Um episódio ruim, mas não pior que o anterior. E se nos serve de alento, muita coisa boa aconteceu nele, só que o problema foi justamente esse: aconteceu. Sem causa, apenas consequência. O anime de Tokyo Ghoul:re é assim, ou se tornou quando resolveram que era hora de estragar a não tão boa adaptação que pôde ser vista em sua primeira temporada. É hora de ver Tokyo nas costas do dragão!

A cena inicial com a Mutsuki em seu estado patético escancarou o péssimo “desenvolvimento” que a produção do anime deu a personagem – mais especificamente, o cara que estragou esse roteiro.

Não havia razão para ela jogar toda a culpa em seu sensei antes, e agora ela carregar parte da culpa e isso a fazer continuar a agir de forma violenta e inconformada não faz sentido. Faria se, desde o princípio, ela tivesse motivo para isso, mas ela não tem, nunca teve.

Na verdade, ela aparece no final com seus companheiros dos Quinx apenas para encher linguiça e encerrar o episódio de um jeito bonitinho. Se foi isso o que quiseram, parabéns, pois até conseguiram. Mas a que preço? Foi o fim, mas, e o início?

Adoram chegar no ouvidinho da Mutsuki e deixar claro o quanto ela é tola.

Quanto ao Kanou isso não foi tanto um problema porque mesmo no mangá o personagem não tinha tanto espaço para ser desenvolvido de maneira a fazer o público se sensibilizar com ele.

Acredito que essa sequer era a intenção, já que nada justifica as atrocidades que ele cometeu, mesmo tendo sido para desenvolver a pesquisa médica com ghouls, coisa que podia ter salvo a sua mãe. Isso não ficou claro no anime, mas ele não visitou um tumulo familiar por acaso, né?

O mad scientist mais louco de Tokyo agiu como bode expiatório para forçar o mundo a uma evolução, uma mudança. E pagou seu preço, perdeu sua humanidade e morreu sendo odiado por muitos. Valeu a pena? Para o roteiro sim.

Não que o personagem em si seja ruim e nem que tenha sido ruim o que rolou com ele, mas o Kanou sempre foi uma ferramenta para fazer a história avançar.

Chegando ao seu limite, o ponto sem volta, ela não se fazia mais necessária mesmo. Um adendo, a irmã do Shizaru sofre de enfermidade similar à da mãe do Kanou. Então se os “esforços” dele derem resultado, quem sabe ela não possa ser salva?

Vai tarde. Não vai fazer falta. E digo mais, não vou dizer nada.

O que ocorre em seguida me faz acreditar nisso, apesar de que o avanço das pesquisas com ghouls é algo bem realista em um mundo impelido a isso, forçado a conhecer mais esses seres e compreender que o mundo em que os humanos existem é também um mundo de ghouls.

Só que isso leva tempo, e não só isso, mas a superação de várias barreiras de diálogo criadas através dos anos e da violência.

Não é do dia para a noite que humanos trabalharão lado a lado com ghouls, não é porque a situação se mostra desesperadora que os humanos botarão a mão na consciência e aceitarão ajuda daqueles que sempre caçaram, odiaram, humilharam.

A soberba e ignorância humana impedem uma sensatez dessas, ao menos nessa rapidez. Ou os investigadores são apenas baratas tontas que ouvirão tudo o que o mais forte entre os seus falar que é certo? É uma tirania, por acaso?

Humanos são tão capazes de engolir todo o ressentimento e medo que têm porque alguém os manda fazerem isso? No mangá essa construção é ao menos um pouquinho mais bem-feita, mas no anime foi muito gratuita e boba.

Eu nem estou dizendo que não faz sentido os dois lados trabalharem juntos em prol do bem comum. Mas não faz sentido sem qualquer resistência, sem uma conversa decente entre os humanos. E isso também não aconteceu lá no lado dos ghouls, mas não dizem que por um Rei se faz de tudo, não é?

Os ghouls estavam mais propensos a se deixarem levar por suas emoções no calor do momento que os humanos, apesar de ter sido um humano, que ao mesmo tempo é um ghoul, aquele que causou a hecatombe em Tokyo.

É belo o simbolismo de ser o Kaneki o dragão, mas ele acaba sendo apenas um adereço a algo que não foi bem trabalhado – a construção de mundo falha da obra cobrou seu preço.

Viu? Consequência sem causa equivalente. O resultado foi bem interessante e inesperado. Quem iria imaginar que o popular Tokyo Ghoul acabaria assim, em uma guerra pelo bem maior e contra um mal comum? O problema é o que foi feito para se chegar até esse nono episódio – o vigésimo primeiro na contagem total.

Você acredita que uma aliança formada assim seria tão bem aceita por todos? Você acha que o anime trabalhou bem a saturação com o conflito e a vontade de entendimento de ambos os lados? Você vê coerência no modo apressado e absurdamente fácil que as coisas vêm ocorrendo?

O Ishida aloprou só um pouquinho aqui, só um pouquinho

Um símbolo disso é o Hide, que voltou dos mortos para agir como um coringa em um cenário no qual ele era necessário, mas sem o impacto que a inserção direta dele na trama deveria causar. Qualquer momento dele nesse episódio foi apenas simplório.

E aí entra a falha não exatamente do roteiro, mas de uma direção pobre, medíocre, que não conseguiu entender o quão importante esse personagem deveria ser para toda a trama de Tokyo Ghoul.

A trilha sonora continuou muito bonita e eu nem digo que ela não encaixou, é que ela realçou momentos muito bonitos, mas que não tiveram base alguma.

Acho que os únicos momentos bem equilibrados foram o do Nishio com a Kimi e o do Shuu sendo um cara legal como eu sempre soube que ele era. Mas, no geral, foi só isso.

Você pode não gostar do Tsukiyama, mas se eu fosse você, eu gostava!

A Touka percebeu que o anel seria o caminho mais fácil até o amado – não seria Tokyo Ghoul se um objeto simbólico não estivesse envolvido diretamente com seu desfecho, né – e isso deflagrou a escavação para encontrar um corpo que nós sabemos que será encontrado.

Digno de nota é o envolvimento do Mirumo nisso, e como as palavras dele ressoaram com a consequência sem causa equivalente que foi essa aliança entre raças.

Com tudo dito e feito, com tudo pronto, a busca pelo Kaneki começa, e o pós-encerramento entrega que será a Touka aquela a encontrá-lo. Até aí tudo bem, isso devia acontecer logo, né.

O problema é o momento da Mutsuki com o Shirazu e a Saiko. Todo muito bonito, o resultado do desenvolvimento excelente da personagem até então, é o que muitos deveriam dizer, mas não podem, infelizmente.

É como se os sentimentos da garota fossem falsos, mas eles não são, a gente sabe que a garota comeu o pão que o diabo amassou na mão do Torso, e nem fingia ser homem por acaso, mas o público viu a história dela? O anime se importou em contar seu passado, seu presente e, assim, indicar seu futuro?

Não. É por isso que me dói dizer, mas, na verdade, todo o belo momento de redenção dela com o Uri e a Saiko-chan foi uma bela de uma enganação!

Redenção por quê? Para quê? Qual o crime? Quem é o culpado? Eu engoliria ainda mais pressa nesses últimos episódios se ela tivesse tido o episódio dela, pois pelo menos assim seria possível entender o que se passava com uma personagem que devia ser importante.

Ela até era, mas foi violentada de um modo mais leviano que em sua verdadeira história.

Eu fico com os Quinx do mangá e quem sabe com os da primeira temporada. Eles eram personagens complexos, interessantes; personagens que tinham algo a me dizer com suas tramas. Nessa segunda temporada isso se perdeu quase que completamente devido à falta de causas para as consequências.

Vou guardar os Quinx do mangá no meu coração e esquecer que esse anime um dia existiu.

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