Kaze ga Tsuyoku Fuiteiru – ep 22 e 23 final – O que é correr
Bom dia!
Haiji queria correr para descobrir o que significa correr, e foi exatamente isso o que ele e seus 9 amigos de Kansei conseguiram.
O Príncipe descobriu que com amigos, e pelos amigos, até fazer coisas que você não gosta e que não é bom em fazer pode ser gratificante. Não é o mesmo tipo de prazer e diversão que ele sente lendo seus mangás, mas é bom também.
Musa aprendeu que ele não precisa ser bom ou ruim só porque os outros esperam isso dele. Ele é ele, os outros são os outros, e quando ele aceita isso, ele consegue dar o seu melhor.
Joji e Jota descobriram que chegou a hora de cada um viver sua própria vida. Mais importante, descobriram que ao invés de fazer algo para impressionar alguém, eles se dão melhor fazendo o que eles querem fazer – e isso é que vai ser impressionante de verdade. Bem, o fato dos dois continuarem juntos e terem o mesmo fechamento de arco de personagem no final meio que mata metade da proposta, mas ok.
Shindo já sabia, mas ele provou isso da forma mais dolorosa possível: fazer o possível, esforçar-se por algo junto com outras pessoas, pode ser bastante sofrido às vezes. Não é necessariamente bonito – mas é algo para o quê ele poderá olhar para trás, depois, e se orgulhar.
Yuki descobriu que viver fechando seus sentimentos para os outros pode fazê-lo interpretar mal as coisas que acontecem ao seu redor. Conforme ele se abriu para o clube de atletismo, ele descobriu que sua mãe nunca havia deixado de pensar nele, e que seu padrasto se importa com ele também.
Nico aprendeu que às vezes não nascemos mesmo para alguma coisa, mesmo que gostemos dela, e isso é ok. Mesmo assim, é preciso dar um bom fechamento, para não arrastar o arrependimento para sempre.
Nos dois últimos episódios, Nico, Kakeru e Haiji.
O que tudo isso tem a ver com correr, em primeiro lugar? Nada em particular. É só que o Haiji gosta de correr, então ele os fez todos correrem. Muitas outras atividades poderiam servir para esse propósito – mas não qualquer atividade.
O que correr tem de especial?
É a solidão. Nesses episódios finais escutamos os pensamentos solitários de cada um dos Dez de Kansei, conforme eles refletiam sobre correr, sobre aquele momento, e sobre a própria vida.
A corrida de longa distância é uma empreitada física solitária, que dá ao corredor muito tempo livre na companhia apenas de seus próprios pensamentos. Na última e derradeira corrida eles já não tinham mais nenhuma preocupação que não apenas fazerem a sua parte, e, com altos e baixos, todos eles conseguiram, ficando então suas mentes livres para divagar.
O pensamento é também um recurso literário importante para o leitor (ou espectador) entender o personagem. Tanto ou mais importante que a história de vida dele.
Tome por exemplo o caso do Rei. Um personagem ranzinza, meio esquisito, com fixação por quizes e que está enlouquecendo à procura de emprego, aparentemente sem muito sucesso. O anime foi longo, mas são 10 personagens, considerando a história principal e o tempo necessário para desenvolver os protagonistas, como dar tempo de tela para desenvolver alguém como o Rei?
A auto-reflexão dele durante a corrida explicou em segundos muito sobre o personagem que era difícil de entender durante todos os demais episódios. Não é que ele seja ranzinza, e sim que ele seja, ao mesmo tempo, solitário e orgulhoso.
O Rei não encontra prazer ao fazer a maioria das coisas que as pessoas normais fazem, e mesmo assim ele sabe que elas se divertem e que têm vidas plenas graças a isso, e de alguma forma achou que bastaria entrar na universidade para conseguir se sentir como todas elas.
Mas não funciona assim. Existe um monte de coisas que é preciso fazer, um monte de regras sociais não escritas, e ele realmente se irrita fácil com tudo isso, então nunca conseguiu chegar aos estágios de plenitude. Mesmo quando convidado para eventos, ele não comparecia, pois sabia que se sentiria deslocado.
É por isso que forçado a fazer tanta coisa no clube de atletismo pudemos vê-lo ficar irritado tantas vezes. Como ele é orgulhoso, não é do tipo que admitiria isso, como o Príncipe, ou que buscaria fazer o que pode, como o Shindo. Note que os três têm problemas para socializar.
O Rei é o que eu já discuti e o que ele próprio se relembrou durante o episódio. O Príncipe dispensa apresentações. O Shindo pode parecer uma surpresa ao ser agrupado com os dois, mas não acho que seja o caso.
O Shindo era um cara esforçado que veio do interior. Ele tenta fazer tudo, tenta abraçar o mundo, e por isso constantemente acaba se molhando. Não é à toa que ele fosse o único a ter uma namorada, e menos ainda que ela tenha terminado com ele.
Correr, como escrevi, é uma ação solitária. Quando aceitou correr, o Rei provavelmente ainda não tinha percebido como isso realmente combinava com ele, mas na Hakone Ekiden ele definitivamente percebeu. Claro que ele não tem físico para continuar correndo e nem vontade, mas o que vale é o aprendizado. Ele se conhece melhor porque tirou um tempo para refletir – o tempo em que correu.
O Kakeru e o Haiji são simplesmente dois casos de pessoas que amam correr, como o Nico, aliás, mas por motivos distintos tiveram que parar.
O Kakeru prospera na solidão da corrida, e de verdade foi tão longe nisso que acabou perdendo o contato com as demais pessoas. Isso levou ao seu isolamento na equipe de atletismo durante o ensino médio e o deixou sem saída quando ele decidiu que precisava fazer algo sobre o treinador bully.
Tivesse ele tato social, seria uma liderança natural na equipe, como o Fujioka em sua equipe universitária, por exemplo. E nessa condição, poderia ter conseguido convencer outros colegas da equipe e pressionar o treinador apenas conversando.
Mas esse não era o Kakeru. Ele socou o treinador e parou de correr.
Haiji o trouxe de volta para a corrida e ele e os demais do clube da Kansei o ensinaram – ou melhor, ficaram lá o tempo todo até que ele aprendeu por conta própria – a socializar, apesar da solidão do corredor.
Graças a isso, Kakeru fez sua melhor corrida até então, e nem terminou cansado. Bateu o recorde do Fujioka, como prometeu que bateria. Foi um dos motores da vitória da Kansei.
O amor pela corrida, porém, sempre esteve em seu coração e o Haiji viu isso. Ao final da Hakone Ekiden, Kakeru também enxergou isso em Haiji.
Haiji também ama correr, mas seu caso é trágico. Ele é parecido com o Nico, só que pior. Seu joelho simplesmente não aguenta atividade física.
Ele já havia desistido de correr uma vez por causa disso, mas eventualmente o tempo passou e ele decidiu que não poderia simplesmente parar. É como o que escrevi sobre o Nico: não dá para desistir sem um fechamento adequado a não ser que queira carregar um arrependimento por toda a vida. Haiji não quis.
Por isso ele fez tudo o que fez. Selecionou cuidadosamente os corredores – não só os “melhores”, mas uma equipe emocionalmente equilibrada cujos membros ele acreditasse que seriam capazes de apoiar e complementar uns aos outros. Não poderiam ser quaisquer 10. Tinha que ser 10 que tivessem algo a aprender correndo, como ele.
Por isso ele depois os chantageou para que corressem. Tomou nas próprias mãos as rédeas do treinamento deles, se certificando de que conseguiriam chegar lá. Por isso correu até que todos se classificassem, por isso correu a Hakone Ekiden.
Haiji quase destruiu seu joelho, mas se isso acontecesse, paciência. O que ele não queria era desistir sem sequer tentar.
Muramasa
Final bem fechado e que vai deixar saudades.
Fábio "Mexicano" Godoy
Olá Muramasa, tudo certinho?
Final muito bem fechado, como você disse, e por isso mesmo não tenho exatamente vontade de saber o que acontece depois. Única coisa que realmente queria fazer, e por curiosidade nível fofoca, e de quem a Hana gosta afinal 😛
Mas saudade da sensação, da experiência de assistir Kaze Fui, ah, isso vai mesmo!
Obrigado pela visita e pelo comentário!
Riso
Quem ganhou a hakone ?
Fábio "Mexicano" Godoy
Olá Riso, e desculpe pela demora para responder!
Eu não vou lembrar o nome agora, meses depois de ter terminado de assistir o anime, mas foi a faculdade que era favorita mesmo, do magrelo alto lá. O protagonista, porém, fez um tempo menor do que ele no trecho em que os dois competiram, e se não estou sendo traído pela minha memória foi o recorde da competição. Sem mencionar que, para uma equipe improvisada como a deles, o fato de terem conseguido ser competitivos já foi em si uma enorme vitória.
Obrigado pela visita e pelo comentário!