Koi ka Mahou ka Wakaranai! (I don’t know if it’s LOVE or MAGIC!) é o novo mangá de Atsushi Uchiyama (Sekai ka Kanojo ka Erabenai) em lançamento na Weekly Shounen Magazine. A obra é uma comédia romântica ecchi que conta a história de Kaito Miyamae, um garoto que não consegue usar magia.

Ainda assim, Kaito estuda na Academia de Magia Seiryuu, em que os alunos são divididos por ranks e gozam de prestígio de acordo com seu talento. Kaito não tem talento para magia e ainda por cima abraça os rumores de que quer poderes para construir um harém, algo que ele não faz ideia de como entrará em seu alcance.

O mal-entendido do harém me fez pensar em fake news, mas como não sei se isso também é tendência no Japão o máximo que posso comentar é que gostei da abordagem do protagonista com a questão, porque ao invés de tentar desfezar o mal-entendido ele o abraça como forma de evitar uma chacota pior, que sofreria se soubessem de seu real objetivo, ser um mago do rank mais alto.

Dada a experiência traumática de ter falhado com a amiga de infância com a qual fez uma promessa eu entendo essa ação dele como uma forma de proteção e, por incrível que pareça, gosto dela. Infelizmente, já não posso dizer o mesmo de maior parte do piloto, que até tem um traço polido, mas abusa de clichês e saídas fáceis quando poderiam haver escolhas mais criativas.

Por exemplo, a oportunidade de explorar um sentimento (mesmo se este for inconsciente) da Yui, a amiga de infância mais velha, foi desperdiçada. As ações dela indicam que gosta do protagonista, mas ela age mais como uma irmãzona que qualquer outra coisa. O que decepciona um pouco, porque ela é apresentada mesmo antes daquela que deve ser a heroína principal da história.

Kaito fez uma promessa com Mai de chegar ao topo com ela, mas falha por sua falta de aptidão para magia, o que parece ter sido o motivo para o afastamento dos dois, mas não o desaparecimento do carinho que demonstram um pelo outro em momentos distintos do capítulo.

Pelo pouco que aparece não dá para saber muito como é a personagem, mas uma coisa é certa, ela gosta do protagonista, desse clichê nenhum romcom escapa. E se a Mai se ergue para animá-lo na hora H e isso é muito clichê, posso escrever o mesmo sobre a defesa quase que suicida que ele tenta fazer dela. O problema é que logicamente o primeiro faz sentido, o segundo não e essa escolha de como agir dele acessou um problema que poderia ter sido evitado.

O desafio foi o cúmulo? O capítulo foi construído em cima de sucessivos clichês, mas o protagonista sem magia alguma desafiar alguém muito mais forte que ele com certeza foi o tipo de saída imbecil que o leitor não precisava engolir.

Custava ela ter feito o desafio e ele ter aceitado por alguma circunstância específica? Kaito além de ser sonhador é burro, o que é uma pena, pois apesar do perfil padrão consegui até simpatizar com os personagens.

Já não sei se posso dizer o mesmo da última heroína apresentada, Kiara. Na verdade, até gostei dela ser uma influencer (Atsushi não é o primeiro autor que vejo a adaptar seus personagens as novas tendências) e disso ter uma certa relação com seu rank, afinal, uma coisa parece se alimentar da outra. Porém, a personalidade dela é meio chatinha e pior, acaba entrando de metida na história.

A cena dela sendo enfeitiçada pelo olhar 43 do prota, porque é isso que a magia de charme que ele desperta do mais absoluto nada é, me incomodou bastante pelo uso sem graça do ecchi. Ok, tem mamilos, mas ela aproveita o erotismo que esse tipo de situação poderia ter? Acho que não, e se o romance não sai muito do clichê, o ecchi e a comédia também não oferecem nada de realmente interessante.

A estrutura narrativa é toda muito batida, sequer houve criatividade para se aproveitar das fraquezas do prota a fim de construir um personagem mais interessante. Ele apenas é o cara sonhador que no fim das contas acaba não agindo da forma pragmática que a aceitação da imagem que os outros constroem dele poderia supor.

Além disso, o surgimento do poder dele é a cereja do bolo de um piloto visualmente agradável, mas narrativamente medíocre mesmo em posse de uma premissa que poderia render mais justamente pela forma como ela poderia quebrar mais clichês do que realmente faz.

O protagonista não rejeitar a má fama acaba sendo pouco em comparação a dupla de amigas de infância (cada uma demonstrando seu afeto de forma diferente), a terceira heroína mais esquentadinha, o desafio, a quebra de expectativa (por parte dos outros personagens) do resultado da peleja, etc.

No fim das contas, acaba que, apesar de indicar a galhofa, a premissa tinha mais potencial do que foi aproveitado. Por exemplo, prevejo que o “charme” do Kaito não vai funcionar em quem já gosta dele, mais garotas serão anexadas ao harém que a página dupla colorida indica e, mesmo com isso, a disputa real pelo coração do prota deve ficar entre duas, muito provavelmente as duas primeiras a darem as caras, Yui e Mai.

Se você seguir o mangá pode me cobrar depois, isso se der tempo de rolar tudo isso antes de um possível cancelamento, porque o autor vai ter que se esforçar pelo menos um pouco mais para garantir seu espaço. Seja como romance, ecchi ou comédia; a princípio KoiMahou (imagino que esse será o apelido que vai pegar) não se destacou por nenhum desses elementos.

Elogio a premissa e a sensibilidade do autor em tentar aproximar o publico-alvo (ainda que em mínimos detalhes) da história, além de seu belo traço, mas contesto suas escolhas narrativas muito presas a clichês, algumas nada lógicas, para dizer o mínimo, além do uso rasteiro do ecchi (é um elemento que poderia ter sido melhor aproveitado, com mais utilidade) e um problema que dificulta a realização do objetivo.

Não sabemos se o poder do protagonista funciona em homens também, mas se não funcionar, como ele faria em um duelo? E mesmo se funcionar, virar o garanhão é um meio que ele vai abraçar para atingir o maior rank? Aliás, socialmente ele poderá ascender com esse poder? Se não, como fará para quebrar os limites impostos por sua condição?

Sei que foi apenas o piloto, mas o autor vai ter que ser criativo se quiser fazer com que Kaito ande lado a lado com Mai, em todos os sentidos, com esse poder, até pelo harém que vai se formar em torno dele.

Aposto que é ele que vai atrasar qualquer desenvolvimento romântico real na história (aliás, isso sempre acontece) e que corre o risco do mangá se resumir a isso, sem uma construção de mundo além, a qual até poderia justificar o objetivo da Mai. A gente sabe que o protagonista quer ser o fodão por causa dela, né.

KoiMahou falha pelo medo de arriscar, não que desse para esperar muito mais do que é mostrado, mais inverter um ou outro clichê já daria um ar mais interessante a obra, além de mais coerência ser necessária para sustentar uma trama envolvente a longo prazo.

Não que o público de romcom ecchi seja dos mais exigentes, mas se a história se resumir a garotas se jogando aos pés do protagonista (e um que tenta parecer racional, precisa ser, mas não é) não deve sobreviver. E se sobreviver, nem anime deve pegar. Confesso que até me diverti, mas eu me divirto com (quase) qualquer coisa…

Até a próxima!

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