Você gostou do episódio “Operação Resgate” de Saintia Sho? Confesso que adorei ele, mas não pelos motivos convencionais, por assim dizer. Eleve seu cosmo ao máximo e me acompanhe nessa jornada!

Posso estar problematizando demais, mas a maneira como a Dríade matou um de seus capachos não lembra a ideia de que empoderamento feminino está associado à submissão, a fraqueza do homem, e não necessariamente a força da mulher? Eu trocaria essa cena desnecessária por uma Dríade capaz de enfrentar um cavaleiro de ouro como o Rigel fez. E o Rigel é homem, né? Aliás, não acaba por aí…

Só que antes de problematizar mais devo comentar o que rolou nesse episódio e do porquê eu curti ver algo que quase sempre falta a Cavaleiros do Zodíaco: a “individualidade” de seus personagens.

O que eu lembro da série clássica é a história de jovens que deixaram tudo para trás a fim de defender os ideais de justiça representados pela Deusa Athena.

Até aí tudo bem, é um battle shounen e não é incomum que os protagonistas desse tipo de obra sejam “abnegados”, mas até que ponto? Eles não têm o direito de querer nada por si próprios? É sempre lutar por todos e por si também, mas esse si estando apenas dentro do interesse da maioria? Não é isso o que nós estamos vendo em Saintia Sho.

De um lado temos a Shoko que parece querer proteger a Deusa Athena, mas está ainda mais a fim de salvar a própria irmã, o que, por mais egoísta que possa parecer, poderia ser positivo, porque frustrar os planos da Deusa Éris ajudaria a promover uma manutenção da frágil paz na Terra; mesmo que por pouco tempo.

Não precisa levantar a bandeira do feminismo, mas também não precisa tratá-las como donzelas…

Refiro-me a ser positivo para a maioria, mas é claro que a Shoko não está pensando na justificativa de seus atos, ela apenas quer porque quer salvar a irmã e fica gritando “Onee-chan” toda hora.

Sim, a Shoko foi bem irritante nesse episódio, e clichê, e passou longe de ser carismática, mas o Seiya nunca foi um poço de carisma e nem por isso deixou de ser o protagonista ideal dessa franquia.

A Shoko é bem isso, a personagem é muito espelhada no Seiya. E Saintia Sho é bem basicão, eu acho melhor que o clássico porque ele ainda faz um pouco mais de sentido, mas, por exemplo, gosto mais das lutas do anime lá dos anos 80. E, no final das contas, nem posso achar a Shoko mais irritante se o Seiya com seu “SAORIII” constante eu sempre engolia, né. Enfim, além dela, tem o Rigel de “egoísta”.

Tudo bem que o Rigel não foi apresentado para fazer o público se importar com ele e ele é um vilão, mas o cara tem um motivo razoável para estar ao lado de Éris; ele quer proteger a Kyoko, mas sabe que não pode se opor a Éris, só no máximo observar o desenrolar de toda essa situação.

Sua paixão pela Kyoko ficou bem clara para mim e devemos lembrar que o Santuário que ele conhece é aquele governado pelo Grande Mestre, ele nunca serviu Athena e nunca pôde compartilhar dos ideais dela.

Até onde lembro, pela minha leitura do mangá e depois de ter pesquisado um pouco, ele é avesso ao que é instituído no Santuário pelo Grande Mestre, então, se ele não confia mais no modelo de justiça pregado por ele, é livre para fazer o que quiser – inclusive se dedicar a proteger alguém que ele ama.

Os dois, Shoko e Rigel, têm desejos egoístas que os caracterizam razoavelmente bem como humanos palpáveis, personagens que não são apenas máquinas de matar em prol do que pregam terceiros. Eu nem tenho o que comentar do Milo no meio da confusão, porque ele só está ali para cumprir ordens.

A Saori quer proteger suas Saintias, mas… Enfim, o resultado final foi bom para mostrar a ela que seu caminho vai ser cheio de desastres e tragédias, e que ela precisa aprender a lidar com isso a fim de se tornar a Deusa que a humanidade precisa.

Diferente da Éris, e de tantos outros deuses que aparecem na franquia, ela é uma Deusa reencarnada e não uma ladra de corpos. Athena é Saori, Saori é Athena.

A Deusa humana terá que segurar o choro e mostrar convicção para guiar seus cavaleiros – tudo isso sem deixar de lado sua humanidade, o que a faz ser uma Deusa da guerra, mas uma Deusa diferente.

Sou só eu que sinto um climinha de shoujo ai toda vez que elas fazem isso? Okay, sou só eu…

Como deixei claro anteriormente, achei a luta desse episódio do Milo com o Rigel muito sem graça, e limitada quanto a animação, mas gostei do desfecho da situação, de como a Kyoko protegeu a Shoko até o fim e o que a dor da perda deve ajudar a Shoko e a Saori a amadurecerem.

A Kyoko não ter sido totalmente possuída por ser uma Saintia durona achei que fez todo o sentido e abriu margem para o drama que queriam explorar nesse ponto da trama. Todavia, dá para esperar que ela tenha morrido?

Não, é Cavaleiros do Zodíaco, e Saintia Sho não foge ao modus operandi da franquia. A Éris precisa de um corpo humano, esse corpo não será a Shoko porque ela é a protagonista, então a Kyoko voltará e, provavelmente, será salva. Não é spoiler, é sério, é somente a previsibilidade desses battle shounens.

Essa cena foi bem estranha, mas teve um belo significado.

Battles shounens que eu adoro, mas nem por isso posso deixar de alfinetá-los se vejo motivo, não é? E me sinto incomodado com a presença constante de um cavaleiro de outro para “resolver” todos os problemas da trama, ao menos no que compete a força.

Sei que faz sentido, não é a primeira vez que esse tipo de situação é retratada na franquia, mas não incomoda a você que um homem roube a luta que poderia muito bem ser de uma mulher?

Na série clássica eu não me incomodaria com isso, mas a proposta de Saintia Sho é realçar a uma posição de protagonismo personagens de um gênero que só estão tendo voz e vez quanto ao drama, e praticamente só isso. Mas battle shounen não é só drama, é porrada e está faltando um bocado disso, principalmente por parte das Saintias.

Se for para ficar só no drama acho que foi um erro ter dado a elas um dever, proteger Athena e parar Éris, que não serão capazes de cumprir. Ou eu entendi errado e elas realmente são só guarda-costas? Não sei, veremos…

Por fim, achei esse episódio melhor que o anterior, e sobre a aparição do Seiya na prévia do próximo me sinto indiferente. Até porque a Saori tem que ir parar o Santuário, peitar o Grande Mestre, matar metade dos cavaleiros de ouro e depois viver outras altas aventuras. As Saintias são só uma “parcela” disso tudo e a trama deve continuar de uma maneira um pouco diferente daqui em diante. Até mais!

E você, já sentiu o cosmo?

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