Um episódio de Boogiepop sem o shinigami Boogiepop seria assim tão animador? Mas se eu falasse que o Boogiepop apareceu no episódio e talvez você só não tenha é percebido?

Percebendo ou não, o fato é que foi um episódio da Suema e da Aya, para cruzar seus caminhos e, se ainda não dar todas as respostas que o público gostaria de receber, pelo menos indicar como lutar antes do arco morrer.

A título de curiosidade, Camille e Spooky Electric – Spooky E – são nomes que o famoso cantor Prince usava para distinguir a sua personalidade boa e a sua personalidade ruim, respectivamente.

Mal ouvi o nome Spooky E e já sabia que o conhecia de algum lugar… de todo modo, a cena inicial do episódio deixou duas coisas claras sobre a Aya.

Primeiro, sua missão menos importante é conhecer mais sobre o Boogiepop. Segundo, a sua missão principal ainda é uma incógnita, mas parece ter a ver com sexo?

Isso não devia ser da conta dele, não mesmo.

A Organização Towa não quer apressá-la, mas se há algo que achei suspeito é que uma das primeiras coisas que ela pergunta ao Masaki após ela tê-lo ajudado é se ele queria transar. Se nós lembrarmos dos boatos que a cercam, só consigo pensar que na missão da garota há pelo menos duas regras.

Ela precisa procriar, ou gerar algo por meio da copulação, e não pode ser odiada por outros, e é por isso que ela faz o que qualquer outra pessoa quiser.

Contudo, se sair com o Masaki não tem relação com a missão dela é porque ela está contestando aquilo que a prende e isso é aprofundado mais à frente.

O que raios é um MPLS?

Se antes de chegar no fim precisamos passar pelo meio, como não poderia comentar a sutil aparição do Boogiepop no cursinho? Na verdade, duvido que você, caro(a) leitor(a), não tenha se tocado, pois a voz muda – ela sai “arrastada” – quando é o Boogiepop e não a Touka.

Mas por que o shinigami se manifestou e saiu na hora? Era medo do Imaginator descobri-lo investigando? O 2 não parece saber, e o 1 está sumido, então, sinceramente, eu não sei o que achar, só que gostei de vê-lo indiretamente.

E você, vai ajudar?

Porém, o que é relevante nessa cena é a ajuda pedida a Suema, pois ela me deixou mais curioso para saber de suas circunstâncias. O que aconteceu no seu passado? Quem ela perdeu? Foi de uma forma violenta, né? Alguém enlouqueceu completamente – um pai, uma mãe ou um irmão? – e fez a garota passar por uma experiência traumática que ela ainda não conseguiu superar? É o que me parece.

Sei no máximo que há relação com psicologia criminal envolta em um evento sobrenatural – foi o que os gostos peculiares dela fizeram parecer. O legal é que, mesmo sem saber, ela pode aconselhar a quem está envolvido em um fenômeno sobrenatural, pois tem alguma experiência de vida com isso, não é?

Será que ela quer se vingar de algo ou alguém? Ou só se “retratar” com o passado?

A cena na sala do Jin-niisan foi uma evolução no que se refere a explicar o que é o Imaginator e o que ele pretende. Repare que, de novo, são garotas o alvo da existência sobrenatural antagonista do arco e, muito provavelmente, muitas delas, ou todas mesmo, espalhavam os boatos sobre o Boogiepop.

A ansiedade comentada lá no final pela Suema tem tanto a ver com isso, com essa iniciação pela qual o Imaginator está fazendo as moças passarem, que fica difícil não elogiar a maestria com a qual se põe essas ideias em prática, com a forma que elas se enroscam e se amarram, um modo de ligar histórias muito eficiente.

Enfim, se o Imaginator quer pensar por você e o que ele vende, na verdade, não tem exatamente a ver com a liberdade; então o que ele prega é falso, conveniente, vazio? Se sim, então a missão do Jin de achar o que há de errado nas pessoas a fim de consertá-las não passa de um desejo egoísta imposto a pessoas de mentalidade frágil?

Aliás, ele não é uma dessas pessoas? Tudo bem que ele abraçou a loucura de se tornar um Imaginator, mas não pode ter sido apenas uma forte indução? Afinal, ver uma ex-aluna morta sem poder fazer nada foi um baque grande, uma motivação para agir.

Imaginator está formando uma seita sobrenatural agora?

E digo mais, como é muito bem explanado pela Suema na reta final desse episódio, por que consertar o mundo é necessário? A instabilidade, a ansiedade, a imperfeição; incapacitam a vida por completo?

Por que os seres humanos, e até os sobrenaturais, insistem em confundir liberdade com perfeição? É um erro que a Suema não é capaz de cometer, e a conversa dela com a Aya deixa essa e outras coisas bem claras sobre a personagem, mas também sobre a própria Aya e sua necessidade de salvação, ou melhor, a sua necessidade de contestação, de ódio. Diz-se que amar é humano, mas odiar também é!

E se você odiar a si mesmo? E aí, como fica?

Se a Aya é capaz de se magoar, como ela pode desejar não magoar os outros? A vida dela é assim tão insignificante para ela mesma a ponto da garota não poder estar no mesmo nível de uma pessoa?

Hey, ela pode incomodar sim! E eu nem diria que ela deve fazer de propósito, é só que é inevitável. A barata que você mata em casa de vez em quando já é uma agravação perante o mundo.

É impossível não machucar os outros, ou a si mesmo. E morrer pode sim ser uma fuga, ao menos se falta à pessoa a vontade de se erguer para lutar contra aquilo que a está incomodando – que macula sua liberdade.

Vivo logo incomodo. Essa é uma certeza da vida.

Não concordo com a máxima de certas pessoas de que o suicídio sempre é uma fuga, mas se você ao menos tentar e fracassar, isso já terá sido alguma coisa. A pessoa tem que ver até que ponto aguenta a instabilidade, a incerteza que acompanha a grande maioria das, senão todas, vidas humanas.

Eu me faço essa pergunta até agora.

É isso que Boogiepop preserva; o direito ao questionamento, a incerteza, o enxergar da beleza na feitura ou só aceitar a feitura pelo que ela é. Buscar a perfeição, a precisão, a certeza incontestável são amarras que sufocam e detonam com as pessoas.

Teria ocorrido isso com a Aya não fosse o Masaki e agora a Suema. Primeiro a garota precisava perceber que queria mudar, que queria ir contra o seu status quo para só assim se questionar e, após ser aconselhada, passar a enxergar a possibilidade de lutar por si.

A princípio não entendi o paralelo entre as cenas dela conversando com o Masaki e dela conversando com a Suema, mas parei um pouco o episódio para refletir e só no fim do trecho entendi.

A Aya quer, e isso é um atestado do seu subconsciente buscando a contestação, ser salva, e por isso se agarrou à figura do Boogiepop, a de um shinigami bonzinho que não intercederia por ela já que ela mesma não se dá valor como humana.

É aí que ela, em um sutil momento de desespero, pede a ajuda do Masaki para que ele a liberte. Ela que não queria ser odiada se arriscou por quê? Porque deseja a liberdade!

Mas hey, ela está presa em algo bizarro e no fundo quer se libertar, não quer acabar com tudo e dar por fracassado algo que ela sequer começou direito. Para fazer isso ela tem tudo o que é necessário.

Não espere por um Boogiepop para resolver seus problemas, lute por si mesma garota!

A opressão que se transforma em ódio. Um desejo que se transforma em motivação. A percepção de que virar o jogo depende mais dela. No mundo real não existem, ou não deveriam existir, princesas a serem resgatadas e príncipes infalíveis.

Aliás, o Boogiepop não é um herói que vai salvar o dia, nem a Suema dará todos os melhores conselhos possíveis. O Boogiepop é um pequeno desequilíbrio que se encarrega de salvar sem realmente salvar, que pode até ajudar a todos, mas não luta é por ninguém!

Porque lutar é algo que deve vir de dentro. Pode dar errado, e o resultado final ser terrível, mas sem lutar não se é possível conquistar uma liberdade para chamar de sua. Só morra depois de lutar. Até!

Quebre seus grilhões e experimente a liberdade que você deseja!

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