O Soneca tentou justificar sua instrução simplória, mas, honestamente, dou mais mérito a Onda que fez o que ele pediu fazendo o que ela sabe fazer de melhor, que é jogar muita bola. Esse não foi um episódio lotado de acontecimentos, mas indubitavelmente prazeroso por suas sacadas. Uma delas foi a individualidade fazendo o caminho inverso ao potencializar o coletivo, coisa que vira e mexe também acontece no futebol.

Sabe por que o treinador do Urawa cita Dejan Stanković depois que vê a Onda mitando nas embaixadinhas? Se souber me conta, pois eu não sei. imagino que ele tenha feito isso e que seja um momento icônico, mas não vi e nem achei nada sobre no google. Deixo a curiosidade de que ele é o único jogador a ter disputado a Copa do Mundo por três países diferentes (Iugoslávia, Sérvia e Montenegro e Sérvia) para compensar.

Enfim, essa jogada de efeito foi antecedida por outra jogada de efeito e precedida por um chute venenoso que fez a carta de apresentação da Onda, surpreendendo as adversárias bem como eu previa que aconteceria. Sem querer a Onda se “escondeu” da primeira fase do torneio e isso a tornou um belo elemento surpresa capaz de desequilibrar o jogo e criar o tipo de abertura perfeita para deixar o Warabi sonhar.

E é deixando o Warabi sonhar que esse time vai longe, mas não só ele, como também as percepções que vão surgindo das jogadoras. A Onda não faz o tipo que pensa coisas “filosóficas” sobre o que ela está fazendo, ela mais sente e age, ela é selvagem. Mas a Soshizaki não, o que talvez até tenha a ver com as características do futebol que cada uma consegue executar melhor, afinal, futebol é criatividade e personalidade também.

Sendo assim, a ideia que ela lança as amigas de que atletas são solitários, mas nem por isso estão sozinhos, e que mesmo assim insistem em continuar nesse caminho por amor ao esporte que praticam, acaba sendo bem razoável e interessante porque diz respeito a toda a categoria mesmo sendo o futebol um esporte coletivo. Cada atleta tem sua própria carreira, futebol é um esporte coletivo de vários praticantes individuais.

Ainda assim, as associações que os atletas fazem engrandecem essa jornada. Seja de parceria ou rivalidade (a companheira de time de hoje pode ser a adversária de amanhã), a competitividade que é alimentada nesse sistema da vazão as paixões de cada uma. Não que todo mundo que joga futebol o faça por amor, mas pensa comigo, na modalidade feminina, com todas as dificuldades que tem, tem que amar muito para jogar.

Além disso, não é porque nem todas as jogadoras nessa partida vão se tornar profissionais (imagino que na vida real nem toda colegial que está em um clube de futebol decida jogar para viver a vida) que elas também não amam o futebol. Tem uma hora em que a própria Sawa diz querer estar em campo. Aliás, ela é muito devota a Non-chan e isso pode a fazer parecer sem personalidade às vezes, mas dessa vez ela bem que teve.

O que mais posso falar do episódio? Que ele foi lúdico e divertido por como a Onda conseguiu virar o clima do jogo com suas jogadas e abrir espaços para suas companheiras jogarem, passando a impressão de que nada demais aconteceu (e poucos minutos se passaram, é verdade), quando, na verdade, aconteceu algo muito importante. Aos trancos e barrancos o time está dando liga, agora quero ver o Urawa parar esse Warabi.

Até a próxima!

P.S.: Se ainda não leu meu artigo sobre First Touch, o filme prequel de Cramer, não perca tempo. Nele a gente entende porque a Nozomi seria chamada de Martonda se fosse brasileira.

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