Pet dá a resposta mais óbvia possível ao questionamento do título deste artigo. Se as pessoas pudessem invadir, dominar, sabotar a mente humana, elas fariam isso. Possivelmente não todas, mas aposto que a maioria das pessoas faria isso em causa própria.

É uma escolha delas, o problema é quando esse egoísmo anda de mãos dadas com o crime. Quem vai parar criminosos capazes de invadir a mente humana e controlá-la de dentro? Como provar que isso foi feito e prender os infratores? O que acontecerá em Pet?

Acho que o ponto mais interessante dessa estreia não foi as ótimas músicas interpretadas pelo Lin Tosite Sigure e seu vocalista em carreira solo, mas a proposta de começar a contar a história sob o ponto de vista dos bandidos. Há o trecho inicial que apresenta o conceito, mas o desenvolvimento é com o crime em curso.

O Kenji, que poderia ser um protagonista em busca de vingança, me parece ter sido usado apenas para mostrar ao público como agem aqueles capazes de entrar na mente dos outros e saber o que estão pensando, além de manipular suas memórias e ações.

Os pets aqui retratados são agentes do submundo usados para a produção de crimes perfeitos ou algo próximo disso, mas não é como se tal habilidade não possuísse fraquezas. E foi o trecho inicial com o garoto que alarmou para isso.

Ao mesmo tempo em que invadem a mente das pessoas os pets também podem ter suas mentes invadidas ou sobrecarregadas. No meio no qual estão inseridos no que isso implica? Que qualquer atrito entre pets pode e deve ser mortal. Na verdade, sequer se faz necessário um agente externo a fim de puni-los caso isso ocorra.

Aliás, uma das dificuldades maiores deve ser essa, provar que foi essa habilidade o meio usado para cometer um crime, mas confesso que gostaria de ver isso no anime. É interessante não ter um núcleo de mocinhos no qual se apoiar, entretanto, duvido que apenas pets que usam sua habilidade para o crime apareçam, né.

Uma crítica à forma de usar o poder deve ser feita eventualmente e, ainda que a polícia não se envolva, basta que essa crítica seja aprofundada. É imoral invadir o íntimo de uma pessoa, isso é fato, mas o que levaria alguém a abrir mão desse poder? Apenas uma crise moral que foi retardada ou algo a mais, como essa vulnerabilidade?

É por isso que o Hayashi do início do episódio orienta a criança que é igual a ele. É por isso que o Katsuragi do início do episódio parece mais novo. Hayashi deve ser essa “voz da consciência” que mudará o status quo dessa organização criminosa? Veremos. Mas se tivesse que apostar em algo seria nisso.

Ademais, o conceito apresentado foi bastante interessante. A formação da “imagem”, o equilíbrio entre um “pico” e um “vale”, a possibilidade de um pet viver uma vida normal, não é como se eles fossem obrigados a usarem ativamente esse poder, etc. Há muitos pontos interessantes a serem explorados.

Quanto à produção em si, ficou na média para o estúdio Geno, que tem se especializado em animes com uma pegada mais “adulta”, ainda que esteja apenas em seu quarto trabalho. O charme da estreia esteve em sua abertura e encerramento, assim como no apelo das imagens mentais e ilusões dos personagens.

Até que ponto Pet pode ir enquanto crítica à tentativa de “domar” a mente humana, que eu creio que será feita, é o que me prende a esse anime. Uma história que começa tentando sair do lugar comum, de uma estrutura narrativa previsível, e tem tudo para ser instigante em seu próprio ritmo.

P.S.: Originalmente Pet é um mangá de quase duas décadas concluído em 5 volumes, então tende a ter final fechado e diferenças na adaptação para a telinha.

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