Essa é uma das estreias que estávamos bem curiosos para ver, e muito disso se deve a sua diferente premissa de se utilizar da vida de adultos instáveis, relativamente sinceros e cheios de problemas para fazer comédia. Será que até o final do anime esse pessoal sai da lama, ou as crianças que eles ensinam saem traumatizadas?

Lembrando desde já, esse artigo é mais um que vem da colaboração entre eu e o Flávio, meu parceiro das últimas temporadas, então esperamos que gostem dessa nossa produção da vez.

Uramichi Oniisan trata de uma comédia sobre a vida de Omota Uramichi, um ex-ginasta – com seus colegas adultos e todos bem problemáticos – que comanda um programa infantil com a alegria de quem vive a vida intensamente, e realizado até a última potência, só que não.

O protagonista não só é bem desequilibrado, como não pensa duas vezes antes de incentivar e dar palavras de “puro conforto” para aqueles que um dia serão adultos responsáveis e felizes, nessa sociedade maravilhosamente complexa em que vivemos – elemento esse responsável por guiar a comédia que a obra propõe.

Flávio: Esse anime não é somente sobre o “lado b” da vida adulta, também é sobre o “lado b” do mundo artístico, no qual costumamos achar que é cheia de glamour e benesses.

JG: Exato e é curioso ver essa obra se utilizar desse elemento, justamente porque para os mais novos em geral, o se tornar adulto é algo maravilhoso, é a melhor fase da vida humana, cheia de liberdades, quando na verdade as responsabilidades e os deveres que encaramos passam longe de todo esse glamour.

No geral essa foi uma estreia que gostei, embora eu ainda tenha alguns receios sobre a forma como pretendem abordar esse humor mais ácido em cima do ser adulto e profissional – já torcendo para que mantenham a consistência das piadas.

Flávio: Eu também gostei da estreia, embora tenha a sensação de que o episódio poderia entregar mais. Nesse primeiro episódio, abusaram da frustração do protagonista como recurso cômico. Foi engraçado, mas se for usado a exaustão acaba perdendo a graça.

JG: Compartilho desse mesmo sentimento, inclusive enquanto assistia eu ficava na ânsia de que jogassem mais com as situações, para dar um pouco mais de variedade ao jeito do Uramichi, até mesmo com as crianças – que eu também esperava serem mais debochadas do que não se mostraram nesse primeiro momento.

Flávio: As crianças desse anime deveriam ser mais bagunceiras, para reforçar a ideia de que, por trás da câmera, um programa infantil não é tão mágico e lúdico como aparenta ser. Crianças dão trabalho, pois fazem bagunça e podem fazer perguntas inconvenientes devido a sinceridade que faz parte da natureza infantil.

JG: Pois é, e desse mesmo modo eu acho que seria interessante aproveitar a equipe de produção, por exemplo. Eu gostaria de ver o diretor e os câmeras pirando com a bipolaridade do protagonista, ou mesmo se juntando a ele, já que também são adultos que devem ter as suas frustrações.

O que me faz apostar em novas possibilidades para a comédia é justamente a entrada dos outros animadores e apresentadores, como a Utano e o Iketeru, que pouco mostraram, mas não parecem distantes do que é externalizado pelo colega. Acho que conforme passarem mais tempo juntos divagando sobre o que deu errado em suas vidas, mais humor vem por aí.

Flávio: Acho que os mascotes assistentes de palco ou o próprio diretor do programa poderiam fazer um contraponto ao pessimismo dos apresentadores. Os mascotes até tentam ser otimistas, mas o medo do Uramichi os intimidam, enquanto o diretor parece calmo demais ou apático diante da mudança assustadora de humor do protagonista.

JG: Exatamente isso, seria legal ter alguém justamente para ir dando corda a loucura ali, seja lá para que lado fosse, mas é como eu disse, acho que em algum ponto isso deve acontecer.

Outra coisa engraçada é que enquanto mostrava o Uramichi e os outros dois interagindo com as crianças, veio à mente a lembrança daqueles programas infantis ao estilo programa da Xuxa – que tinham a sua popularidade – só que com apresentadores ainda mais sem noção, mas igualmente carismáticos, o que me faz questionar o sucesso deles ali.

Flávio: Eu acho curioso os apresentadores se sentirem uns fracassados por estarem apresentando um programa infantil. Mesmo com a consolidação da internet e das mídias que nasceram por meio dessa, a televisão ainda é uma excelente vitrine para a fama.

Além do mais, apresentar um programa infantil, ao contrário do que os personagens principais pensam, não é um sinal de fracasso, pelo contrário, pode até render muito sucesso, como no caso da Xuxa, que viu a sua carreira deslanchar quando ganhou a alcunha de “rainha dos baixinhos”. O sucesso da mesma foi tão grande que abriu portas para outras apresentadoras, como a Angélica e a Eliana.

Sobre o programa do anime, não deu para saber exatamente a dimensão da audiência. Acho que deve ter alguma popularidade.

JG: Acredito que essa percepção de fracasso deles tem muito a ver com entender esse trabalho como um Plano B. O anime mostra que o Uramichi gosta de esportes e aparentemente queria ser um grande ginasta. A Utano é uma cantora então se subtende que ela também almejava ser famosa como tal, e por fim o Iketeru é um ator talentoso, mas que sabe se lá por qual motivo, não está numa Hollywood da vida.

Provavelmente não conquistando esses objetivos, eles veem esse caminho como o “resto”, ou o prêmio de consolação para que paguem as contas, o que traz toda a frustração acumulada deles. Penso que será interessante se o anime encontrar um espaço no meio da comédia pra explicar um pouco mais dessas origens.

Flávio: Não poder seguir a carreira sonhada ou ser um fracasso na profissão que tanto deseja, é muito frustrante, mas a vida pode oferecer outras oportunidades. Apresentar um programa de televisão pode ser uma delas.

JG: Concordo totalmente e acredito que mesmo com a piada presente, talvez no final seja esse o alcance que eles tenham, de que sempre há um novo caminho.

Bom, só posso dizer que estou curioso e empolgado com os rumos que a história pode tomar, saindo satisfeito com essa estreia que tem uma boa ideia para usar e personagens instavelmente carismáticos para aproveitar. Na parte mais técnica, acho que a animação do Studio Blanc não é das melhores, mas ela está ok e atende bem ao seu propósito cômico.

Flávio: Também compartilho da mesma opinião sobre a estreia. Sobre a animação, ela não é ruim a ponto de comprometer o anime. Por fim, gostei muito da proposta de mostrar o lado sombrio dos bastidores de um programa de televisão.

JG: Espero de verdade que o anime consiga deslanchar com a sua comédia adulta e trabalhista, porque o potencial ele tem em vários pontos, agora é só mandar ver na adaptação que certamente teremos aqui a melhor comédia da temporada.

Agradecemos a quem leu e até a próxima!

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