“ – No deserto o viajante do amor
– Desesperado queria morrer
– Muito esgotado iria parar, mas um beija-flor cantou para ele
– Quando escutou sua canção ele escutou, no instante se sentiu feliz
– Sua bela música lhe deu energia e amor para viver
– Lalala lala lalala lala
– Agora quer seguir seu caminho
– Lalala lala lalala lala
– Já indo e o beija-flor foi cantando
– Não voltará. “

 

 

Em 2018, o estúdio TMS Entertainment, famoso por animes como Dr. Stone e ReLife lançou o anime Megalo Box. Essa obra se tratava de um projeto em comemoração aos 50 anos do lendário mangá Ashita no joe, escrito por Ikki Kajiwara e desenhado por Tetsuya Chiba.

Apesar de receber algumas críticas negativas Megalo Box terminou com por ser um dos animes mais elogiados da temporada de primavera em 2018, então quando sua continuação foi anunciada muito se especulou sobre o rumo que a história iria seguir e também do propósito de continuar a história de Gearless Joe.

 

 

Sete anos após sua luta com Yuri, Joe retornou ao submundo das lutas ilegais, agora sozinho e viciado em analgésicos. Com o pouco de orgulho que ainda lhe resta, nosso protagonista vive sendo expulso das arenas por não aceitar lutas arranjadas, o que lhe faz ficar conhecido como “Nômade”. Tudo isso enquanto é assombrado por visões de Nanbu, seu antigo treinador, o que torna sua patética existência ainda mais miserável.

Esse começo de temporada é fascinante não apenas pela atmosfera e pelo mistério em torno do que aconteceu com Joe, mas também por como ele funciona como uma releitura de Ashita no Joe. Apesar de tomar muitas liberdades, a primeira temporada de Megalo Box tinha o objetivo claro de apresentar uma versão moderna da rivalidade entre Joe e Rikiishi, o que compreendia os primeiros 8 volumes de Ashita no Joe.

Essa nova temporada vai pela mesma ideia só que sua estrutura não é a de um arco de Ashita, mas sim de vários arcos do mangá. Uma junção do mini arco do volume 9 onde Joe Yabuki vagava sem rumo pela cidade após a morte de Rikiishi, e também do arco envolvendo o segundo grande rival de Yabuki, Carlos Rivera.

O novo personagem, O Chefe, não só exerce o mesmo papel que Carlos, como também possui maneirismos de sua contraparte, em especial sua personalidade galanteadora e seu contato com a cultura Latina (Carlos era venezuelano).

Ver o Nômade no submundo também é muito reminiscente do período em que Yabuki foi lutar boxe ilegalmente após o volume 9 e antes de cruzar com Carlos.

E como se pegar elementos de dois grandes arcos não fosse o bastante, esse primeiro episódio faz várias menções ao Nômade ter perdido seu espírito de luta, o que é o equivalente ao arco do Harimau, que ocorre nos últimos volumes de Ashita.

 

 

Um ponto positivo desse episódio é como o anime faz uso de metáforas visuais para comunicar seu roteiro; como, por exemplo, a garrafa de vinho com a palavra “Nostalgia” estampada no rótulo, enquanto o Nômade chora ao ouvir a canção colocada acima, ou o frasco de drogas com a mesma coloração de um bala, o qual Nômade carrega o tempo todo, representando suas tendências autodestrutivas.

Contudo, as metáforas visuais mais poderosas desse episódio são as que envolvem a figura do vira-lata. Desde sua primeira aparição, em que o Nômade o encontra enquanto dirige sua moto, é replicada uma cena da opening da primeira temporada, na qual nosso protagonista encontrava um lobo branco que representava Yuri.

Isso mostra que dessa vez Joe está indo de encontro a si mesmo ou o fato de que o vira-lata não representa nenhuma hostilidade; ao contrário da já citada opening que mostrava o vira-lata em um estado feroz, com as presas amostra e um olhar implacável.

E quando Nômade encontra o cachorro morto, isso representa a morte do espírito de Joe, seguido da chegada de Nanbu, que afirma que o protagonista ainda não abandonou completamente seu orgulho e que o trauma que o colocou nessa situação ocorreu há 5 anos, uma forma bem pouco sutil de passar informação.

 

 

Por fim, gostaria de dizer que a narrativa que essa temporada está construindo aparenta ser a do retorno ao topo, com Joe voltando ao seu antigo eu não apenas pelo que nos é esperado da obra mas também por uma referência de um dos elementos mais clássicos tanto de Ashita no Joe, quanto do próprio Megalo Box; O Wake-Up Punch.

Que, apesar do nome, não é uma técnica especial, mas um soco que faz com o receptor abandone sua linha de pensamento e acorde para a realidade.

Esse soco é usado ao menos três vezes em Joe Yabuki na sua primeira luta com Rikiishi, e também em seu combate com Carlos e quando ele é nocauteado na rua por José Mendonza. Em Megalo, Joe também é nocauteado com um desses em seu primeiro confronto com Yuri.

E com mais esse para a coleção, a nova temporada mostra o quanto O Chefe será um dos pilares para a história e para seu protagonista.

 

  1. Sua análise é impecável! Muito bem escrita e precisa com cada informação do que ela se propõe retratar e informar. Só comecei a assistir recentemente e o primeiro arco é muito emocionante e muito bem construído.

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