Se a sua vida dependesse de um pega-pega, será que você seria capaz de superar seus limites para se salvar, ou correria inutilmente rumo a morte certa? É nessa primeira opção que a Emma, o Norman e o Ray estão tentando chegar. Porém, surgem obstáculos cada vez mais desafiadores a frente deles, e o plano que já era impossível vai ganhando contornos imprevistos. É hora de Neverland no Anime21!

O episódio mal inicia e algo esperado já se estabelece; a irmã Krone veio para auxiliar na observação das crianças da Grace Field House, e para isso nada mais normal que dormir próxima a eles para ficar de olho em todos os movimentos delas quando a Mamãe, que não dorme tão perto, não puder estar.

É então que mais uma reunião do comitê de fuga se faz necessária, e como o Ray bem aponta, o que a princípio seria terrível, na verdade, fez foi ajudá-los, afinal, informação é muitas vezes uma questão de atenção, de percepção mesmo.

Inteligência de verdade é usar até as adversidades ao seu favor.

Para quem já mostrou uma capacidade intelectual considerável, a dedução de como o mundo exterior funciona de acordo com as novas formas que ele se apresenta a esses garotos não poderia ser menos que previsível, assim como a “junção” dessa informação aquilo que já se tornou parte de um conhecimento comum adquirido na vivência dentro do orfanato.

Nem é de se estranhar que a nova bebê se torne alvo de investigação da Emma, ou que o Norman e o Ray passem a cochichar segredinhos ponderando outros detalhes que devem ser pensados a fim de fazer da fuga um verdadeiro sucesso.

O problema foi a forma até escandalosa como alguns diálogos foram desenvolvidos nesse episódio, como se os personagens não tivessem um pingo de cautela ao discutir assuntos extremamente “perigosos” como matar seres humanos ou tomar o lugar de um na fazenda.

Falar é fácil (e na sala correndo risco de serem ouvidos é idiota), quero ver fazerem…

Não, isso não foi um trocadilho com um reality show. Enfim, a cena que mais leva isso a um extremo é a da irmã Krone sozinha em seu quarto confabulando consigo mesma. Uma ação “burra” para uma mulher que mais tarde provou ser tudo menos isso. Ela tanto fala alto, quanto gradativamente o tom ganha contornos ainda mais caricatos do que a própria personagem já possuía.

Ela é má e faz caras e bocas bobas, as mais bobas que já vi em uma história que se propõe a ser séria desde seu princípio – apesar dessa seriedade ser construída em cima de um pano de fundo que até poderia ser infantil –, o que me desanimada ainda mais, pois no mangá ela também é assim, só que lá é suavizado, não ficou desequilibrado.

Por exemplo, essa cena dela conversando só no mangá é bem diferente, ela raciocina após encarar o Norman e o Ray e é a partir daí que bola seu “plano de sucesso”. A personagem não é infantilizada, não se torna ainda mais caricata do que aparenta ser. Essa mudança foi uma flor no pé!

A forma como a Isabella trata sua subordinada deixa claro que, na realidade, ela está sozinha em seu joguinho de tentar manter suas crianças rebeldes presas.

Ela faz tudo isso para manter a prestigiada posição de Mamãe mais eficiente da plantação, para se manter com moral e um razoável poder – os superiores sequer acham estranho o pedido por uma assistente –, o que, ao menos por ora, só faz o público pegar ainda mais asco de uma personagem que – independentemente das circunstâncias – é e sempre será digna de aversão por suas atitudes.

Já a Krone teve tempo, foi uma personagem nesse episódio, uma interessante já que ela começou a jogar seu próprio jogo no seu próprio ritmo; trouxe seus interesses ao tabuleiro e fez seu movimento. Gosto bastante disso, porque vai deixando a trama mais complexa e tornando o planejamento dessa fuga ainda mais refém de fatores difíceis de prever.

Se eu disser que acho a Isabella charmosa tenho mau gosto ou preciso procurar ajuda?

Antes de comentar melhor os acontecimentos do trechinho final, gostaria de fazer duas observações.

A cena da reunião de Demônios não foi ruim – criaram o clima certo para ela com a trilha sonora e a morbidez do ambiente –, o problema foi que não aproveitaram ao máximo uma cena que poderia ter sido mais impactante.

Poderia ter sido aterrorizante? Acho que ao menos um pouco. Mas acabou foi parecendo uma reunião qualquer com falas enigmáticas como as de comitês de animes de mecha, o que achei uma pena. Aliás, as falas nem foram tão enigmáticas assim, então já que tal cena pouco ou nada agregou de informação para a trama da Plantação Três, que ao menos a “adornassem” melhor.

Minha segunda ressalva é sobre como não “ajustaram” algo que funciona melhor no original do que na adaptação.

Diferente do anime, no mangá as pistas que levam a qualquer pessoa com bom senso desconfiar que o Ray é o espião são bem mais sutis que foram as dadas pelo anime. Sendo assim, do que adianta terem trabalhado sutilmente a possibilidade de que o pequeno Phil seria informante da Mamãe?

Na realidade, do que adianta jogar no ar a possibilidade de que é outra pessoa senão o Ray se já está na cara de que é ele? No mangá a suspeita cai mais em cima do Phil também por um outro motivo, mas no anime fica a impressão de que podem passar a desconfiar dele e isso não faz sentido.

Não vejo porque gastar tempo nisso dessa forma se o que devia ser importante, a resposta, não será.

Se não tivessem deixado o espião óbvio poderíamos ficar apreensivos com a Emma e seria mais legal.

Enfim, o que resta a comentar sobre esse episódio foram as descobertas sobre o localizador, e como elas levaram a outra ação bem interessante: o pega-pega da sobrevivência.

Embutir um treinamento físico e mental em uma brincadeira comumente praticada pelas crianças do orfanato foi uma sacada bem inteligente, pois mesmo se a Mamãe perceber isso, fica difícil arranjar argumentos para intervir.

Então isso significou que o saldo do que aconteceu nesse episódio foi positivo para os nossos heróis?

Não exatamente, afinal, mesmo que haja solução para o problema da retirada dos localizadores, não ajuda que eles tenham que se preocupar com um traidor, com o traidor estando bem ao lado, e nem que a Krone não esteja jogando o joguinho da Mamãe.

Na verdade, isso até pode vir a ajudá-los, mas o fato é que a Krone aparentemente não ganharia nada se eles fugissem, o que para não se provar a verdade vai denotar jogo de cintura, ótimo poder de argumentação e coragem.

A corda bamba sobre a qual eles estão se equilibrando se tornou cada vez mais fina, cada vez mais frágil; eles estão ficando mais encurralados a cada dia que se passa e a trama apresentada no anime se mantém uma das mais interessantes da temporada de inverno.

Até que esse episódio foi legal. Apesar dele ter tido defeitos aqui e acolá, o tom de suspense e a urgência por sobrevivência mantêm viva a fuga dessa Neverland!

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