Major 2nd 2 finalmente está de volta e em grande estilo, com mulher mostrando a homem onde é o seu lugar, que é em todo lugar, e uma partida interessante de acompanhar, seja pelo desenrolar técnico ou estratégico. O time da Fuurin começou muito bem a partida, mas a gente sabe que próximo episódio o caldo vai entornar e é na dificuldade que esse anime brilha. Vamos falar de mais um excelente episódio do anime que só marca home run?

Iniciar o jogo na defesa e atacar depois segue a mesma lógica de começar a bater os pênaltis depois no futebol? Eu acho que sim, porque aí você joga a responsabilidade de acertar para o adversário, é o seu time que espera para ver o que vai acontecer. Faço essas analogias com futebol porque é o esporte que mais conheço e imagino que esse também seja seu caso e, felizmente, algumas das ideias não variam muito entre esportes coletivos, né.

Mas como decidem na sorte quem começa as séries alternadas, o jeito é se preparar para ambos cenários. Inclusive, o duelo estratégico foi algo bem trabalhado como pano de fundo de uma partida técnica, mas também bem emocional, afinal, enfrentar um time cheio de garotas atiçou o preconceito dos garotos. Sobre a estratégia, tanto houve vantagem para a Fuurin, quanto desvantagem para os garotos prepotentes do time adversário.

Subestimar o adversário é um dos piores defeitos no esporte e isso ocorreu aproveitando um detalhe que em outro caso poderia prejudicar o time da Fuurin, mas na verdade se provou uma arma. A sagacidade da Chisato ao usar sua fofura para baixar a guarda do arremessador foi sensacional, mostrando que a garota tem sim consciência da atração que exerce nos garotos e de que isso pode não ser ruim se usado em um momento chave.

Claro, isso se o adversário subestima o time por ele ser prioritariamente feminino, com o decorrer do jogo, com eles vendo como o time da Fuurin joga, esse artifício não deve ter o mesmo efeito, então se havia uma hora apropriada para usar isso era no início do jogo. Estrategicamente não era o ideal, mas iniciar no ataque virou ao favor da Fuurin devido a forma como o outro time se portou diante de adversárias inferiores na visão deles.

Situações como essa mostram como o machismo estrutural prejudica até mesmo ao homem, afinal, ele perde competitividade em um cenário que subestima o adversário por ser mulher. Não estou aqui defendendo quem é machista, pelo contrario, só comentando que é algo nocivo e que a forma como foi combatido pelas garotas foi demais. A mulher não precisa anular sua feminilidade para mostrar seu valor, uma coisa não anula a outra.

Aliás, a feminilidade é uma característica comum a figura feminina, mas com certeza não é relevante na prática esportiva, foi uma situação excepcional, e obviamente as garotas tinham tudo o que era necessário para jogar bem. Se aproveitaram do preconceito, mas têm seus méritos por terem conseguido capturar bases e marcar um home run em uma cena muito engraçada que me lembra como a Sawa é divertida, apesar de ser mais séria.

Vendo os vacilos de seus comandados o técnico do outro time nos lembrou a importância da estratégia no jogo, não que todo time de basebol consiga espiar o outro (creio que times profissionais não tenham essa sorte), mas no nível em que estão é uma arma e é ainda mais sagaz usá-la a seu favor. Não que fosse certo que o Daigo não treinaria para lidar com arremessos de efeito, mas o próprio treinador não sabia como a Fuurin viria após expiar.

Ele se precaveu ao não deixar o time relaxar antes, mas existe um limite até para a espionagem, né. A prova foi a mudança no jogo após o arremessador ter sido orientado e a solidez da defesa da Fuurin na segunda parte da primeira série. O Daigo foi surpreendido e imagino que isso vai servir de lição para outros jogos (trabalhar com a possibilidade de ter sido notado e induzido a ver menos do que o outro time realmente tem a oferecer).

Enfim, o fator psicológico da Sakura estava associado a mudança de ambiente, de campo, e também consigo relacionar isso ao futebol, a diferença reside em sua posição fixa, então sem uma mudança física a estabilização de seu jogo seria quase impossível naquela rodada, mas o Daigo usou da experiência adquirida com o pai para resolver o impasse, o tipo de atuação que a gente pode esperar de um líder atencioso, e filho de jogador, né.

Já a ideia do arremessador ser uma criatura delicada, que denota várias condições a fim de conseguir extrair o melhor de suas capacidades, achei algo legal pela forma prática como foi trabalhada. Arremessadores não são frívolos por precisarem dessa atenção, ainda mais por atuarem em uma parte específica do campo com terreno diferente, que tem relevo, e desempenharem papel estratégico do jogo. não deixar o rebatedor acertar uma.

Aliás, mesmo que ele acerte, se o arremessador conseguir induzir a bola para onde ele quer, ganhando tempo para não perder suas bases ou não tomar um home run, sua função já estará bem feita. Foi o que rolou com a Sakura; sua ansiedade, seu nervosismo, sofria influência das condições de jogo, com isso ajustado e a confiança, assim também como a cobrança das companheiras, o natural seria desempenhar o melhor de seu basebol.

E seu melhor era o suficiente para manter o jogo a favor da Fuurin dentro da estratégia típica do basebol e sem a folga de antes do adversário. No máximo, dá para escrever que seu início ruim baixou a expectativa já não muito alta que havia nela, mas isso faz parte do jogo com paradas técnicas, né. A possibilidade de mudança depois de ajustes físicos e/ou psicológicos é uma das muitas váriaveis que tornam o basebol um esporte tão bacana.

Só é uma pena que o Nishina não faça jus a unidade do time, pois só pensa em si mesmo. A Anita pode até ser ríspida, mas não quer brilhar mais que ninguém, quer que brilhe o todo. O Tanba vai ter problemas próximo episódio, mas espero que o NIshina também aprenda alguma lição a fim de mudar esse seu individualismo mesquinho. Não por acaso ele é o Daigo são a bateria reserva, o capitão ainda tem muito o que ensinar para ele.

Por fim, Major 2nd 2 voltou em um ritmo mais cadenciado, o apropriado para o início de uma primeira partida, mas nem por isso menos bom, afinal, trabalhou muito bem a força das garotas em um esporte, infelizmente, tão enraizado na cultura do machismo (se não fosse elas não teriam sido vistas como párias no começo, né), e explorou os vários aspectos do jogo (tático, técnico e psicológico) com toda a qualidade e originalidade da série.

Repito, lugar de mulher é onde ela quiser, não importa onde. Não existem mulheres fisiculturistas? Não existem mulheres astronautas? Já ouvi falar até em lutadoras de sumô, então por que mulheres não podem e devem jogar basebol, ou fazer qualquer outra coisa, se assim quiserem? Preconceito não se cria aqui não e pelo visto nem em Major 2nd, uma história que enfrenta o problema através de construções palpáveis e saídas criativas.

Até a próxima!

Uma enciclopédia de expressões em um jogo de basebol

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