Mais um arco acabou, e novamente nos despedimos de grandes personagens; de Gugu, um herói trágico, e de Rean, uma garota ao mesmo tempo azarada e sortuda. A narrativa seguiu exatamente o esperado, mas, ainda assim, há coisas boas a comentar sobre esse episódio, um momento vital no desenvolvimento pessoal do personagem principal. A vida é feita de despedidas amargas, mas nem por isso para esquecer.

Como não tenho muito o que falar sobre a luta, vamos direito ao que interessa. Em comparação com a declaração não dita da Rean, sua atitude de ir atrás do amado e salvar-lhe a vida foi muito simbólica porque pela primeira vez ela foi tão proativa, fazendo algo que ele já havia feito por ela mais de uma vez. Aliás, fez de novo ao salvar os pais dela sem hesitar por nenhum instante. Gugu é um herói na acepção da palavra.

Rean amadureceu e vimos esse amadurecimento batendo forte na cena em que o Gugu a protegeu dos escombros colocando sua própria vida em jogo ali. A Rean de 16 anos não liga para a aparência ou para as conveniências, mas sim para o bem das pessoas que ela ama. Contudo, ela também soube aceitar esse cuidado sem desespero. A postura que ela teve em meio aquela situação deve ter sido muito difícil de manter.

Porque ela tentou segurar as pontas para os dois ali, sem espernear ou perder a calma. Ainda assim ela chorou, mas também não havia como pedir nada de diferente. Ela percebeu que o Gugu não duraria naquelas circunstâncias, ainda que após acordar tenha tentado lutar contra essa realidade, então o que a restava era declarar seu amor de todo coração no tempo restante. E beijá-lo, fazê-lo sentir esses sentimentos na pele.

É por isso que pessoas se beijam, se tocam, se abraçam, fazem amor. Elas querem transmitir coisas que não podem ser inteiramente compreendidas apenas com palavras, e o beijo dos dois em meio a tanto sangue e um rosto desfigurado é o grande momento desse episódio. Um momento clichê, é verdade, mas que corresponde perfeitamente a história de amor trágico japonesa, não grega, dos dois.

Mas não quero só exaltar a madura e cativante Rean, até porque nesse episódio o Gugu foi tudo que eu já sabia que ele era, talvez até mais, afinal, lhe foi roubada a chance de viver um grande amor, mas ele partiu sem arrependimentos. A garota que ele amava sobreviveu, o irmão lamentou sua morte e o Fushi também seguiu em frente. Ele era o alicerce que unia sua família, mas sem ele seus integrantes não se perderam.

 

 

Gugu é um personagem tão lindo que só pode ter mesmo se criado em meio a tanta feiura, uma contradição que exalta a natureza humana ao mesmo tempo que não se priva de criticá-la, mostrando também o impacto que as nossas atitudes podem ter no próximo. Porque a Ren decidiu mesmo fazer o que queria ao tomar consciência de que seu amado se foi, pois aprendera a ser verdadeira e buscar ser feliz ao seu lado.

O Fushi se atrapalhou, não interpretou o papel do Gugu por mal, e se por um momento achei toda a situação meio cruel e descabida, a cena em que ela aparece deitada em meio as flores que entrelaçaram o destino dos dois foi irretocável. Ela percebeu que quem ela viu ali na casa do véio da pinga após toda aquela confusão não era seu amado Gugu, que ele já havia deixado aquele plano, mesmo que ainda estivesse com o Fushi.

Sem carecer de explicação para os eventos sobrenaturais que a rodearam ela chegou a óbvia conclusão de que a vida precisava seguir seu curso, e nesse curso ela não poderia estar mais com ele. Óbvia por quê? O Fushi não disfarçou até bem? Óbvia porque ela sentiu. Não sei se sentiu na hora ou só percebeu depois, mas independente do momento, ter sentido e aceitado esse desfecho trágico reforçaram toda a sua maturidade.

Chorar não significa não aceitar, negar significa não aceitar, e ela não negou, apenas aceitou e respeitou as circunstâncias do Fushi que fugiam ao seu conhecimento, assim como o seu próprio coração, que não comportaria se conformar com o que os pais lhe ordenassem. Por quê? Porque o Gugu a mostrou um mundo diferente, um mundo muito mais gentil, que não é refém das aparências e não sufoca nossos próprios desejos.

A história de Gugu e Rean é trágica, mas belíssima, e apesar de eu adorar o Fushi, é inegável que Fumetsu é gigante mesmo é pelos personagens que contracenam com nosso protagonista. Parona perdeu March, Rean perdeu Gugu, porém, ganhamos histórias trágicas, mas maravilhosas, cheias de momentos sensíveis e impactantes. Ainda que, infelizmente, eu relute em aceitar a participação dos Nokkers como ela foi feita.

No final, quando o inimigo é acuado, fiquei com a impressão de que ele existia realmente só para isso, para facilitar a escrita da autora, que é excelente no que tece aos personagens, mas ainda não me parece tão afiada em um contexto maior, no contexto de mundo. Em todo caso, o anime está em curso, e no caso de tramas um pouco mais “peculiares” penso que talvez tenha algo que possa estar deixando passar…

 

 

Por fim, o Gugu estará para sempre junto ao Fushi, como acontece com o Joan e a March, mas o urso foi roubado agora, né? Aliás, essa deixa para que o Fushi tome a dianteira e persiga os Nokkers não foi exatamente ruim, afinal, sem o urso ele tem menos recursos para se defender, ainda que com o Gugu suas opções tenham se diversificado. Aliás, a dor que o Fushi foi sentindo antes do Gugu morrer de vez doeu até em mim.

A morte dele doeu menos porque eu já sabia que aconteceria, mas a maneira como ela ocorreu, com o corpo da March sendo esmagado e essa sendo a última vez em que os dois se viram, dou demais em mim. Além disso, a cena dele com a Rean foi muito dolorosa, apesar de primorosa, e eu não tenho o que reclamar do estado astral em que quem o Fushi metamorfoseia entra, mas foi ainda mais doloroso ele estar “ali” e a Rean também.

E é nessa de dar e tirar, de ganhar e perder, que Fumetsu segue me cativando. Dessa vez ainda mais intensamente, pois a compreensão do Gugu nesse mundo etéreo que o Fushi também acessa livremente denota que as pessoas que passaram em seu caminho realmente continuam com ele. Se não em corpo, em espírito, o que atenua minhas lágrimas, afinal, aposto que terminarei essa bela jornada com um sorriso satisfeito no rosto.

Até a próxima!

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