Honomieru Shounen (Phantom Seer) é um mangá escrito por Tougo Gotou e ilustrado por Kento Matsuura (Tokyo Shinobi Squad) e o segundo título da mais nova leva da Shounen Jump (a primeira foi Burn the Witch).

Na história acompanhamos Riku Aibetsu, uma garota boa que gosta de ajudar os outros, e Iori Katanagi, um garoto misterioso sobre o qual pairam alguns boatos na escola. Um dia Iori chama Riku para conversar em particular e a alerta sobre a existência de espectros e que um assombra a garota, levando os dois a resolver a situação e criar um laço, mesmo que seus talentos se oponham aos seus desejos.

O primeiro ponto de destaque do mangá certamente é sua arte, muito bonita e bem acabada. Inclusive, a obra teve um one-shot anos atrás e o autor realçou o traço e o roteiro em vários pontos. O ilustrador é o mesmo de Tokyo Shinobi Squad, um mangá que não vingou na revista e foi cancelado cedo, mas também lembro de ser elogiado por sua arte (ainda que o ilustrador fosse o roteirista e o roteiro fosse ruim).

Enfim, se a arte já agrada de cara, a apresentação consistente, ainda que bem simples, também ajuda e faz dessa estreia merecedora de uma chance. Se a heroína, Riku, chafurda no estereótipo de boazinha que adora ajudar os outros, o qual a gente vê muito em mangás, Iori, o herói, já foge un pouco do clichê ao ser alguém dotado de talento como exorcista, mas que não quer levar a vida assim, pelo contrário. É como o Kira da quarta parte de Jojo? Algo assim.

Se a escrita não é brilhante, a ideia de juntar dois personagens com semelhanças (sobre as quais comentarei mais a frente) e diferenças claras acaba sendo bem interessante, porque torna mais fácil desenvolver uma interação natural em meio a um mundo sobrrnatural com potencial ainda a ser explorado. Há espectros e xamãs que os exorcisam, mas o que mais se esconde nas sombras desse mundo? A heroína, por exemplo, é diferente do herói, mas também está envolvida com os tais espectros.

Enfim, quanto ao decorrer da trama desse piloto o plot twist pode ter sido previsível, mas isso não foi exatamente ruim visto que torna o que é revelado sobre a heroína uma explicação coerente para o que ela achava ser a conciliação de dom e objetivo, mas na verdade era exatamente o oposto. Trabalhar com esses conceitos acaba por compensar um pouco a falta de tempo para se conhecer e se aprofundar os personagens (um piloto tem que se vender de forma rápida e atraente) e traz uma dose de criatividade.

Se o seguimento das ações é previsível, não posso escrever, porém, que seja mal amarrado, além disso, se é insuficiente para se apegar aos personagens, já basta para se dispor a ler o próximo capítulo, até porque a ação apresentada parece apenas um aperitivo. O mangá não deixa claro se seguirá pelo caminho da ação, se sustentando como um battle shonen, mas ao mesmo tempo não fecha as portas para essa possibilidade. Há usuários de poderes sobrenaturais providos por criaturas sobrenaturais, mas o leitor ainda não conhece qualquer variação.

Voltando aos personagens, o X da questão para os dois é que aquilo que coloca em xeque o que querem fazer e a possibilidade de conseguirem é o mesmo e é justamente isso que acaba os aproximando. O Iori diz uma coisa e faz outra por ter suas circunstâncias e a abnegada Riku acaba seguindo um pouco na mesma pegada por ter o apoio dele. Não só pela proteção que ficou acertado que proveria a ela, mas o apoio moral, a palavra de incentivo responsável e madura dada, que parece bem crível se pensarmos que o garoto sabe bem pelo que ela está passando.

O tom cômico do mangá aparece em momentos pontuais e dá uma aliviada típica de mangá shounen que visa equilibrar, na medida do possível, sua carga dramática, fazendo com que o leitor leve sim a coisa a sério, mas não ao ponto de ser apenas aquilo e pronto. Não dá tempo de se sensibilizar tanto com os personagens para que o drama dê sustentação a trama, então balancear os momentos acaba sendo a melhor escolha possível. Nem todo mangá precisa de um background trágico para ser levado a sério, né.

Por fim, como pontos negativos posso frisar que o roteiro não foi exatamente inovador ou instigante, mas pelo menos apresentou uma consistência bem agradável (e, infelizmente, nem tão comum) de se ver na revista principal da Jump, o que pode ajudar a série a se sustentar a longo prazo, mas também pode ser um defeito caso o autor não consiga dar ainda mais personalidade a história com o passar dos capítulos. Pela arte acredito que isso não será assim tão difícil de alcançar, pois Kento faz bonito.

Como pontos positivos há o que já citei; a saída para a fácil empatia entre os personagens, a ótima arte e o desenvolvimento previsível, mas inegavelmente consistente. O feijão com arroz é bem-feito, pontuo até que as melhorias visuais e de roteiro feitas em comparação com o one-shot melhoraram mesmo o produto final ao ponto de eu realmente acreditar ser possível a sobrevivência na selva que é a Jump principal. Dependerá do segundo capítulo em diante e da pegada que a série tiver, além, é claro, de coisas que cativem o leitor como boa ação e drama.

Normalmente daria só um sete a uma estreia boa, mas longe do espetacular, porém, fui muito com a cara dos personagens e gostei da proposta, além das sacadas e, claro, do traço. Honomieru Shounen tem um potencial que se bem aproveitado pode render uma série de sucesso.

Até a próxima!

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