O Moriarty finalmente foi capaz de executar o seu plano e mudar todo um país. Mas no final, poderá ele ver aquilo que construiu? Essa era a dúvida para esse episódio e vendo que o anime tem o seu lado misterioso bem poderia ter deixado isso sem resposta. Mas não, ele nos deu uma resposta, e justo em sua última cena.

Assim como eu imaginava o anime acabou em definitivo. Bem, nada impede a obra de ter uma continuação, até porque ambos os seus protagonistas continuam vivos. Coisa que convenhamos, não deveriam estar.

Não apenas por aquela queda ser morte certa, mas também por ser muito justo e coerente um final onde o Moriarty se sacrificasse. O Holmes é até preferível que tenha sobrevivido, nisso o anime acertou. Mas também não que seja um grande problema, o final do anime também teve o seu charme.

Problemático mesmo foi a conexão criada entre eles ao longo do episódio. Claro, é natural que tivessem simpatia um pelo outro, ainda mais pelas suas capacidades intelectivas que se assemelhavam. Admito até a admiração que tenham pelas ações e pela moralidade incorruptível de ambos.

Mas, essa intimidade repleta de sentimentalismos baratos não é fácil de aceitar. Seja como for, após toda a conclusão da história eles se reencontram na Suíça, que por sinal é onde tudo acaba no conto “O Problema Final”.

E aqui também, com o Holmes finalmente concluindo a sua incansável busca pelo Moriarty. Este que agora tem a oportunidade de contemplar o novo mundo que ele mesmo construiu.

Mas afinal, o que é este novo mundo? Isto era de longe a coisa que eu estava mais curioso para ver, porque até agora nós sabíamos apenas vagamente sobre como seria esse novo mundo. E no final das contas, ele se mostrou realmente algo vago e pouco revelador.

Muito mais interessante do que essa mudança social foi a forma para alcança-la. De fato, a ideia do Moriarty se tornar um “mal maior” tanto para a aristocracia quanto para o proletariado foi uma decisão bastante interessante.

Contudo, ao menos o caminho da luta de classes possuía uma lógica coerente em sua tentativa de alterar a sociedade. Já o caminho optado aqui, ainda que interessante como ideia, ele por si só nunca foi capaz de fazer mudança social alguma, quem dera mudar toda uma nação então. Ingenuidade é a palavra que descreve o plano do Moriarty.

De forma alguma um evento isolado repleto de sentimentos passageiros poderiam alterar as relações entre classes, ainda mais quando estas se enraizaram ao longo de séculos de história. E o seu maior erro foi achar que essa mudança poderia ocorrer de maneira orgânica.

Isto é, a partir de uma tomada de consciência por parte das classes. Todavia, ainda que possível fosse, o que seria esse “novo mundo”? São duas coisas, a primeira é uma sociedade um pouco mais igualitária e a segunda é um paraíso na terra. É, isso mesmo.

Um pouco mais igualitária pois igualitarismo total é impossível, já que não se pode existir nenhum tipo de grupo sem antes haver distinções. Aliás, isso não é verdade só no sentido social, mas no de qualquer agrupamento de coisas semelhantes.

Não se consegue ordenar os mamíferos sem diferencia-los dos outros animais, nem os números pares sem contrasta-los dos ímpares. Tão pouco há sociedade onde todos são iguais, pois mesmo se as hierarquias pudessem inexistir (o que não podem) e os papéis e funções sociais não divergissem, ou mesmo se não existissem classes sociais, não mudaria o fato de que ainda assim existiriam diferenças naturais.

Alguns ainda seriam mais jovens, fortes, altos, belos, talentosos, saudáveis, inteligentes, etc. Então ainda que uma sociedade possa se tornar mais igualitária, na prática isso é muito mais limitado do que aparenta quando nos enganamos com o próprio uso da linguagem.

Agora, sobre o tal “paraíso na terra” me refiro à forma como o anime idealizou esse “novo mundo” e a própria figura do Moriarty. A imagem do Moriarty profetizando sua revolução enquanto uma luz dourada atravessa os vitrais é uma imagem muito forte.

A mensagem de “carregar a sua cruz”, aliado ao sentimento de angústia dos seus subordinados, tal qual os apóstolos na ausência de seu senhor nos sugerem de imediato a figura do Cristo. Ainda mais por ele ter que morrer para redimir os seus pecados e mesmo depois de “morrer” ainda estar vivo. Há aqui, e isso é evidente, um tratamento quase messiânico e religioso da figura do Moriarty.

Ver essas duas formas contrastantes daquilo que é o seu novo mundo mostra como Moriarty é um anime que sabe usar de aparências gloriosas e justas mesmo quando estas divergem das coisas que ele está realmente nos apresentando. De fato, no final das contas Moriarty é apenas um anime de aparências.

Ele tem sim muitos elementos interessante e que são profundos por si mesmos. Contudo, ele carece de ordem na hora de dar sentido e coesão a eles. Tanto que aquilo de maior valor na obra é a sua parte estética. E até o seu fim ele nunca passou disso. Até mais.

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