Todo herói precisa de um vilão para sua história. Mas Boogiepop não é uma história como a maioria das que vemos por aí, nem o Imaginator é um vilão como a maioria dos que a gente vê por aí, não é?

Antes do anime começar fiquei “paquerando” a edição omnibus que começou a ser lançada há poucos meses pela editora Seven Seas, daí pesquisando mais sobre o livro, me deparei com um subtítulo bem interessante, “Boogiepop VS Imaginator” – arco que compreende os volumes 2 e 3 da light novel.

Vai ser mentira se eu disser que não estava ansioso por esse arco desde que o tal do Imaginator é citado no segundo episódio? Vai. Também será se eu disser que esperava um episódio intrigante como esse.

Não tão intrigante, interessante, ao menos. Para começo de conversa, algo que ficou óbvio para mim foi a origem de Boogiepop e Imaginator.

Eles são como bactérias inofensivas que existem aos montes no ar, mas só se tornam nocivas à vida humana devido a ocorrências inesperadas – não imprevistas – que agem apenas com uma amostra da população.

Se Boogiepop quer que as pessoas mudem por si próprias, então vai esperar sentado?

Isso, aliás, é representado no fato de que poucas pessoas podem enxergar além, como o professor que via pessoas como flores. Diferente do primeiro arco, esse não envolve aliens, mas distorções que nascem e morrem dentro da própria sociedade.

No que se refere à estrutura, o arco anterior e esse compartilham similaridades, mas somente de ideias – uma existência sobrenatural que muito influencia um humano, um humano obcecado pela existência sobrenatural, pessoas que se envolvem em um conflito no qual perdem a vida ou salvam a de outros, etc.

Sendo assim, houve uma nítida mudança de abordagem, até a linha do tempo foi apresentada de maneira linear, e uma boa, já que faz sentido entender a “doença” antes de querer aplicar sua “cura”.

Dou um dedo para saber exatamente qual é o envolvimento do pai da Nagi nisso tudo.

Antes de sair do flashback, gostaria de desvendar um pouco da enigmática conversa de Imaginator e Boogiepop, que nem foi tão enigmática assim.

Primeiro, Imaginator não se dividiu, é uma existência diferente de uma dupla personalidade, já que se trata da própria Minahoshi Suiko possuída por uma possibilidade hipotética materializada. Um mecanismo de auto regulação, ou o contrário, do mundo.

Como comentei em outro artigo, é isso o que Boogiepop também é, uma possibilidade que deixou a teoria para a realidade, se materializando devido à necessidade do ambiente a sua volta. Creio nisso.

Segundo, o suicídio da Minahoshi Suiko não foi nada disso, apenas a transição do Imaginator de um corpo carnal para uma existência imaterial com mais liberdade para influenciar outras pessoas. Não foi um fim e somente isso, mas o fim de um ciclo anterior e o início de um ciclo que ainda se findará.

Além disso, por que Boogiepop vive no presente? Por que luta para ajudar o mundo a “prosperar”? Se Imaginator é uma existência futura materializada no presente, Boogiepop não seria o mesmo? O que as difere, o fato de uma se manifestar sob outra personalidade e a outra não?

Elas são criaturas automáticas que surgiram no ambiente a fim de promover alguma coisa. Aliás, isso remete às bases da biologia, usar um pouquinho da doença para estimular o corpo a produzir anticorpos para a cura.

Então Boogiepop seria o anticorpo e Imaginator o antígeno? Mas se eles têm a mesma “origem” não seriam eles tanto a cura, quanto a doença? Ou hipóteses que se tornaram reais para se combater, só aí vendo qual delas está certa, é mais forte, qual é o princípio mais justo? É mais “certo”, se tratando da sociedade como o observador da situação, zelar pela civilizada ou dar asas a tal da “imaginação”?

Se essa “imaginação” for realmente o que o Imaginator defende… Aliás, como isso é palpável? O que isso significa literalmente falando? Ser capaz de manter a consciência viva após a morte da carne, ser capaz de possuir outras pessoas e despertar novos semelhantes, ser capaz de invadir sonhos alheios?

Porque foi o que o Imaginator fez, “invadiu” os sonhos daquelas alunas, mas apenas para controlar o professor ou com outro propósito escuso? O fato é que o Imaginator é uma existência libertadora, só que de uma liberdade individualista, que não dá chance a liberdade de quem não é “suscetível” a ela.

Imaginator é o desejo de uns de recriar o mundo ante a acomodação de mantê-lo assim da maioria?

Enfim, é aqui que chego em meus comentários sobre o professor e como sua forma de ver as pessoas é interessante, afinal, ele as vê como plantas sempre em falta de algo, mas é incapaz de enxergar a si mesmo.

Pode não ser isso, mas quantas pessoas você conhece que dão pitacos demais sobre as vidas de tantas outras pessoas, mas são incapazes de enxergar um palmo sequer a sua frente?

Pelo menos uma, eu aposto. E talvez, infelizmente, seja você. E isso também vale para mim, seria esse meu caso?

De toda forma, é pertinente observar que, com isso, o texto desse arco quer dizer que todos têm falta de alguma coisa, ainda que a falta de raiz para uma possa ser diferente para outra; no caso da garota que apareceu primeiro nesse episódio acho que ela não tinha ideias fixas, que ela não tinha certezas.

A vizinha simpática faltava um botão, será que esse botão seria uma personalidade mais incisiva, algo que funcionasse como um núcleo, ou se não isso, como o diferencial dela enquanto um ser humano?

Não sei, e, na verdade, acho que isso depende mais de como o observador – no caso o telespectador – enxergou o pouco que foi exposto sobre cada personagem. O professor era só alguém comum que por acaso podia ver além em cada pessoa, mas era justamente esse talento aquilo que o tornava um Imaginator em potencial.

Não é à toa que o Imaginator da Minahoshi Suiko forçou situações em que uma ideia de “missão” fosse fixada a mente dele; como se ela, ele, e até Boogiepop, fossem messias, seres escolhidos que deviam usar de maneira ativa aquilo que possuíam – mas as outras pessoas não.

Foi estranha a forma como ele mudou, pois, sua personalidade não aparentava tanta suscetibilidade para se tornar um “psicopata”. Não, ele se tornou algo além disso, mas talvez tenha sido justamente a sua passividade ao lidar com Imaginator, e uma que escondia um fascínio sugestivo, a denúncia de que ele ia aceitar sua “missão”.

Além disso, se o Imaginator o mostrou uma visão do futuro, será que esse futuro realmente poderia ser modificado? Depois de encarar tamanha impotência, alguém teria condições de não se deixar influenciar, ainda mais tendo uma suposta “predisposição” para aquilo?

Será que ele virou Imaginator para não ter que lidar com a culpa?

Aliás, o que exatamente foi “aquilo”, quais são os poderes do novo Imaginator, e por que ele os usou para matar pessoas? Se não as matou, usou como cobaias para testar o poder. Então, quais mistérios cercam suas existências e poderes? Isso ainda é uma incógnita – mais do que Boogiepop era faz pouco.

Ficou bem claro que o Imaginator 1 instigou o nascimento do Imaginator 2 para “preencher” o que o 2 vê que falta nas pessoas, não são claras as circunstâncias nas quais esse preenchimento acontecerá, e menos ainda como o mundo mudará diante disso. Ainda falta uma peça nesse quebra-cabeças para que eu entenda. O fato é que Imaginator é sinônimo de um desejo de mudança, mas por que mudar?

Boogiepop também deseja a mudança, mas de um modo diferente. É um choque de pontos de vista?

Só o que sei, ou acho que sei, é que às vezes até pássaros caem do céu e até neve cai em abril. O que essas enigmáticas frases querem dizer? Que Imaginator é uma existência inimiga do mundo atual, do tempo atual, a qual deve ser simbolizada através de eventos deslocados, que não deveriam ocorrer?

Se o amor é como a neve que cai em abril, então o amor é inesperado – não se sabe precisar quando –, mas não é imprevisto – literalmente falando, previsão do tempo existe para isso. Agora, o que isso tem a ver com as ações do Imaginator? São atos de amor possuir pessoas e transgredir a realidade de outras maneiras?

Aliás – é o último, eu juro –, seduzir a colega foi um ato planejado? Sua tentativa de criar um Imaginator incapaz de ver além? Predisposições para diversos tipos de coisas todos temos, e isso é assim por diversos outros motivos, agora, não são todos que têm o talento. Isso ficou claro, né!

Só uma pequena observação, eu sei que “inesperado” e “imprevisto” são sinônimos, então, é a trama que terá que trabalhar a sutil diferença entre os dois. Por que pode ser inesperado e não imprevisto?

Será que é porque independentemente de prever a ocorrência de um evento do qual não se conhece tudo, ele ainda ocorrerá? Então as ações do Imaginator são imparáveis mesmo se alguém as prevê?

O que tudo isso significa dentro da trama maior desse arco ainda não sei bem, só sei que depende da recriação do mundo – mais disso do que qualquer outra coisa que diga respeito só a Boogiepop, esse shinigami (Deus da Morte) que não tem tudo sob controle, mas não deve ficar sem fazer nada com a produção em massa(?) de inimigos naturais(?) que está a caminho. Boogiepop VS Imaginator… GO!!!

É claro, esse foi apenas o comecinho de um fim à vista… Mas que na verdade é a prazo.

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