Como podem supor pelo título, essa não é uma história para “estômagos fracos”, arrisco-me a dizer que foi uma das coisas mais – se não a mais – desagradável que já li – ao menos no círculo dos mangás.

Não falo isso pela obra ter um traço ruim ou por ter uma história não tão bem desenvolvida, mas sim por abordar temas pesados – bullying, violência doméstica, psicopatia, etc – de forma extrema, com a intenção de causar profundo nojo e incômodo.

É o tipo de obra que faz você pensar que a humanidade é horrível, e me arrisco a dizer que ela poderia deixar um gosto ainda mais amargo na boca se fosse mais longa ou melhor produzida.

Misumisou é um mangá de horror da autoria de Oshikiri Rensuke (mesmo autor de “Pupipo!”, obra que já teve anime, inclusive) lançado de 2007 a 2009, totalizando 3 volumes. Seu traço é bem tosco e sua história aparentemente é um drama escolar “simples” envolvendo bullying, só que quanto mais você lê, mais vai vendo que nem tudo é o que parece, e que, na verdade, pode ser muito pior do que se poderia imaginar.

A sinopse – traduzida e adaptada do Myanimelist – é a seguinte:

Haruka Nozaki se muda com sua família para uma pequena cidade por causa do trabalho de seu pai. Infelizmente, ela se torna um alvo de bullying na nova escola – que está para fechar em poucos meses devido à falta de estudantes. Como uma garota forte, que não quer preocupar seus pais, Haruka tenta ignorar aqueles que a incomodam, mas o caso está fora de controle e os professores não parecem dispostos a lidar com o problema. Diante disso, será possível evitar uma tragédia iminente?

Evitarei dar spoilers sobre a obra, portanto, não entrarei em detalhes, mas o que posso garantir é que sim, a “merda” é jogada no ventilador e ocorrem muitas coisas horríveis ao longo da história envolvendo violência, tanto verbal quanto física.

Não fica só no bullying entre colegas, a obra mostra relações de amor e ódio que muitas vezes se distorcem e se tornam doentias, abrindo margem para os personagens irem além do senso de moralidade afim de mascararem suas fraquezas e desequilíbrios mentais e satisfazerem seus desejos egoístas.

O ponto de vista do leitor segue a personagem Nozaki, que sofre bullying constantemente, mas evita ir contra as pessoas que o praticam, sempre “apoiada” por seu amigo e interesse amoroso Aiba, que desde o começo da obra nunca me agradou por não lutar ativamente para evitar o bullying com a garota.

Se você não toma medidas práticas para evitar que façam isso com alguém próximo a você, como pode chamar essa pessoa de amiga? Eu não consigo pensar nisso como algo positivo. Omissão para mim é algo tão pior quanto a prática do ato em si.

A história segue a difícil vida escolar da protagonista até que há uma virada no enredo e depois disso ela passa a “rebater na mesma moeda” algo terrível que seus colegas fizeram. Aquela que era a vítima se torna também uma ativa causadora do sofrimento alheio, e é aí que a história deixa de ser um mangá de bullying para se tornar algo mais, algo maior, algo mais insano!

A obra se esforça muito para impactar visualmente, tanto que o foco principal em muitos capítulos às vezes não são as falas, mas sim expressões perturbadoras, violência e sangue que jorra pelas páginas. O problema é que o traço em si não é bonito, ele apresenta deformações que em muitos momentos fazem a obra parecer mais trash do que ela já é.

Um ponto importante a se comentar é que nem todos os personagens são o que parecem, ou ao menos não são tão bons ou ruins como se pensa em parte da obra. Apesar de um desenvolvimento um tanto abrupto, há um background que mostra os problemas de alguns deles e porque acabaram se tornando aquilo.

No geral, a história consegue surpreender em alguns momentos, causando reviravoltas interessantes que bagunçam qualquer senso de “certo ou errado” ao qual o leitor ainda poderia estar ilusoriamente se agarrando.

A trama se desenrola em cima da vingança da protagonista e da exploração do drama dos personagens principais, mas também trabalha em outro plano com alguém que poderia ter passado despercebido: a professora da sala na qual a protagonista e seus algozes estudam.

Conhecemos sua triste história, suas aspirações e sua forma de pensar, assim como nos deparamos com suas ações, que se chocam com as dos pais dos alunos, mostrando que não são só as crianças nesse mangá que são doentes, mas os adultos também.

Eles agem como se quisessem tirar a responsabilidade dos próprios ombros, eles julgam e acusam, praticando algo tão mesquinho e covarde quanto o bullying que era realizado em sala de aula por seus filhos.

Isso me agradou no mangá, pois acho que seria incoerente demais se houvessem várias crianças desequilibradas e não houvesse um mínimo trabalho em mostrar que muitas delas tinham relações familiares conturbadas.

Os filhos aqui são muitas vezes reflexos de seus pais e, sendo assim, repetem suas atitudes e exteriorizam o que de pior se pode esperar de um ser humano. O final da obra me agradou por não ter sido clichê, além de ter dado a muitos personagens aquilo que eu acho que eles mereciam.

Bem, por fim, posso dizer que o mangá me deixou com sentimentos mistos. Gostei de como algumas coisas aconteceram, mas confesso que trocaria isso por menos momentos desagradáveis e tristes.

Por outro lado, achei que a história toda foi “crua” demais, beirando realmente ao trash e parecendo mais um protótipo para algo que poderia ser bem melhor e maior.

De toda forma, se você procura uma obra extremamente perturbadora, essa é uma ótima indicação para você, caro(a) leitor(a), mas se passa longe de leituras do tipo, nem se arrisque, pois só irá sofrer.

    • Ele é bom em ser violento. Se isso é ser bom acho que depende bastante do gosto da pessoa mesmo. Eu, por exemplo, gosto de obras assim, tanto é que Tokyo Ghoul, que tem gore e violência, é meu mangá favorito. Misumisou tem suas qualidades e seus defeitos. É interessante justamente por ser horrendo, trash, incômodo. Uma leitura desagradável com um certo “charme”, mas que também pode ser interpretada apenas como gore por gore caso a pessoa não consiga tirar nada dali.

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