Infinite Dendrogram, também conhecido apenas por Dendro, é uma light novel que está sendo lançada desde 2016, de autoria de Sakon Kaidou com ilustrações de Taiki. Pouco após o lançamento da novel começou a ser lançada uma adaptação em mangá, e o anime da obra foi anunciado pouco antes de eu escrever este artigo.

Mas do que se trata Dendro? De uma trama que tem como pano de fundo um VRMMO, temática que já está ficando saturada no mercado de light novels, mas tem personalidade suficiente para se distinguir de medalhões como Sword Art Online ou Log Horizon. Mas por quê? Leia e saberá!

A história acompanha Reiji Mukodori, que após terminar os exames para a faculdade tira um tempo para jogar o primeiro VRMMO de imersão completa que simula os cinco sentidos com perfeição e é jogado também por seu irmão, Shuicihi Mukodori. O nome do jogo é Infinite Dendrogram, e como o nome bem diz, se trata de um mundo realístico cheio das mais diversas e imprevistas possibilidades.

Um detalhe que me agradou já na sinopse foi o fato de que o jogo teve seu lançamento em 2043, o que é um tempo razoável em comparação a época atual, na qual essa tecnologia de realidade virtual ainda parece estar em seus primeiros estágios de desenvolvimento.

Porém, o jogo é realista demais, e isso faz você se questionar se realmente é possível criar uma experiência realista que possui várias IAs que simulam seres humanos com enorme perfeição, se alguma empresa teria recursos para essa empreitada. Isso é algo sutilmente questionado ao longo da trama e que deve “abrir” possibilidades.

Voltando ao Reiji, esqueça protagonistas que ficam presos no mundo do jogo e não descobrem como sair dele ou têm que matar para sobreviver, em Dendro tudo fica somente na sistemática do jogo – o máximo que rola é um banimento de 24 horas no mundo real, 72 no virtual, caso o jogador morra –, e essa sistemática apresenta uma significativa diferença a outros VRMMOs retratados em livros e afins, é a existência de Embryos: existências únicas, como os Stands de Jojo, geradas a partir dos jogadores.

Logo que Ray Starling, nome do protagonista no jogo, adentra Dendro, um evento aleatório acontece e ele é levado a sua primeira quest, e uma de nível alto, incomum a um novato. É com a ajuda de Shu Starling, nome do irmão dele no jogo, que ele ajuda Liliana Grandria – uma Tian, os NPCs do jogo que se assemelham demais a seres humanos e podem morrer – a resgatar sua irmã que acabou presa em uma masmorra conhecida pelas mortes de novatos que ocorrem nela. Mas o Ray morre nessa quest?

Claro que não, ele é o protagonista e não é só o fato de ele virar um Paladino mais tarde que o torna alguém especial – com o qual rolam eventos incomuns até mesmo em um jogo imprevisível desses –, o despertar de seu Embryo em um momento desesperador e a habilidade que ela carrega fazem isso.

Nemesis é o nome do Embryo dele, que é uma donzela vingativa, uma lolita gótica que se transforma em uma grande espada negra e detém uma skill bastante peculiar chamada a vingança é minha. Sua função é de dobrar o dano recebido por Ray e devolvê-lo com um golpe de espada – quanto mais ele apanha mais fica forte. São ou não são interessantes as possibilidades que essa Embryo traz consigo?

Após experimentar pela primeira vez a tensão de uma situação de perigo de morte, o novato jogador se vê então ao lado da Embryo que em sua forma humanoide é uma comilona profissional, manhosa e bastante sarcástica; predicados que a dão uma personalidade agradável – fazendo o leitor esquecer que é uma IA e não uma humana.

Aliás, o Ray – usarei o nome do jogo, afinal, a história se passa nele praticamente o tempo todo – também tem uma personalidade agradável, mas que pouco se destaca; o irmão acaba sendo um personagem mais interessante por usar uma fantasia de urso o tempo todo e não ter mostrado todo o seu poder. Quais segredos ele estará escondendo do caçula? Talvez isso já seja revelado no volume 2.

O fato é que logo os irmãos partem caminho – alguém muito experiente e alguém inexperiente em uma party é algo que pode afetar no crescimento de level do jogador novo –, e Ray traça um objetivo no jogo: upar para alcançar os rankings de jogadores mais fortes da nação na qual ele se encontra.

Aliás, todo o universo do jogo é muito interessante, pois o mundo é dividido em nações e essas nações podem muito bem entrar em guerra – igual aos eventos de jogos –, e em uma que envolva tanto Mestres, nome dado aos jogadores, quanto Tians. Isso tudo serve para reafirmar o realismo, e incentivar os Mestres a serem ativos em uma sociedade que está em constante mudança.

Ray não fica de fora disso e por conta faz amizade com Rook e sua Embryo Babylon – que prefere ser chamada de Babi –, uma succubus que não faz nada demais, porque o lindo garoto é menor de idade. Ele e Nemesis os ajudam a derrotar uns monstros e as duplas acabam se tornando amigas – trocando experiências e informações até por ambas serem novatas.

Porém, é ao ir para a Floresta de Noz, uma das áreas de caça de Altea, a fim de upar que Ray passa por uma experiência inesquecível: ele morre. Sim, ele não consegue fugir de uma tentativa de PK (Player Killing), assassinato de um jogador, e tem uma experiência desagradável que é retratada de uma forma abrupta, como tem que ser.

Vingar sua morte passa a ser um de seus objetivos e são momentos como esse que mostram que o autor dá um equilíbrio legal entre o real e o virtual, não dramatizando demais e nem deixando de conferir tensão ao ocorrido. Um momento marcante para os personagens e que guia o resto da trama nesse volume.

Após upar em uma masmorra artificial, cuja taxa de drop é infinita, chamada de Labirinto do Túmulo, Ray conhece um jogador que está entre os mais fortes do jogo e é convidado por ele para vê-lo lutar em uma cidade de duelos.

Isso só é possível depois que os grupos de PK – tirando o que estava solo e matou Ray –, que estavam atacando as áreas de caça, são liquidados, o que, indiretamente, apresenta alguns dos jogadores mais fortes de Altar e mostra ao Ray qual nível que ele deve almejar.

Nisso uma personagem nova é introduzida, a jornalista Marie, mulher desempregada no mundo real que vende informações em Dendro. Junto a Marie, Rook, Babi e Nemesis, Ray cria uma party para ir até Gideon encontrar um conhecido, Fígaro, como também seguir os rastros de seu algoz – o assassino superior.

Antes de entrar na reta final do livro, não poderia deixar de comentar que a leitura é agradável e tem seu charme, mas o autor não desenvolve tão bem a escrita nas cenas de luta e acaba cortando partes que poderiam ser interessantes se bem desenvolvidas.

Contudo, a narrativa não apresenta grosseiras falhas de forma ou consistência, é mais uma questão de como poderia ser melhor do que ser ruim. O mundo do jogo vai sendo detalhado aos poucos e os momentos mais didáticos são misturados a falas mais descontraídas ou até as cenas de luta. Enfim, a light novel possui um ritmo bom do início ao fim.

Algo legal sobre o Ray é que ele realmente está dando seus primeiros passos no jogo, só upou até um level mediano e não enfrentou grandes bosses – ao menos não até o clímax final –, o que se equilibra um pouco a sua verdadeira vocação para passar por significativas experiências como protagonista da obra.

Pelas características de suas skills e as situações de desvantagem nas quais ele se mete eu acho que o final é bem decente, pois, ainda que conveniente, o autor faz parecer ser algo que era possível.

 

Os próximos três parágrafos contêm spoilers sobre o final desse primeiro livro. Leia por conta e risco.

Faz sentido a Nemesis evoluir para sua segunda forma a fim de evitar mais uma morte, faz ainda mais sentido que a nova skill dessa forma, como uma bandeira ondulando ao avesso, seja essencialmente similar à da primeira forma, mas envolva danos específicos e não os converta em poder, só reverta a ação deles.

Entretanto, ele precisa alternar entre skills para vencer e acaba tendo uma ajudinha bem suspeita no final. Ao meu ver isso passa longe de ser protagonismo pois o personagem não fez nada de inimaginável para ele e, dadas as circunstâncias, evoluir a força não seria impossível.

Além disso, o contato que Ray tem com as mortes dos Tians o faz refletir sobre a natureza daquele mundo, sobre a possibilidade de ele não ser apenas um jogo, algo que é confirmado devido a um trecho misterioso e incriminador no qual o leitor já pode tomar como certo que Dendro não é só um VRMMO que tem a imersão completa como carro-chefe. Fica um mistério no ar que devem explorar nos próximos livros.

Fim dos spoilers.

 

A leitura é cheia de bons momentos e um deles, inclusive, muda a narração para um dos Mestres que estavam praticando PK, o que também rola nas historinhas curtas no final do volume e é uma quebra bem-vinda de ponto de vista, que eu torço para que se repita nos próximos livros.

No final das contas, eu recomendaria Infinite Dendrogram? Sem sombra de dúvidas, pois as semelhanças com tramas de premissas similares param justamente aí, nas premissas, pois o que se vê é uma história simples com ilustrações belíssimas, bons personagens e um roteiro consistente que tem um pano de fundo de um potencial enorme ainda a ser melhor explorado.

Dendro me deixou animado para o anime e também para o volume 2. A light novel pode ser adquirida em formato e-book na língua inglesa pela Amazon, é uma publicação da editora J-Novel Clube e apresenta ótima qualidade de tradução e edição. O que você está esperando para se jogar em um mundo de infinitas possibilidades? Leia Dendro, fica a dica!

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