Nine Dragons’ Ball Parade (Kowloon’s Ball Parade) é o mais novo mangá de esportes da Weekly Shounen Jump e que, por tabela, é lançado em inglês e espanhol no app Manga PLUS da Shueisha. A história é de Mikiyasu Kamada e as ilustrações de Ashibi Fukui.

Na história acompanhamos Tamao Azukida, um garoto franzino e inteligente, mas muito dedicado, que tem o sonho de se tornar jogador de basebol de um grande time do colegial. Na peneira para se juntar a esse time ele conhece Tao Ryudo, um talentoso arremessador que decide compartilhar seu sonho com Azukida.

O protagonista é mirradinho e certinho demais, mas isso é o mesmo que ser sem graça? Não necessariamente, diria até que gostei bastante dele, mas é inevitável comentar que toda sua frieza, inteligência e até mesmo o que ele fala dão a entender um estereótipo um tanto manjado no meio dos mangás.

Essa ideia de que um jogo pode ser definido pela inteligência acima da média de um jogador não é de todo errada, mas qualquer pessoa que acompanha um esporte (eu acompanho futebol) sabe que não é bem assim. Mas claro, foi apenas um piloto, ainda é cedo para dizer que a história só será assim.

Mas com certeza já no primeiro capítulo essa super exposição de capacidade de observação e estratégia certeira, com direito a frase de feito que já fez muitos leitores torcerem o nariz, não ajudou muito porque acho que o equilíbrio com o fator imponderável que cerca o esporte, mesmo um de muita estratégia como o basebol, poderia ter havido.

Até porque a situação problema apresentada no piloto é de uma peneira para um grande time de basebol do colegial, não seria estranho se um ou outro garoto ali fizesse algo fora dos planos do Azukida mesmo se você considerar que ele conhecia praticamente todos. Nem os que ele desconhecia surpreenderam, a leitura dele foi rápida e eficiente demais.

Nada impede que esse aspecto seja ajustado com o tempo, assim como outra opção de forma que não me agradou, que foi o excesso de informações desnecessária e pouco ou nada interessante principalmente no início do capítulo. Sério mesmo que alguém achou interessante dissecar o café da manhã do garoto?

Gostei da caracterização do personagem e tudo mais, mas o roteiro cometeu vacilos completamente evitáveis. São pequenas coisas que desgastam um produto que pode até não ter nada de inovador, mas demonstrou algum potencial de se tornar um mangá de esportes capaz de prender a atenção do público.

Enfim, o clichê do personagem talentoso e despreocupado foi sacado, mas não tomou a narrativa nesse início, o centro de tudo foi o diferencial do protagonista, o qual cativou o arremessador talentoso e o levou a “surpreender” no final do capítulo. Por que surpreender entre aspas? Porque, sério, a montagem da cena foi super clichê e, além disso, depois do protagonista ter sido dispensado estava na cara que rolaria aquilo.

O Ryudo não ficaria longe do Azukida e mesmo que o diferencial do protagonista seja coberto pelos profissionais da escola para a qual o arremessador passou, imagino que ele tenha sentido falta do fator humano que parece buscar. Mais que estrutura, o Ryudo parece querer se aproximar de jogadores fortes que possam engrandecer seu próprio jogo e formar um time competitivo.

Se ele entrou em uma peneira, então não pensava necessariamente em formar o time do zero, mas vendo o talento e a dedicação do Azukida foi cativado. É o tipo de construção básica de mangá shounen que não me desagrada pura e simplesmente por isso, o importante é o entorno e ainda acho cedo para garantir qualquer coisa sobre esse mangá.

Mas claro, sinais foram dados e diria que fico em cima do muro, pois ao mesmo tempo em que gostei de certas coisas, achei a ideia ainda muito crua e é impossível saber se vai melhorar. Tempo é necessário para desenvolver mais personagens, situações e uma dinâmica de jogo real, que foge ao caráter que essa apresentação teve.

Outra coisa que gostei foi da última etapa da peneira ser um jogo de basebol, mas convenhamos, não havia outra maneira de gerar a situação clichê do final. Algo que já não gostei tanto, mas entendo, foi o co-protagonista só ter as bolas rápidas como apelo. Foi mais um clichê, independentemente de qualquer contextualização que possa existir.

Por que os personagens principais precisam ser, cada um a sua maneira, excêntricos? Um na verdade é comum, mas compensa sua mediocridade física com inteligência e perspicácia acima da média; o outro parece um novato que tem uma qualidade específica e quer vencer com um time forte, mas não compartilha da cultura do basebol como o outro faz.

São duas figuras incomuns e entendo que para serem os protagonistas de um mangá shounen não há como esperar nada muito diferente disso, mas a crítica fica porque mesmo aquilo que torna o piloto minimamente divertido não é nada realmente surpreendente. A dispensa do Azukida, por exemplo, fazia sentido. Seguir uma cartilha de sonhos perfeitos não é o costume em mangás de esporte, ainda mais na Jump…

Usa-se muito isso na revista (na verdade, no meio dos mangás como um todo), investem em personagens que tentam subverter um sistema criado para desprivilegiá-los (é superação que fala, né?), o que não deve parar o Azukida porque ele é o Light Yagami do basebol da nova década (não do novo mundo), resta saber se isso cativará os leitores.

É por isso que mesmo o plot twist da dispensa do protagonista e a desistência de seu best friend até me surpreenderam, mas só porque eu não estava lendo o mangá com a devida atenção, não estava tentando antecipar o que iria acontecer. Pois, pensa aqui comigo, qualquer outro desenrolar inferior a esse dificilmente seria aprovado por um editor da Jump.

Mesmo que o histórico de cancelamento de histórias fraquíssimas seja enorme na revista, todo mundo que conhece um pouco a Weekly Shounen Jump desses últimos anos sabe que ela precisa de um mangá esportivo de sucesso (ainda mais após o fim de Haikyuu!!), então o mínimo esperado era um mangá que não se suicidasse no primeiro capítulo.

Contudo, ainda é cedo para cravar se Nine Dragons’ Ball Parade (não tinha nome maior e pior não?) tem futuro ou não, vai depender do roteiro suavizar os pontos fracos do piloto e/ou investir no pontos fortes (a estratégia, a formação de um time, o encaixe entre personalidades distintas, etc), dando solidez a um mangá que carrega a responsabilidade de preencher um espaço carente na maior revista de mangás do mundo.

Até a próxima!

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