Bom dia!

A animação do primeiro episódio não foi exatamente o melhor que a indústria tem a oferecer, mas a do segundo episódio foi um show de horrores.

Comitês de produção estão cientes da “regra dos três episódios” e por isso costumam investir especialmente nesses, o que causa um efeito colateral conhecido como “maldição do quarto episódio”. O quê, você não sabe o que essas expressões significam?

Se souber pule para o parágrafo seguinte. Se não souber, é bem simples: Regra dos três episódios é um comportamento informal adotado por muitos fãs que assistem animes de temporada para decidir se continuam assistindo ou não. Basicamente, se os três primeiros episódios agradarem, continuam, senão, já era. Maldição do quarto episódio é a queda na qualidade da produção que afeta muitos animes cujos três primeiros episódios são produzidos com cuidado extra, mas a partir do quarto já nem tanto. Em animes afetados a qualidade costuma voltar, quando volta, no arco ou nos arcos finais.

Akanesasu Shoujo veio para essa temporada com uma notícia boa e uma ruim. A boa: ele não sofre da maldição do quarto episódio. A ruim: ele sofre é da maldição do segundo episódio mesmo. Como aquilo foi horrível!

Em termos de história eu ainda não sei avaliar. Me parecia muito mais interessante no primeiro episódio, que tinha foco especial na protagonista, mas assim que o foco foi deslocado dela, no segundo episódio, boa parte do encanto se desfez. Ainda assim, bem, aqui estamos!

 

Um tombo de qualidade

Um tombo de qualidade

 

Eu ainda não estou decidido se a mecânica da viagem entre planos desse anime me convence. Eu acho que sou como a média das pessoas: quando não tentam explicar demais, não exijo demais, mas quando se dão ao trabalho de explicar eu posso ser bastante severo com coesão e verossimilhança.

Em Akanesasu Shoujo há múltiplas dimensões paralelas, e elas surgem umas das outras, em uma árvore sempre crescente. Novas dimensões nascem das várias possibilidades a partir de um único instante de uma dimensão original. Para visualizar isso, imagine um jogo que te permite tomar decisões para seguir por rotas pré-definidas. A cada ponto de decisão, nascem tantas dimensões quantas são as opções possíveis naquele ponto. Todas as alternativas, pois, coexistem.

 

 

É possível viajar entre as dimensões através do Ritual 4:44, aquela coisa usando um rádio que sabe-se lá como elas tomaram conhecimento – e elas nem achavam que funcionasse ou sequer fosse sério. Apenas deu certo um dia. Suponho que exista um conjunto de dimensões onde esse ritual funciona, talvez?

Tudo o mais além disso é inconsistente. Quero dizer, estou exagerando. Não há informação suficiente para concluir pela consistência ou a falta dela ainda, apenas me soa estranho.

As dimensões podem ser perturbadas e destruídas. Não só isso é possível como tem alguém por aí dedicado a fazer isso, mandando enviados seus para destruí-las.

Aquele é o único jeito de destruir uma dimensão? Todas podem ser destruídas? Como exatamente elas estão sendo destruídas? Bom, essas são perguntas que o anime ainda responderá, suponho.

Mas ainda teve outra coisa que me incomodou: nesse arco, Nana foi a primeira a ir para a nova dimensão e por isso se fundiu com a Nana que lá existia. Supostamente, isso é uma “regra” da viagem inter-dimensional. Mas então por que a Asuka não se fundiu com a Asuka no primeiro episódio? E como a Asuka viaja entre dimensões evitando isso? Mais perguntas para o anime responder.

 

 

Mas não nesses dois episódios. Neles assistimos a um arco de auto-descoberta da Nana, a garota que é meio tsundere e usa maria-chiquinhas para mostrar isso visualmente.

Ela meio que acompanhava todas as atividades do Clube de Pesquisa de Rádio das garotas mas não fazia parte dele. Na verdade ela gosta muito de rádios, mas não queria dar o braço a torcer.

Você vê, ela tem uma triste história para justificar isso. Seu pai gostava muito de rádios e queria que ela fosse como um rádio quando crescesse. Não me pergunte. Para mim rádios são papagaios eletrônicos que sintonizam ondas eletromagnéticas e as reproduzem como ondas mecânicas. Mas para ele rádios têm algo a ver com saber escutar os dois lados para tomar suas próprias decisões. Então tá.

 

 

Para ser honesto, ele se referia apenas aos cristais do rádio – no caso, embora a versão que eu assisti chamasse a coisa de “rádio de cristal”, aquilo se chama na verdade rádio de galena. Ele usa um diodo de galena – que é o cristal, no caso do modelo do anime. O grande papel do diodo (qualquer diodo) é deixar a corrente passar em uma só direção. Daí o papo de lado positivo e negativo, mas isso não tem nada a ver com “escolha”, já que um diodo sempre “escolhe” a mesma direção. Enfim, estou só sendo chato porque … hmm, porque sim? É, estou sendo chato porque sim porque a ideia de comparar a filha a um diodo parece idiota pra caramba mesmo.

 

 

Mas ela era só uma criança, então Nana era idiota (por falta de ter aprendido melhor, não é nenhum demérito dela não saber o que é um rádio de galena com sete anos de idade). E o pai dela morreu, o que faz de mim um idiota por ficar zombando do amor de um pai por sua filha. O amor torna as pessoas idiotas, afinal. O fato é que o pai dela morreu e ela tinha essa conexão entre ela, o pai, e rádios pré-históricos.

E ela tem um novo pai. Crianças podem ter muita dificuldade em lidar com padrastos ou madrastas. Como vemos no anime, o padrasto da Nana só queria seu bem, mas ela nunca lhe deu uma chance. Ao invés, ela se tornou rebelde, e ao melhor estilo tsundere, ficava tentando chamar atenção com coisas como tirar notas ruins na escola.

Menina, não faz isso. Um dia você não vai mais morar com seus pais mas a burrice de ter estudado meia-boca vai ficar pra sempre.

Ainda bem então que ela pôde conhecer sua versão de outro mundo! Isso permitiu a ela olhar para si mesma e para sua família de uma forma diferente, consciente, entender seus erros, e também conhecer melhor seu padrasto. Que é um cara legal de verdade.

 

Agora está tudo bem

Agora está tudo bem

 

Nana teve um privilégio que ninguém tem na vida real. A única forma de nos distanciarmos de nós mesmos é ao longo do tempo. Sabe quando você pensa em retrospecto sobre o passado e percebe onde foi que errou? Ou fica em dúvida se não seria melhor ter tomado uma, presta atenção no tema do anime, decisão diferente?

Mas o passado já passou e não há nada que podemos fazer de verdade. No máximo, podemos mudar nossas perspectivas de vida e mentalidades para tentar tomar decisões melhores no futuro, mas o estrago que já está feito já está feito. No mundo de Akanesasu Shoujo Nana teve a oportunidade que muitos de nós matariam para ter: olhou para si mesma de longe, no presente mesmo.

E acho que o anime vai seguir nessa toada, não é? Cada uma das garotas vai ter sua oportunidade, cada uma a sua maneira, de olhar para si mesma viajando para outra dimensão e com isso tentar se tornar uma pessoa melhor, ou mais feliz, menos arrependida, que perde menos tempo na vida, etc.

Isso é legal. Mas veja como a profundidade toda da história da Nana foi achatada para caber em dois episódios. E como isso ainda foi contado através de um casamento arranjado esquisito que parecia ser o foco, mas não era, porque apesar da decisão que Nana chegou a tomar em dado momento, nunca foi possível: o noivo não era humano, afinal.

Acrescente a isso as cenas de ação e as explicações sobre a mecânica desse mundo e toda a complexidade potencial da situação da Nana foi contada em poucos minutos, super-resumida.

E não tenho motivo nenhum para acreditar que vá ser melhor com as outras. Provavelmente apenas a protagonista-em-dose-dupla escape dessa maldição e tenha uma história um pouco mais profunda.

 

 

Ou será que não?

Eu quero acreditar que estou errado, mas me parece, pela animação de abertura, que o irmãozinho desaparecido das Asukas (o de uma delas, ou o das duas, ou o de todas que existem em todo o multiverso?) é o rei maligno que quer destruir todas as dimensões.

Ele é só uma criança, então aposto que está sendo manipulado. Alguém chegou nele e deve ter dito algo como “está vendo como te abandonaram? não te dá vontade de destruir esse mundo??”.

E isso pode ser ok para um enredo de ação, mas para um drama? Eu duvido. Mas vou continuar aqui até o final, e conto com você de volta semana que vem!

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