Você, caro(a) leitor(a), pode anotar isso e me cobrar depois, esse vai ser o melhor episódio do anime de Tokyo Ghoul:re pelo simples fato de que mal teve luta – e até a que teve foi surpreendentemente boa – e que, apesar de várias coisas terem acontecido, a trama deu um respiro e se organizou para o que está a caminho. Quem eu deveria odiar? Não a produção desse anime, ao menos não dessa vez!

O episódio começa com o Kaneki acordando em um lugar desconhecido, mas estranhamente familiar e aconchegante – além de terem cortado uma luta que, na real, não era lá muito relevante –: o café do :re.

Não, não é o mesmo que a Anteiku; mas, ainda assim, se quem estava lá também está no :re, como não dizer que se trata do mesmo lar? Do mesmo ambiente no qual ele aprendeu a viver como um ghoul?

Ainda que a trama avance sem tantos detalhes, dá para entender como o Kaneki se sentiu em casa ao ir para o café e lá começar a tornar realidade o desejo de seu pai: unir humanos e ghouls.

Para isso, formar alianças com os vários ramos do submundo ghoul se fez necessário, então não é de se estranhar a reunião com os órfãos da Aogiri, o problema é isso acontecer sem previa reflexão por parte do Kaneki ou, no caso, sem isso ter sido mostrado em tela.

Além disso, faltou uma conversa a sós com a Touka e um momento de reaproximação com seus antigos companheiros de Anteiku, mas acredito que isso pode ser deixado de lado por ora – diferente da luta da Mutsuki que deve ter um flashback sacana episódio que vem para retratá-la – para concentrar tempo e esforços na formação da organização Goat – qualquer referência a’O Ovo da Cabra Negra, livro escrito pela Eto e que foi o que aproximou a Rize do Kaneki, não é coincidência – e na recuperação e amadurecimento da Akira.

Mas, antes de focar na loira que não é a do Tchan, devo comentar três ótimas cenas que ajudaram a reforçar a possibilidade de entendimento entre os dois lados e como isso já estava sendo germinado desde o começo da história – me refiro aos animes de 2014 e ao de 2015, apesar do último ser meio que uma linha do tempo alternativa.

O Rei de Um Olho e seus Generais de Óculos, Franja e Cavanhaque!

Infelizmente, a subtrama da vingança do Yomo foi praticamente ignorada anteriormente, mas era algo que dava para compreender com o que contaram nesse cour.

A anexação do Esquadrão 0 do Arima a Goat até poderia ter causado algum problema, mas não é o que ocorre, pois, o Hirako sabe o que está fazendo. Ele tem uma compreensão sobre o ciclo de ódio que afeta a ambos, humanos e ghouls, e como muitos dos conflitos que houveram nele não podiam ser evitados.

Não é porque o Arima tinha uma aliança com a Eto que ela ia parar de matar humanos e ele ia parar de matar ghouls. O resultado desse contrato entre reis visava reflexos no futuro, pois no momento não havia como parar a guerra entre os dois lados. Contudo, tentar compartilhar da dor do outro o quanto fosse possível era a intenção deles.

Por isso que o Hirako e o esquadrão O se uniram ao Kaneki, para fazer o que fosse possível por esse diálogo, mas tendo a noção de que não é somente com palavras que humanos e ghouls vão se entender, nem que isso vai acontecer da noite para o dia.

Quando é a hora do cafezinho todo mundo vira amigo de novo! Tipo Carnaval depois de Eleição…

A segunda cena foi a luta do Kaneki com o Naki, algo que deveria mesmo acontecer devido a derrota do Yamori no passado e a forma como os White Suits resolvem as coisas – sensata para criaturas que dependem de suas forças. Simples e direta, é verdade, mas até bem eficiente, pois o rei não recuou a investida do líder do grupo, como também não deixou de oferecer uma mão amiga.

Mais uma vez os White Suits serão indexados a uma organização maior, só que dessa vez a uma que quer coexistência e não somente a sobrevivência pela imposição da força, o que prova que, apesar de sua política, não é a morte dos humanos que o Naki quer, mas sim uma vida melhor para ele e os seus companheiros.

Espero que existam mais ghouls como ele, que, apesar de não serem tão inteligentes, são sensatos o suficiente para alçar voos maiores que apenas o paradigma que a sociedade impõe aos ghouls. É daí que ao menos o diálogo vai se tornar possível, já o que vai sair dele ainda é cedo para prever.

Eu admiro o modo de viver do Naki do fundo do meu coração!

A outra cena, e essa também muito boa, que quero comentar antes de chegar na Akira, é a do Amon com seu mano de longa data, o Tapa-olho-kun.

O Kaneki não evitou matar investigadores por acaso, né? Claro que ele não poderia adivinhar que um dia lideraria uma organização que pregaria a coexistência, mas ele ter vestido essa carapuça agora só faz sentido pelo que ele fazia no passado ao buscar não matar humanos, e evitar até matar ghouls se fosse possível.

O discurso do Kaneki não é manchado pela, ou ao menos ainda não foi, hipocrisia; diferente do dos Washuu – que vendiam a cura e eram a doença.

Quem não esperava por essa conversa entre eles?

A conversa honesta dele com o Amon foi excelente para humanizar o Kaneki no meio disso tudo, pois agora ele é um rei, ele é o porta-voz da classe oprimida que vive em Tokyo, só que ele também é um jovem que após ter passado por várias reviravoltas na vida só deseja proteger quem ele ama.

Calhou da maioria das pessoas com as quais ele se importa serem ghouls, porque ele se tornou meio-ghoul e foi obrigado a mergulhar de cabeça nesse mundo. Então faz sentido ele tentar fazer o mundo que era o dele entrar em acordo com o mundo que passou a ser o dele, afinal, o Kaneki não é o monstro que a opinião pública deve pintar nesse ponto da história, além de que isso pode ser benéfico a quem ele deseja proteger, ao lar que é o dele agora.

Por isso ele terá que decidir o que é certo fazer pelo meio do caminho, assim como o Amon – dividido entre ser ghoul ou um investigador de ghouls – tem feito.

Como a cereja do bolo desse inesperadamente ótimo episódio – apesar da transição entre as cenas e os cortes continuarem a deixar tudo mais “acelerado” do que deveria – teve a recuperação da Akira, o que não foi só importante para trazer à tona uma construção de mundo que estava em off, como o aprofundamento sobre do que se trata esse ciclo de ódio, a quem ele atinge e como se combate ele.

A existência de ao menos uma organização pró-ghoul não é algo estranho, ainda mais se quem a fez se reerguer – apesar de todas as duras medidas do CCG no que tece a proteção de ghouls por parte de humanos – das cinzas foi alguém que passou pelos problemas de ter contato com o outro lado.

A Kimi se tornar uma ativista pró-ghoul capaz de dar “gás” a uma organização parada em uns dois anos e o efeito positivo que um casal inter-racial que batalha pelos direitos dos ghouls pode ter é enorme.

Quanto a relação do Amon com a Akira, é caso de dar tempo ao tempo para a reaproximação, mas é praticamente certo que eles darão vazão aos sentimentos que tiveram que conter nesses dois anos e que também serão um exemplo de relação de coexistência bem-sucedida.

Maris Stella é tão importante que tem até essa música linda em sua homenagem!

O melhor momento desse episódio, que o concluiu com chave de ouro, foi o que a Touka fez ao mostrar a Akira o outro lado da moeda e que, mesmo tendo motivos para odiar e querer se vingar, ela e a Hinami resolveram seguir em frente, quebrando o ciclo de ódio e levantando a melhor das perguntas: quem eu deveria odiar?

Por que eu deveria odiar? Como? Se a pessoa que me fez mal já não está mais aqui, descarregar ódio em cima de seus descentes vai aliviar minha dor de alguma forma? O que posso fazer para me sentir viva e feliz de novo? Como posso ser feliz com a desgraça alheia? O que isso vai me trazer de bom?

A Akira estava linda demais nesse episódio, nem parece que estava entre a vida e a morte, né!

A Hinami, e a própria Touka, devem ter se perguntado isso várias vezes e chegado a mesma conclusão que a Akira chegou. No fim das contas, as perdas de um lado são bastante semelhantes às do outro e creio que isso deve ter feito todas elas pensarem que ghouls e humanos são praticamente iguais; os dois perdem, os dois tiram, os dois sofrem com a dor da perda e a infligem a inúmeros outros.

Sofrer e apenas replicar essa dor é o que torna esse ciclo de ódio sem fim. A fim de pará-lo pessoas como a Akira precisam ter um melhor entendimento do que se passa do outro lado, que as crianças ghouls são como quaisquer outras crianças que sentem falta dos pais, que ghouls também são capazes de perdoar, que podem muito bem buscar o diálogo e se compadecer com os problemas dos humanos.

Só assim é que um dia humanos e ghouls poderão buscar uma solução para o conflito juntos, e não cada um do seu lado tentando acabar com o outro. Ambos compartilham do mesmo mundo, então ambos podem dar um jeito de viver juntos nele. O episódio foi ótimo, pois – finalmente – teve uma boa cena de ação e ótima trilha sonora, além de terem dado tempo para se trabalhar as coisas – não parecendo ser somente um checkpoint dos principais momentos do mangá. Até o próximo episódio!

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