Overlord é uma light novel escrita por Kugane Maruyama e magistralmente ilustrada por so-bin. A light novel, que já passou há muito das dez edições, teve seu primeiro volume lançado no Brasil (em uma belíssima edição, por sinal) e a adaptação em mangá já foi anunciada pela editora JBC. Você vai comprar?

As três temporadas do anime você pode assistir no Crunchyroll, e como Overlord é um dos isekais mais famosos da atualidade, duvido você não conhecer a obra. Mas, claro, sempre fica a pergunta, o livro ou o anime (ainda não li o mangá)? Qual é o melhor? Eu vou comentar essa e outras coisas, vem comigo!

Ao se comparar a light novel com o anime é fácil cair na velha armadilha do argumento de que o original é sempre mais “profundo” que a adaptação e isso nem é exatamente uma inverdade, mas não dá para comparar a quantidade de informação que cada mídia exige para contar uma mesma história.

Enxugando a carga de informação o anime consegue entregar um produto final de qualidade, certamente mais leve que o livro. Mas é normal que seja assim, a produção da animação visa um público ainda maior e para alcançá-lo concessões são feitas. Se perde muito na transição? Acredito que nada tão relevante.

E por quê? Porque Overlord transita bem entre a comédia e a seriedade, então não vejo problema em se acentuar um ou outro elemento na maioria das situações. Se a construção do “herói” é consistente, como acho que é em ambas as mídias, as diferenças entre elas me parecem ser perfeitamente aceitáveis.

Na história acompanhamos um salaryman, executivo de baixo escalão, figura já quase folclórica do Japão contemporâneo, em um mundo um pouco à frente tecnologicamente e temporalmente do atual, que é viciado em um VRMMORPG inspirado na cultura nórdica e acaba em um mundo similar ao do jogo.

É uma tentativa de promover a imersão do público alvo da história, ou ao menos do que os japoneses consideram que seja. A grande sacada é que Overlord não se compromete com a construção de um personagem humanizado, mas a construção de um personagem que está perdendo sua humanidade.

A perda de sentimentos, sensações e reações humanas de Momonga, ou Ainz, é exposta de forma gradativa e competente, o que é necessário para justificar as atitudes bem vilanescas do “herói”. Na verdade, mais um anti-herói, ou melhor, o vilão, como a guilda dele vestia a carapuça enquanto no jogo.

Aliás, o personagem que ele montou, um mago morto-vivo poderoso, e o próprio background da Ainz Ooal Gown já introduzem bem essa ideia de que o público vê a história sob o ponto de vista mais incomum possível, aspecto suavizado pela pegada cômica que a obra tem, ainda mais no anime.

No final das contas, Ainz tem uma boa construção de vilão mais simpático que exatamente carismático e a percepção dele sobre as mudanças que vai notando em si é o que viabiliza essa “conexão” com o personagem. Um protagonista estoico para Overlord só mutilaria o potencial de entretenimento da obra.

Ainz se adapta bem ao que se pede. Fraqueja, reflete, disfarça sua falta de confiança, mas não falha quando precisa tomar a frente nas situações. Ele é a imagem perfeita – maquiando os defeitos, claro -, de um líder digno da adoração que recebe de seus servos, que, aliás, são mais a “graça” da obra que ele.

Albedo é a serva que mais aparece nesse primeiro volume, e os gêmeos Mare e Aura vêm logo atrás, não à toa os três ganham ficha de personagem junto a Ainz. Eu posso até questionar o amor “artificial” dela, mas uma coisa é certa, Albedo é a principal “heroína” da história e é mais do que apenas uma piada boba.

A verdade é que todos os guardiões de andar da Catacumba de Nazalic são personagens bem distintos entre si, tanto em características físicas, quanto em personalidade, e isso agrega à trama. Ainz não tem que construir sua party do zero em outro mundo, já tem uma guilda para chamar de sua.

O que resta é ir aprofundando aos poucos esses personagens, sem pressa, até porque tudo gira em torno do protagonista, então ele quem deve ter mais “espaço” que qualquer outro ali e a relação que eles têm torna compreensível se o desenvolvimento desses personagens estiver subjugado ao dele.

Além disso, sejamos honestos, Overlord não é uma história de personagens bem elaborados ou super interessantes, é um isekai com piada, a do chefão que não é exatamente o que parece, uma dinâmica bem cadenciada e uma narrativa incomum por focar em personagens costumeiramente antagônicos.

Então a série normaliza a vilania e faz o público torcer pelos malfeitores? Não, pois os interesses e as ações de Ainz e seus servos quase nunca visam infligir mal sem motivo, é mais para cumprir com o que quer o ser supremo, e para isso eles estão dispostos a cometer atos de qualquer natureza.

Quando você percebe isso e sabe o que esperar de um isekai, Overlord se torna uma leitura prazerosa. Claro, se você não se importa com o detalhamento incomum a uma light novel, o que inevitavelmente provoca uma lenta evolução da trama. Em compensação, dá para entender o “herói” e o mundo.

Acho que esses são pontos positivos da obra, e sei também que são qualidades particulares a mídia escrita. No geral Overlord é uma novel bem escrita, sua proposta vai sendo construída gradativamente e a situação-problema entregue, o massacre na vila, cumpre bem seu papel de inserir Ainz nesse mundo.

Além disso, também é um evento que explora bem o aspecto da perda de humanidade do protagonista sem perder de vista o teor cômico da história, e de quebra já vai expondo características que ditarão a forma que a série tomará. Se você já viu o anime dá para sacar isso sem sequer ler o segundo volume.

Overlord é um isekai para quem gosta do isekai típico (os famosos “genéricos”), mas também para quem quer ler uma história mais séria (ainda que tenha lá seus clichês) com características incomuns que a tornam uma leitura interessante. O preço está salgado, eu sei, mas sempre tem promo na Amazon.

Até a próxima!

P.S.: A edição física é ótima e tem bem poucos erros, vale o preço, ainda mais se, como eu, você comprá-la por menos da metade do preço indicado. Também tem a versão digital caso não se importe de não ter o livro em mãos.

Comentários