Não, o Kaneki não é infiel! Muito pelo contrário, ele é o cara mais fiel, legal e bacana que eu já tive o prazer de conhecer; e olha que ele é um personagem fictício. Mas um complexo e interessante – não o protagonista de battle shounen um tanto quanto vazio que essa adaptação entregou. Esse era para ter sido o episódio magnum opus desse anime, mas foi um dos piores dele. Descartando que se trata de uma adaptação várias coisas não bateram em vários níveis, lembrando que era para ser fica ainda pior, pois se trata de uma adaptação infiel que dava a entender que seria algo que prometeu e não é!

E pensa que logo ela se tornaria a menor das minhas insatisfações…

O ataque a base da Goat e a investigação que o Urie e o Kuroiwa pai tentaram fazer no Furuta foram os dois momentos trabalhados nesse episódio. Sabe o pior? Ambos foram uma droga. O do Urie foi o menos pior, mas quase todo o ataque a Goat entregou uma sucessão de inconsistências e momentos bobas que me tiraram do sério.

Só para começar, o quão idiota o Kaneki precisa ser para não ativar a kakuja que rivalizou com o Arma para enfrentar o Juuzou com força total? Ele não podia fazer isso? E se não podia, qual é a explicação? Não houve. No mangá contextualizam algo que explicaria isso, mas até lá ele não deixa de lutar com toda a sua força – foi um furo de roteiro típico dos battle shounens.

Lutinha tosca e péssima de battle shounen de quinta categoria a gente vê por aqui!

Mas como todo Rei, ele fica para o final! Por ora, vou comentar logo todo o trecho do Urie. Tentaram “salvar” o trabalho de personagem dele com o trecho final do Kuroiwa pai pedindo desculpas, mas e quanto a todos os seus pensamentos sobre ele estar ao lado daquele com quem ele mais se ressentia pela morte do pai?

Uma das sacadas mais bacanas do personagem é como ele dizia uma coisa, mas o que ele pensava às vezes era completamente diferente. Com o tempo ele mudou, mudança essa que dava para ver no anime, então por que só tocaram no drama dele no fim, só para lembrar que havia?

Nem o Urie salvou esse episódio! Mas foi, sem dúvidas, o que de menos pior houve nele.

Toda a luta sofreu dos problemas recorrente do anime e teve diferenças quanto ao mangá, mas isso é o tipo de coisa normal quando se tem menos tempo e os personagens são mais “rasos” por isso.

O problema é que não só o Urie acabou alheio ao seu próprio drama – foi preciso o Kuroiwa lembrar a ele que ele tinha isso preso na garganta –, como outra personagem, a Roma, entrou muda e morreu muda.

Não que a história de vida dela tivesse sido super explorada no mangá, mas justificou porque ela estava ali. A Roma foi a fundadora original do Pierrot, os Palhaços, mas a maioria dos integrantes sequer sabiam disso, porque o grupo, e sua organização, é o completo caos mesmo.

Representando a luta dela contra o tédio. A aliança dela e de seus Palhaços com o Furuta foi basicamente isso – uma nova forma de tentar lidar com esse tédio que a inquietava e movia a sua vida. No anime ela nasceu vazia e morreu vazia. Acho uma pena, uma lastima; mas, sinceramente, faz sentido desprezarem ela.

Para um anime que não cuida bem do seu protagonista, quem dirá de uma figurante terciaria, não é?

Adoro o design disso, e depois dessas últimas kakujas nada mais me surpreendeu nessa obra…

Deixando tudo isso de lado, a luta do trio :re contra o quarteto dos Suzuya boys só não foi mais inútil porque serviu para reforçar os ideais de não matar humanos do Kaneki e blá blá blá. Desnecessário e idiota, porque não fazia sentido o chefinho enfrentar um ghoul de rank SSS – o inimigo número 1 do CCG de Tokyo – sem uma estratégia, estratégia essa que ele bolaria junto a um, ou alguns, dos seus subordinados mais preciosos.

Na verdade, outro investigador servia, mas o Juuzou lutar só não bate com os planos do Furuta. Seria uma “variável” com mais chances de atrapalhar os planos dele que o contrário, e olha, pela reação dele no final ele parecia mais certo de que seu Dragão nasceria do que qualquer outra coisa. Uma incoerência vistosa aos olhos!

Se o plano dele não tivesse seus furos ele seria um personagem menos ruim no anime? Será?!

Enfim, a Touka protegeu a Hinami como a carinhosa onee-chan de sempre, passou a mão na barriga mil vezes por causa do bebê e só serviu de isca para a derrocada e a ressureição bizarra do Kaneki.

No mangá isso acontece de forma diferente, com o Kaneki lutando contra o Juuzou e o Abara para proteger a Hinami e a Touka também cercada, mas em circunstâncias ainda mais diferentes, e com o ataque tendo acontecido pouco antes da luta dele com o Juuzou.

Deixando o anime de lado, daria um desconto se as mudanças na adaptação não estragassem algo que ficaria bem melhor adaptado fielmente; só bem mais enxuto devido ao tempo.

Tentaram comprimir os acontecimentos de muitos capítulos em um episódio só e cortaram detalhes demais. Essa parte da história ficou tão rasa no anime que se eu comentar mais de como é no mangá vou estar dando spoilers que podem interferir na experiência de leitura de quem ainda não fez isso – e com esse anime deve se sentir ainda menos impelido a fazê-lo.

Touka devia chegar na voadora em quem tá zoando essa adaptação. (risos/lágrimas)

No fim das contas, teria sido menos pior se as lutas tivessem sido boas? Talvez. Teve um breve momento em que eu vislumbrei animação acima da média e a possibilidade de uma luta empolgante, ao menos a principal, mas foi só ilusão e é isso o que esse anime é.

Uma adaptação fiel ilusória, pois ela se aproveita bem do mangá quando dá, quando não dá – quando há a necessidade de barbarizar com a história porque “não há tempo” – só o que fazem é jogar várias coisas na tela – a maioria mal trabalhada – e esperar que a equipe técnica, tão ou mais medíocre quanto o roteiro, faça mágica.

Não, ela não vai fazer! A excelente trilha sonora de Tokyo Ghoul que eu tanto admirava não deixou de entregar ótimas faixas instrumentais, mas sabe o que o uso excessivo delas provocou? Uma sensação de seriedade fajuta, uma sensação de urgência falsa. Chega a ser ridículo como boa música mal-usada só contribuiu para enfraquecer um show ruim.

No mangá o Furuta ameaça o Shinohara, aqui o Juuzou só acatou a ordem e foda-se. (bela amizade)

Não salvou! Como a luta patética do Kaneki com o Juuzou não salvou nada também, pelo contrário, o que aconteceu é que ela não acabou. O Kaneki foi “morto” pelo roteiro que forçou uma junção entre duas cenas que deviam se ligar sim, mas de maneira diferente, e usou o artificio errado para fazer ele cair.

A imagem do Kaneki derrotado no mangá é sensacional! Esse episódio ofende a arte sublime do Sui Ishida. E não bastasse isso, o capítulo 144 – resumido no trecho do Kaneki conversando com suas várias personalidades exploradas ao longa da história e no que veio a seguir – foi insultado devido ao trecho sem simbologia alguma, sem substância, sem significado – mediocridade fez escola dessa vez.

Tentarem forçar uma centopeia no meio daquela situação desesperadora me fez rir de vergonha! Se o Kaneki não virasse um monstro gigante, uma centopeia gigante – que para o Furuta deve parecer o Dragão de rpg que ele tanto quer ver – seria ainda pior.

Ou não, dá para dizer que forçar simbolismo assim foi pior. Eu não sei nem o que pensar! Só fica a dica, talvez você, caro(a) leitor(a), não saque o que acontece no mangá se ler esses capítulos soltos – na verdade, depois desse episódio deve sacar sim –, mas indico que faça isso. Leia os capítulos 143 e 144 e perceba como essa adaptação, que era para ser uma lua de mel com os fãs, só se aproxima cada vez mais de um caso de ódio – e sem amor.

Isso, é claro, se você não se importar em ler assim. Na verdade, o conselho que eu dou é ler o mangá todo. Por mais incrível que pareça vale muito a pena. Esse anime não chega aos pés da obra original!

O simbolismo, a complexidade, a sutileza, a coragem do autor em tirar uma “licença poética” para ir e brincar com um dos maiores clichês do battle shounen em seu mangá seinen – um battle shounen mais sangrento e sério –, o da construção da batalha épica do herói, foi desperdiçado justamente no episódio que mais se aproximou dos clichês xexelentos usados descaradamente nos battle shounens mais farofeiros por aí.

Isso é triste, patético de ver. Este é o anime de Tokyo Ghoul:re para todos nós!

Simbolismo forçado assim eu nem levo a sério, é só vontade de causar forçando a barra mesmo.

Só para finalizar, o Hide apareceu! E o que deveria ser um momento importante passou batido nesse episódio sem pé nem cabeça.

O anime deu o mesmo foreshadowing que houve no mangá, ele só não tentou brincar com a identidade do Espantalho como foi feito no original. Desde o princípio a aposta mais certeira a se fazer era essa, a de que o Hide era esse Espantalho que estava agindo das sombras – até se tornando figura folclórica entre os leitores.

Veremos se ele vai agitar e “melhorar” um anime praticamente perdido – coisa que duvido muito. Ao menos ele ter aparecido agora com o Marude faz sentido, mais do que fez o resto do episódio – e o Furuta, o Kaneki e quem está por trás desse anime.

“Oi, eu sou o Hide. Por favor, me salve dessa péssima adaptação/desse péssimo anime.”

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