To Your Eternity – ep 13 – Caminhos entrelaçados pela liberdade
A conversa de Fushi com o Observador foi muito interessante por ter provido um novo vislumbre do protagonista, agora mais impulsivo, emotivo, o tipo de personagem que eu não conseguiria caracterizar de outra forma que não como “humano”. E tudo isso com pedaços perdidos de memória que ele mesmo não reconhecia, uma maneira cruel, mas eficiente e interessante, de encorpar a “motivação” do protagonista para combater os Nokkers.
To Your Eternity segue excelente e agora nesse novo arco a perspectiva de drama, mas também de desenvolvimento do herói em outros aspectos, se mantém. Fushi conseguirá proteger Pioran, assim como a vida de outras pessoas que não tem nada a ver com sua história? Veremos. A única certeza que tenho é de que não consigo não simpatizar com os novos personagens, ainda que uma delas tenha enganado Fushi e Pioran, e que falarei deles e de outros tópicos a partir de agora.
Por que o Fushi tem tanto medo dos Nokkers? Porque ele não quer perder ninguém que ama de novo. Por que pensa em fugir ao invés de lutar? Porque ele não quer que pessoas se machuquem e não tem certeza da vitória. Todas as reações do Fushi ao que lhe ocorreu forma muito humanas, compreensíveis, mas, por outro lado, o Observador está praticamente o tempo todo ao seu lado para mostrar-lhe que não é bem esse o caminho que ele deve seguir.
E nisso vem o reencontro com a Pioran, assim como o reencontro de nosso herói com marcas de um passado recente porque a March ele esqueceu, sua essência foi tomada dele, então não dá nem para dizer que ele estava assustado por um acúmulo de experiências negativas, exceto se, como ele demonstra mais a frente no episódio, alguns resquícios do que viveu com a March ainda estivesse nele. E ainda estavam, mas as coisas ruins também? Não percebi.
De toda forma, isso é o menos relevante, o mais importante é que a partir do reencontro com sua avó (March é sua mãe e Gugu seu irmão, o Observador seria um pai meio sacana típico de anime?) Fushi passou a ter dois objetivos. Ou melhor, três. Derrotar os Nokkers e cumprir os objetivos do estudo de seu criador, proteger Pioran para não perder mais ninguém que ele ama e recuperar as memórias dessa pessoa querida para ele, sua própria mãe.
Porque, como a velha comenta em uma pontual passagem, o esquecimento daqueles que se foram é como uma segunda morte, é a perda do legado de uma pessoa, um legado que não pareceu afetar diretamente a Fushi por sua ausência, mas isso porque ele não sabia que lhe faltava alguma coisa. Ao se reconectar com vestígios da passagem de March em sua vida me pareceu bem claro que recuperar a essência da garota passou a ser um dos objetivos dele.
E com isso os dois seguiram viagem, para a única parte do episódio que não gostei muito, afinal, a Pioran confiou fácil demais em uma desconhecida e tanto ela como Fushi acabaram virando escravos em um esquema para lá de ferrado. Eu esperava mais malícia da velha, do Fushi não, pois apesar de ter demonstrado muito mais expressividade e complexidade em seus sentimentos, ainda assim, ele ainda é uma criança em comparação a ela.
Mas tudo bem, essa é uma questão menor, pois o que isso gera é bem interessante, afinal, dessa vez há mais personagens para contracenar com o Fushi e, como de praxe nesse anime, o final deles (de ao menos um deles) não vai ser feliz. Mesmo assim, dá para simpatizar e se apegar aos personagens e, apesar do que a garota do chapéu fez, não consigo deixar de achar que ela também é uma vítima da situação. Aliás, que ela é até mais vítima que o Fushi e a Pioran.
A Pioran poderia ter desconfiado da hospitalidade e o Fushi tem como se defender, não à toa ele não vira um escravo como os outros e tanta resgatar Pioran do jeito que dava. Mas aí que vem a grande sacada do episódio, talvez até do arco como um todo, a compreensão para o Fushi de que para alcançar a verdadeira liberdade (suprimida dele ao chegar na ilha) não bastaria escalar um muro, pois outros muros invisíveis haveriam em volta para ceifá-lo de seu direito de ir e vir.
Não que o Fushi já entenda isso, ele certamente não entende a questão em toda a sua complexidade, mas, sob um novo prisma, mais uma vez é a liberdade que vai ser trabalhada no anime. A liberdade de ir contra um destino imposto, a liberdade de ir contra um estigma, a liberdade de poder pura e simplesmente se locomover, além de não agir obedecendo outros para sobreviver. Porque é o que essas crianças devem fazer, elas são vítimas, pássaros com asas cortadas.
E é aí que a coisas casam, o Fushi pode e deve ser o passaporte dessa galerinha radical para fora da ilha, assim como eles podem e devem ajudá-lo a se sair bem no torneio e conseguir a liberdade, mas é claro que nem tudo vai acontecer assim tao fácil. A própria abertura denota um destino trágico para essas crianças e, honestamente, não acho que isso vai me incomodar se a história deles, ao menos enquanto estiverem com o Fushi, valer a pena.
Por fim, este foi outro belo episódio de To Your Eternity, com direito a uma versão mais intensa, mais humana, do protagonista, ma também uma expansão de mundo e experiências que promete ser interessante, apesar de eu ter achado que essa ideia dele treinar para enfrentar os Nokkers e logo a seguir aparecer um torneio bem clichê de battle shonen. Felizmente, é de To Your Eternity que estamos falando, tenho certeza de que a coisa mais enveredar por um caminho bem mais peculiar e interessante.
Até a próxima!