Kaze ga Tsuyoku Fuiteiru – ep 4 – A maldição de estar no topo
Bom dia!
Estou correndo atrás mas estou quase alcançando o ritmo da temporada. Será que consigo me qualificar antes dela acabar? 😛
Nesse episódio Kaze Fui revelou em linhas gerais o passado traumático do Kakeru. Tem a ver com seu ex-treinador sim, mas é um pouco mais complicado do que ele ser apenas um treinador abusivo.
O ex-trainador do Kakeru é na verdade um dos piores tipos de pessoa abusiva. Ele é daquelas pessoas que é legal e abusiva, a depender do que ela espera de você. Assim, como o Kakeru era de longe o melhor corredor da equipe, ele era legal com o protagonista. E era abusivo com todos os demais.
É claro que isso não tinha como dar certo.
Se a equipe inteira fosse mais ou menos do mesmo nível Kakeru provavelmente não sofreria, mas sua desgraça era estar muito acima. Até hoje pelo menos um de seus ex-companheiros, o Sakaki, guarda rancor dele – aquele a quem fomos apresentados no episódio passado e que tem a cara altamente socável.
Descobrimos que a cara socável do Sakaki não é apenas enfeite: em um ocasião ainda indefinida, mas que vou supor ter sido a gota dágua e o momento em que o Kakeru abandonou a equipe, Kakeru efetivamente socou a cara dele. Bom trabalho, Kakeru!
Acredito que o comportamento de seu ex-treinador ajude a explicar a hesitação do Kakeru com o Haiji, que está fazendo as vezes de “treinador” para o resto de sua nova “equipe”. Ele parece muito legal agora, mas o ex-treinador do Kakeru também era legal com ele, então vai saber, não é?
Gato escaldado tem medo de água fria. Oh, puxa, a aposta no banho público deveria ter sido nesse episódio, daí esse ditado faria muito mais sentido. Enfim.
Em termos gerais, o problema do Kakeru é a solidão causada por ser o melhor. Ele chegou no topo, e lá não tem mais ninguém além dele. Em sua ex-escola, quando olhou para baixo os demais acharam que estavam menosprezando-os e passaram a ser hostis contra ele.
Esse é um tema mais ou menos comum em histórias que lidam com talento, seja artístico, esportivo, de qualquer tipo. Na temporada passada alguns arcos de Shoujo Kageki Revue Starlight, um anime sobre garotas que querem ser artistas de teatro, tocaram nesse assunto. Em particular, esse parecia ser o conflito principal da personagem Maya, a melhor de todas as atrizes em treinamento.
A solução que Kakeru encontrou, porém, foi desistir do topo. Uma vez no alto só se pode descer, e ele desceu sem olhar para trás, planejando nunca mais subir.
Provavelmente o problema que ele viveu poderia ocorrer em qualquer equipe em qualquer parte do mundo, cumprindo-se os requisitos de um mal treinador com aquele tipo de comportamento e um único atleta com desempenho notavelmente superior aos demais, mas não estamos tratando de qualquer parte do mundo, é no Japão que Kaze Fui se passa. E no Japão isso é muito pior.
Há um ditado japonês que diz: o prego que se destaca é martelado.
A ideia é que se você chama atenção, não importa por quê, vai sofrer. Se estiver muito abaixo da média, dirão que você não se esforça, atrapalha os outros e é uma vergonha para sua família. Se estiver muito acima, que é convencido, que quer se exibir, que se acha o maioral.
Apelando mais uma vez a uma comparação a um anime da temporada passada, em Chio-chan no Tsuugakuro, uma comédia, a personagem que empresta seu nome para o título, Chio, é muito boa em esportes e tem algumas outras habilidades acima da média também, mas escolhe não exibir isso para não chamar atenção de ninguém. Ela se esforça para parecer sempre pouca coisa abaixo da média.
Parece ser esse o tipo de vida que Kakeru pretendia levar agora. Na média ou pouco abaixo dela. Se misturar na multidão. Não chamar atenção. Por isso entrar em uma equipe de atletismo de novo era absolutamente a última coisa que ele queria. Muito menos uma que fosse super amadora e na qual ele se destacasse ainda mais.
Sakaki, que apareceu mais uma vez para checar o protagonista, descobriu a verdade sobre a equipe patética da qual Kakeru agora faz parte. E em que pese eu querer socar a cara dele, totalmente entendo se ele tiver pensado que o ex-colega estava só procurando mais uma equipe para se destacar de novo, e de preferência se destacar mais ainda.
Ironia das ironias, nessa interpretação alucinada, ao se cercar de atletas muito ruins, o próprio Kakeru teria piorado. Sakaki zomba dele e de todos. Aí ele foi longe demais.
Kakeru podia ainda não estar convencido a competir, mas não tinha nada pessoal contra nenhum de seus novos colegas, e escutar o Sakaki zombar deles quase, quasinho, o fez socar o cara-de-me-soque de novo. Foi uma pena que ele tenha sido impedido.
Mas isso inflamou a todos. Não só o Kakeru, por conta de seus motivos, ainda não estava convencido a participar. Yuki estava até então determinado a pular fora na primeira oportunidade e continuava tentando pensar em como convencer os demais a seguirem-no.
E quando o deboche já estava começando a se tornar a maior força de coesão da equipe de amadores reunida pelo Haiji, eis que o pior deles se levantou. Todo mundo ama torcer por Davi contra Golias, não é? Por isso é tão satisfatório assistir o Príncipe despejar a sua fúria dos justos contra Sakaki.
O antagonista pode não ter entendido nada, mas a gente entendeu e todos os rapazes ali entenderam também.
E é isso, agora eles têm um objetivo: treinar para se qualificar para a Hakone Ekiden.
Não vai ser fácil para eles, mas nós aqui vamos acompanhar cada um de seus passos rumo à linha de chegada. Até semana que vem!