Burn the Witch é o novo mangá de Tite Kubo, autor de Bleach, e se passa no mesmo universo de seu maior sucesso, mas você não precisar ler ele para curtir essa nova aventura mais “descolada”. Na história acompanhamos Noel e Ninny, duas garotas que trabalham na Londres reversa. Elas são bruxas responsáveis por lidar com dragões, seres mágicos envolvidos em vários incidentes no mundo humano.

Logo na primeira página do one-shot o Kubo me vem com uma frase tão icônica quanto aleatória. Noel gosta de uniformes, nada contra isso, mas o que tem a ver essa declaração com o resto da história? Absolutamente nada, mas sim, é uma forma crativa de quebrar o gelo e fazer o leitor não levar nada tão a sério. Aliás, neste artigo vou comentar o one-shot e o primeiro capítulo da mini-série que será esse mangá.

Enfim, o tarado das calcinhas é só um besteirol entre muitos que aparecem nas páginas, mas, felizmente, esse não se alonga na idiotice, é mais usado como ligação entre personagens chave. Li Bleach há mais de dez anos e só alguns volumes, então não lembro da escrita do Kubo, mas por esse mangá é possível notar as limitações do autor. Felizmente, ele dá uma compensada com sacadas inusitadas e engraçadas.

Burn the Witch acaba sendo um mangá que você não deve mesmo levar tão a sério e durante a leitura eu achei isso ótimo. Há um inegável ponto positivo da escrita de Kubo e é a habilidade na caracterização dos elementos mágicos da trama. Por exemplo, a figura do dragão é mais usada como um conceito abrangente que da forma comum na fantasia e isso dá margem a variações interessantes, imprevisíveis.

E não fica só nisso, também é criativa a forma como o autor constroí a sociedade em cima dessa figura. Os dragões causam transtornos e precisam ser exterminados quando colocam vidas humanas em risco, mas não existem só os dragões violentos, os dragões negros, tanto é que Noel e Ninny trabalham na divisão responsável pela manutenção da boa convivência entre as duas raças, dragões e humanos.

Ninny, inclusive, deseja a promoção, enquanto Noel é indiferente e o contraste entre as personalidades das duas pode não ser grande, mas rende interações que combinam com o ritmo que o autor tenta empregar na narrativa. Não tem muitos personagens além das duas no piloto, mas o Balgo, o ladrão de calcinhas, é o ponto de virada na trama, é quem sofre o plot twist e por causa disso novas possibilidades se abrem.

Infelizmente, elas começam a ser exploradas apenas na serialização. De toda forma, o desfecho do one-shot é bem dentro do esperado para esse tipo de mangá; com ação, mas não tanto; e se o belo traço é um dos méritos inegáveis de Kubo, do timming cômico não posso garantir o mesmo. Entretanto, fui capaz de me divertir com o estilo que ele busca empregar e as leves quebras de ritmo propositais.

Por fim, achei o saldo positivo, tanto é que curti mais o piloto que a estreia em série curta, pois ele foi mais completo como apresentação. Não que o primeiro capítulo precisasse fazer isso, ele segue a história do one-shot com uma breve passagem de tempo, mas ele acaba com algo desinteressante, no máximo leva o leitor a saber por quais caminhos a trama seguirá na tentativa de se manter minimamente interessante.

A aparente conveniência da situação problema, o Balgo atrair dragões e isso ter causado um evento raro, não me incomodou, porque tem como justificar o caso dele. Por exemplo, ele passou dez anos em contato com um dragão, talvez isso seja o suficiente para que ele gere mais problemas que o comum para pessoas na mesma situação que ele. Sendo assim, o caminho fica aberto para que as heroínas brilhem.

É claro que haverão obstáculos, o comitê que surge no final do capítulo um dá a entender que Balgo vai ter a cabeça a prémio e que isso respingará em suas salvadoras. Até aí tudo bem, o desenrolar faz sentido, o que me incomoda é a apresentação de inúmeros personagens em uma trama planejada para ser tão curta, parece que só vai ter quatro capítulos, exceto se a duração for apenas para fazer uma sondagem…

Sondar a recepção para ver se vale a pena explorar mais da história. Burn the Witch já tem um filme anunciado para outubro e sua exibição nos cinemas e em canais de streaming ao redor do mundo está garantida (aqui no Brasil vai sair na Crunchyroll), mas nada impede que o Kubo faça mais, né. Não aposto muito nisso, então me contento em indicar a leitura para quem não se importa com histórias complexas.

Aliás, talvez complexa nem seja o termo certo, mas é um mangá shonen de um autor manjado no meio, dá para esperar mais do mesmo facilmente. Menos mal que a proposta traz um frescor até inusitado para quem se destacou por algo mais voltado a ação. Burn the Witch é mais estilo e marra que pancadaria e poderzinho, é uma série com uma pegada mais moderna que agrada se as expectativas são baixas.

Você pode ler o primeiro capítulo da serialização no aplicativo Manga PLUS da Shueisha em que muitas outras obras da Shonen Jump e de outras revistas da editora são lançadas. Está disponível em inglês e espanhol, indico para treinar a língua. Ademais, quero descobrir porque a Noel quer tanto grana, a Ninny já consegui entender melhor e já imagino como a trama vai acabar. De toda forma, vamos lá “pagar” para ver!

Até a próxima!

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