Dakaretai Otoko 1-i ni Odosarete Imasu – Primeiras impressões
Não sou mesmo um especialista em animes shounen ai, mas sempre tive interesse em assistir um – antes só tinha assistido o curta Taishou Chicchai-san – e posso afirmar que dei sorte nessa primeira vez, porque, apesar dessa estreia ter tido seus probleminhas de forma, a qualidade de produção e o bom roteiro me agradaram bastante. Eu nunca entendi porque os japoneses só conseguem retratar relações homoafetivas de forma abrupta – talvez venha dos autores acharem que o consentimento logo de cara não é atrativo ou não é comum para esse tipo de relação –, mas nessa obra o problema foi suavizado, o que me fez ter uma melhor impressão dela. É hora de shounen ai aqui no Anime21!
Na trama acompanhamos Takato Saijyo, um ator que começou ainda na infância e é um dos maiores galãs da atualidade, sendo extremamente obcecado pelo seu sucesso; e Junta Azumaya, ator que só está na indústria há três anos, mas já “tomou” um primeiro lugar de Takato e terá seu primeiro papel como protagonista de um dorama. Até aí tudo bem, se Takato não fosse obcecado pelo estrelismo…
Quando o Takato fica sabendo que ele não é mais o cara que as mulheres mais querem abraçar o seu complexo de inferioridade ataca com tudo e ele pensa em devorar o kouhai com todas as suas forças – aliás, acredito que essa forma carnívora de falar não esteja tão distante do que realmente acontece nos bastidores do ramo da atuação –, o que ele não esperava é ter que atuar no mesmo dorama que Junta, e também agir como um senpai gentil e conselheiro – o que depois ele demonstra mesmo ser.
Confesso que vi o anime sem tanta atenção e não me dei conta de que o título já deixava claro que o atual número um era quem assediaria o número dois e não o inverso, tanto é que pensei que o Junta sofreria nas mãos do Takato, mas gostei de ter me enganado não só pela surpresa de ver o senpai ser aquele a ser devorado quando era ele que queria devorar, mas pelo que de interessante isso rendeu.
Junta nutre verdadeira paixão por seu senpai, mas tanto que isso se tornou desejo carnal – e porque não afirmar que é uma paixão? –, que o leva a se atirar para cima do seu ídolo e tirar uma casquinha dele. Não vejo problema em um cara se declarar para outro, pelo contrário, o problema é assediá-lo.
E ainda que o Takato não evite o beijo, a reação dele antes e depois desse momento deixa bem claro que não é de sua vontade transar com o colega de profissão. Na verdade, ele foi pego de surpresa na situação e não soube direito como reagir por um momento – e isso é bem compreensível –, mas não é por meio do abuso – de uma possível chantagem usando as gravações “comprometedoras”? – que eu quero ver essa história se desenvolvendo. Felizmente, não há chantagem de fato – ou ainda não – e, ao menos nesse primeiro momento, o sexo sem consentimento não teve chance de subir ao palco.
Esse trecho todo foi melhor trabalhado do que eu esperava, e rendeu posteriormente algo bem legal, pois, mesmo com a vergonha pelo que havia acontecido horas antes o Takato foi capaz de aconselhar novamente o Junta, fazendo seu papel como um senpai que transmite sua experiência de bom grado.
Gostei bastante da forma respeitosa com a qual a atuação foi tratada na estreia, mas não espero que se dê grande foco a isso, o que não é problema se continuar parecendo que eles são profissionais no que fazem – em suas vidas privadas eles podem até agir mal caso não interfira na seriedade do ofício.
Depois desse momento mais sério – ainda que com direito a kabedon, a famosa prensada na parede, que foi um belo fanservice – o Junta entra em rompante e aí é o desejo que impera, fazendo o rapaz avançar outra vez para cima de seu ídolo, mas dessa vez se declarando – ainda que em “transe” pela excitação que estava sentindo. A cena de pedido para transar foi tão estranha – o normal não é pedir em namoro? – que não tive como não achá-la cômica e também de alguma maneira “problemática”.
Minha expectativa era de que eles não transassem agora, que primeiro desenvolvessem uma relação e só aí partissem para o ato final. Porém, não posso deixar isso interferir no meu julgamento, porque o que vale é o quanto daquilo foi realmente consentido e o quanto foi forçado. Pareceu que o Takato aceitou os sentimentos – mais libidinosos do que românticos – do colega, mas será que o tempo que eles passaram juntos foi suficiente para passar a ideia de que a transa foi sim por vontade de ambos?
A prévia indica que o Takato se apegou ao Junta e quer repetir a dose, o que incomoda porque acaba caindo no clichê do “ele forçou a barra uma vez, mas agora eu já gosto”. Acho que o meio termo para isso seria melhor. Por exemplo, eles transam algumas vezes e aí os dois acabam se apegando a transa e ao outro, para só daí haver um distanciamento por motivo X. Na verdade, até pode ser isso, nós só saberemos no próximo episódio. Mas, apesar do que escrevi, a forma cômica e menos abrupta como tudo ocorreu não me incomodou em demasia como em outras obras com relacionamentos abusivos.
Torço para que o relacionamento deles não acabe um jogo de chantagem desagradável, pois não foi isso que me pareceu. Não houve qualquer tipo de ameaça, ainda que o Junta tenda pedido por sexo.
Outro detalhe que gostei foi da transa ter sido omitida, não porque isso me chocaria, mas por querer vê-la apenas quando os personagens tiverem certeza dos seus sentimentos, quando a relação for de verdade – mesmo que seja um namoro escondido. Será uma pena se o anime não chegar a tal ponto.
Antes de acabar, preciso destacar a minha satisfação com a produção. A qualidade da animação está ótima – está muito bonito até para um anime que não exigi muito nesse quesito –, e a trilha encaixou bem com a proposta. Os dubladores também atuaram muito bem – até mesmo lá dentro do dorama.
Dakaichi é adaptação de um popular mangá yaoi feita pelo estúdio CloverWorks – que recentemente se separou do estúdio A-1 Pictures, mas responde a Aniplex, então a mudança foi mais formalidade – e em sua estreia não fugiu da abordagem comum ao gênero, mas soube trabalhá-la em um tom bem menos incômodo. Se o anime continuará assim ou melhorará só o tempo irá dizer. Por ora, peço que se você, caro(a) leitor(a), for assisti-lo tenha em mente do que o anime trata e o que ele vai mostrar.