso ele voava com sua moto através do deserto e além de penhascos. Nunca morreu. Nanbu jamais disse para seu novo discípulo que ele tinha um “amanhã” ou que deveria lutar por isso. Ele vivia um eterno “hoje”, estagnado, sem futuro. Até que enxergou a oportunidade e, irresponsavelmente, correu em sua direção. Isso poderia e ainda pode acabar lhe custando a vida, mas ele não é mais alguém que não se importa em viver. É bem o contrário: ele faz o que faz porque tem muita vontade de viver. Essa vida que ele tem hoje é uma vida que vale a pena viver porque ele consegue ver o amanhã além do horizonte – ele só precisa continuar seguindo em frente.

Foi nesse momento que Joe percebeu que Aragaki não lutava por vingança

Aragaki já havia aprendido tudo o que havia para aprender com Nanbu, e foi além. Joe ainda tem muito a aprender, mas não dá ouvidos ao treinador tanto quanto deveria. Não que nessa luta em particular fosse ajudar: assustado e sobrecarregado pela culpa, Nanbu tenta de todas as formas fazer com que Joe desista. Joe já aprendeu que ele não está lutando sozinho, que ele faz parte de uma equipe, na luta contra Samejima Shark, mas sua equipe está incapacitada de ajudá-lo hoje. Aragaki deixa as emoções roubarem o melhor de si e se lança contra Joe em uma tentativa de decidir de uma vez por todas quem está certo: o passado ou o futuro? Ele estará satisfeito com qualquer resultado, e qualquer resultado obtido com essa imprudência será desastroso para pelo menos um dos dois.

E nesse embate entre o passado e o futuro, entre aquele que já aprendeu tudo e aquele que ainda tem muito a aprender, é Joe, o normalmente imprudente, o que só olha para frente, o rebelde, que se lembra das lições básicas. Das palavras que seu treinador não consegue pronunciar naquele momento. Ao fazer o que ele tem que fazer, ao lutar para ter um amanhã, em oposição a lutar para acertar contas com o passado, Joe inspira. Nanbu se acalma e volta a enxergar o caminho para o amanhã. Aragaki cai em si e percebe que está sacrificando seu futuro em nome do passado. A luta não pode mais continuar, mas nem precisa – e, acredito, foi melhor assim, ainda que anti-climático. Joe já era o futuro antes mesmo de pisar naquele ringue, afinal.

Acabou

  1. Põ uma pena o que ocorreu com o Cross esperamos que lhe esteja tudo bem..,Mas Mega continua surpreendendo está caminhando para o seu climax (logico a luta com o Yuri) e não vai decepcionando pelo caminho…Que que é isso torcida brasileira!!!

  2. Estes dois episódios (5 e 6), eu não consigo encontrar palavras para os descrever, de tão bons que foram.
    Antes de avançar, é uma pena o CrossSylvia não poder continuar a comentar este anime, mas por sorte os artigos de Megalo serão continuados pelo mestre Fábio.
    Começando pelo episódio 5, que episódio magnifico. Nos primeiros minutos do episódio, julgava que estava a ver o anime errado, mas não, aqueles primeiros minutos serviram para introduzir o melhor personagem deste anime até ao momento. Poucos são os animes que utilizam o cenário de guerra de forma verossímil e o episódio 5 de Megalo, mostrou como se faz uma demonstração de guerra urbana quase ultra-realista. O Aragaki, parecia ser um soldado de respeito no seu pelotão e parecia um soldado já experiente, mas ele foi cair no erro de mexer num cadáver por causa do bebé que a estava debaixo dele, nunca se deve fazer isso num cenário de guerra urbana, as crianças e mulheres nesse contexto só servem como engodo para a morte. Quando no episódio 5, mostrou a explosão do dispositivo anti-pessoal caseiro, deu dó do Aragaki, naquela situação ele poderia ter sido morto na hora. Quando o Aragaki apareceu para o Nanbu e começou a falar nele e o que se tinha passado, eu não senti ódio ou raiva a emanar dele, ele apenas estava revoltado consigo mesmo e de certa forma pelo Nanbu (pois este, meio que o traiu, quando fechou o ginásio, onde o Aragaki treinava). Ainda na conversa entre o Nanbu e o Aragaki, eu entendi na hora, que quando o Aragaki disse que iria arrebentar com o Joe, ele não o ia fazer por ódio e sim, porque queria mostrar as suas habilidades para o seu primeiro treinador e de quem aprendeu tudo. A parte em que o Joe, foi confrontar de forma amistosa o Aragaki, para mim foi dos pontos fortes do episódio, foi como se víssemos dois completos opostos a conversarem calmamente e a apostar de quem seria a vitoria.
    Antes de terminar o comentário do episódio 5, tenho que destacar que este episódio tem a demonstração mais verossímil do monstro que é o PST (Stress Pós-Traumático), nos soldados e veteranos que regressam da guerra. A parte em que mostra o Aragaki a quase sucumbir ao mostro do PST, deu uma agonia, misturada com pena e sofrimento pelo personagem. O Aragaki tentou superar esse monstro a todo o custo (aqueles ingressos que o Nanbu deu a ele, antes da partida para a guerra, ajudou um pouco) e a devoção dele pela luta, também o ajudou a superar os seus medos e receios. Tenho que destacar, que o ginásio dos veteranos de guerra, é a excelente demonstração da importância desses lugares, para os soldados que regressam incapacitados fisicamente ou mentalmente (esses lugares, podem ser fulcrais na vida de um soldado que ficou incapacitado na guerra, esses lugares ajudam imenso a reinserção dos soldados na vida civil em muitos casos). O episódio terminou com um gancho interessante e que o episódio 6, cumpriu com louvor.
    Agora o episódio 6, ele começou de forma malandra, quem viu o começo da luta entre o Aragaki e o Joe no final do episódio 5, sabe que o Aragaki tem um ponto fraco, por causa das próteses nas duas pernas e o episódio 6, depois da abertura, mostra uma imagem de uma das próteses do Aragaki cheia de sangue, que rico spolier que essa imagem foi.
    Passando para a luta, já era de imaginar, que o Aragaki mesmo sendo um perito das artes que o Nanbu lhe ensinou, ele tinha tudo contra ele (principalmente o tempo), estava na cara, que ele não iria aguentar tanto tempo no ringue, contra um teimoso e persistente como o Joe. A Luta entre os dois foi boa, mas lá no meio, aquilo já era uma luta de atrito, com ambos os lados desesperados pelo fim do round. Eu não estava a apoiar nenhum dos dois, mas deu uma tristeza, quando o Aragaki começou a mostrar sinais que algo de errado se passava com as suas próteses, ele como lutador veterano, merecia ter durado mais um pouco. A atitude do Aragaki e do seu treinador, em desistir, foi bem sensata e digna de respeito, aquela luta foi a última luta de uma carreira cheia de vitórias, não valia a pena o Aragaki ficar incapacitado para sempre. por causa de uma última luta. A parte do balneário também foi muito boa, a última conversa entre o Aragaki (aprendiz) e o Nanbu (treinador), além de emocionante, serviu para deixar as mágoas para trás. Ainda nessa cena, a parte do flashback do bilhete, foi tocante, ver o Aragaki em total desespero, porque tinha perdido tudo e estava a ser assombrado pela PST, custou imenso e a expressividade do seiyuu nesse momento, ainda deixou a cena mais emocionante. O Aragaki, com certeza é dos melhores personagens de suporte que já vi, o desenvolvimento dele, foi nota 10.
    Como sempre, mais um excelente artigo Fábio.

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