Oshi ga Budoukan Ittekuretara Shinu – ep 3 – Alguém que sempre vai te amar
Budoukan continua tão bom que parece um grupo idol underground que atinge o auge, quase uma mentira. Com mais mal-entendidos, é verdade, mas ainda aceitáveis dentro do contexto, e tantos outros ótimos momentos que devem encantar até mesmo quem não é wota, ou um projeto de wota como eu.
Qual é a linha que separa o amor de fã e o amor romântico? Ela é mais tênue do que parece? Vou comentar esses e outros tópicos no artigo. É hora de Budoukan no Anime21!
Confundir o amor que se tem por um ídolo com o amor que se tem por um parceiro não é tão incomum, ao menos se fica no íntimo da pessoa ou em uma conversa entre amigos, como o retratado no anime. O problema é levar isso a um extremo, e alguns fãs de idols fazem isso, mas a intenção do anime não é tocar em pontos nebulosos, ainda mais porque a Eripiyo e seus amigos não são extremos a esse ponto.
O que eu tiro da conversa inicial do trio ternura é que cada um tem sua forma de ver o amor que dedica a quem admira, pensar na idol de forma romântica não é exatamente recriminável se fica no campo platônico, não interferindo na relação de fã e admirada. Há certas linhas que não devem ser ultrapassadas e por mais que o Motoi “ame” a Sorane o anime não deve insistir em quebrá-las, ao menos não com ele.
O ponto aqui é distinguir o que a Eripiyo sente, se fica só no campo da idolatria ou tem contornos mais “íntimos”. A conclusão a que o episódio chega não me pareceu clara, o que eu entendo, afinal, muitas vezes não é fácil fazer essa distinção, chegar rapidamente a uma conclusão. Diria até que faria mais sentido a Eripiyo ter certeza de algo se a Maina respondesse honestamente aos seus sentimentos…
Aos sentimentos de fã por admirada, que é o que parece que a Maina aprecia na sua fã número um, apesar de que nesse episódio ficou claro um ciuminho de ambos os lados. Pelo lado da fã ele faz todo sentido, afinal, foi a primeira vez que outra fã da Maina apareceu, mas pelo lado da idol me passou a impressão de ter um teor pessoal, como se ela não quisesse mesmo é outra garota próxima a Eripiyo.
Aliás, esse episódio perdeu mais de uma oportunidade de pôr fim de uma vez por todas no ruído de comunicação entre as duas. Não pôs, e isso não ficou exatamente forçado, não vendo toda a dificuldade que a Maina tem em ser sincera. Tanto é que duvido muito da descrição de homem ideal dela, me pareceu que ela falou qualquer coisa só para constar ali, ou quem sabe tenha uma resposta próxima a da colega, Reo.
Parece que a Maina só tem tanta dificuldade em falar a verdade por ser a Eripiyo, porque ela é muito importante para a garota salmão e ela teme sua reação. Honestamente, se for isso ou só isso é besteira, pois é claro que a reação vai ser a melhor possível. Ou talvez ela só não queira se mostrar vulnerável para não correr o risco de ultrapassar uma linha que em teoria não deveria ser ultrapassada, a de se apaixonar?
Não tenho certeza, tenho medo de apostar na a explicação mais simples e quebrar a cara. Na verdade, nem é isso o que importa, né, mas sim como o anime é ótimo em construir situações entre as duas, propor reflexões e lançar mão de elementos que as explorem da melhor maneira possível, tudo enquanto faz rir com situações absurdas. Na verdade, nem tão absurdas assim para fãs tão hardcore.
Inclusive, a reclamação da Eripiyo sobre a Maina ser uma humana é bem interessante em uma época na qual vocaloids (você deve saber o que é, não me decepcione, por favor!) fazem tanto sucesso, pois a partir do momento em que o fã se desconecta da noção de que quem ele admira é humano, fica mais fácil que esse amor se extingue ou mude drasticamente caso o que a pessoa deseja não seja atendido.
A Eripiyo teme não ter seu sentimento notado e apreciado e isso a deixa insegura, mas basta que ela tenha contato com a Maina e ao modo da garota, a passos de tartaruga, uma resposta positiva seja dada para que a fã número um sem guarda roupa reverbere de felicidade e espante os temores de outrora.
Isso se dá justamente porque é a Maina, mas a Maina só responde no tempo dela e da forma dela, provocando encantamento na fã, porque é um ser humano. Se a Eripiyo optasse pelo caminho mais fácil, de amar um ser com personalidade que se encaixasse em suas demandas, a possibilidade de ela se sentir vazia nesse tipo de relação seria muito maior.
Fosse uma heroína de jogo galge ou algo similar a resposta positiva viria sem esforço algum. É por isso que muitas pessoas criticam como os otakus se relacionam com o 2D, pois às vezes ocorre uma dissociação do que é uma relação real. Não existe relação de verdade se você não precisa se encaixar a outra pessoa, dialogar, discordar e, principalmente, pisar fora da sua zona de conforto. Com o 2D é só você pensando.
Na realidade, quem sou eu para questionar a relação de um otaku com o 2D (logo eu), mas a diferença entre se relacionar com o humano e o inumano é tão grande que todo mundo vê, né. O episódio mostra isso com a reação fofa e insegura da Maina, mas também pela forma como o que ela disse motivou a Eripiyo a continuar sendo como é. Algo 2D a faria se sentir realmente instigada a continuar nessa jornada? Duvido…
Até porque a resposta almejada por ela anda não veio e ela sequer sabe se virá, com o que não é humano ela viria sem sombra de dúvidas, seria só questão de tempo, e do quanto ela estaria disposta a gastar para encurtar esse tempo… Adoro personagens 2D, mas curto mais os artistas por trás do entretenimento que curto; sejam músicos, escritores, atores, etc. Afinal, sem o 3D o 2D não existiria.
Enfim, o bizarro e hilário visual da Eripiyo me fez rir bastante, mas o ponto alto desse episódio não foi a comédia e sim o desencontro que resultou no contato entre a fã antiga e a nova, o projeto de Sorane que explora a ideia de um irmão siscon com o Motoi. Espero que o anime não perca tempo com isso. A “coincidência”, de uma ova, deve ser só para zoar um pouco mais.
Sei que deve dar para explicar isso como uma projeção da irmã na idol, mas gastar muito tempo com o tópico não me parece ser o mais apropriado, ao menos não se não houver como fazer um link com a protagonista e a co-protagonista.
O proveitoso disso foi a variação que essa nova personagem trouxe a trama e a possibilidade de esse fato novo dar o empurrãozinho necessário para que as heroínas consigam alinhar seus corações. Talvez ao sentir o status quo ameaçado a Maina consiga abrir seu coração e ao ver que vai ter “concorrência” a Eripiyo descubra mais do aspecto romântico que pode estar escondido no amor que sente pela Maina.
Isso é só suposição, não sei para que direção o anime vai, só sei que indo além nisso ou não, o fato é que está havendo desenvolvimento para que a exploração dessa “pegada romântica” se dê de forma consistente, faça sentido estar ali. Budoukan é muito divertido, bem produzido e bizarro (na verdade, é até palpável dentro da proposta), mas o anime fala sério quando o assunto é sério (na medida do possível, claro).
Por fim, foi outro episódio lindo de se ver, a cena final no trem foi ótima, é só uma pena que exista essa indicação de não manter contato com a idol fora do trabalho dela, eu imagino que tenha sido esse o caso, pois se não fosse isso não é possível que as duas não tivessem começado a se entender.
Vai demorar um pouco mais, é verdade, mas tenho fé de que uma hora dê certo, e que até lá as personagens sigam sendo bem construídas e essa construção seja bem aproveitada.
Budoukan ainda passa longe da falta de afinação, pois, apesar de eu não ter curtido tanto a manutenção da situação entre as duas, minha expectativa sobre o que o anime pode entregar continua alta, condizente com sua qualidade.
Até a próxima!