86 retorna nos apresentando a uma nova Lena, menos por seu uniforme de tom mais escuro ou sua mecha vermelha (ambos sem explicação aparente), mais por sua forma de se portar e agir na frente das pessoas. Lena não perdeu sua gentileza característica, mas ganhou uma malícia essencial para ajudar seus comandados a sobreviverem e lidar com a lógica distorcida do país em que vive.

E nesse passo acompanhamos não só o desenvolvimento da heroína, como também uma expansão de mundo necessária para justificar essa segunda temporada, que okay, tem no retrovisor a infindável guerra com a Legion, mas precisava de um fato novo a fim de prover alguma esperança de vitória a raça humana. E ela veio, junta de velhos rostos em cenários novos. Vamos falar do “renascimento” de 86?

A nova Lena teve uma atualização de skin típica de novo arco de battle shonen ou quest nova em jogo que se não me empolga, também não me incomoda, e digo mais, se a ideia era marcar o amadurecimento da heroína decorrente dos acontecimentos na reta final da primeira temporada, acho que esse apelo visual não é ruim, mesmo se, por exemplo, a explicação do uniforme acabar sendo boba.

Acho mais interessante elogiar sua caracterização, que se por um lado denota uma Lena cheia de si capaz de liderar pessoas e colocar o chefe em cheque, por outro ainda conserva a meninice e simpatia que na frente da amiga desnuda essa sua máscara sisuda de Bloody Reina. Além dela, conhecemos a líder de seu novo esquadrão, Iida Shiden (Codinome: Cyclops) e as intenções da Operadora mais top do exército.

As preparações dela vão dar conta do recado? É claro que não, e aí a direção acerta em virar logo o disco e trazer não só o fato novo, mas o fato novo aliado a rostos mais que conhecidos pelo público. Confesso que esperava um salvamento no meio da ação cortada no final da primeira temporada, não um resgate com circunstâncias misteriosas, mas esse desenrolar não foi ruim.

Diria até que essa pegada mais realista, ainda que a base de sobrevivência inusitada, vem com esse propósito, de adaptar de forma mais lenta, mas bem consistente, Shin e os outros a sua nova realidade. Eles se encontram em um dos (aparentemente) poucos territórios que sobrevivem a dominação da Legion, a Federação de Giad, que teve várias de suas circunstâncias políticas e militares explicitadas no episódio.

Esse tipo de coisa dá seriedade a trama e contextualiza bem a volta dos Eighty-Six ao campo de batalha. Eles vão voltar, a gente sabe disso, mas não sem antes se desenrolar o contexto no qual estão inseridos. Eles não foram morar na residência do presidente por acaso, são figuras políticas com algum peso na guerra, não à toa seu “simples” salvamento incitou um movimento pela libertação dos Eighty-Six.

Aliás, isso nos traz a noção de que pessoas de fora sabem o que acontece em San Magnolia (me pareceu até que existem Albas refugiados em Giad) mesmo que San Magnolia não saiba o que acontece fora de suas fronteiras. A guerra com o Império, ou melhor, com a Legion, provocou um isolamento que favoreceu o genocídio dos Eighty-Six, mas encurralou a República para o cenário desastroso adiantado pelo Shin.

A questão agora é como Giad vai intervir nos assuntos de um país soberano, se isso vai acontecer com uma roupagem mais heroica, no meio do ataque definitivo da Legion, ou se ocorrerá através da diplomacia, movimento que pode exigir dos refugiados. Menos mal que o presidente de Giad demonstra o mínimo da decência, mas ainda há muitas coisas a serem contadas sobre ele, a formação do país e sua “filha”, a Imperatriz.

Ela também ter sido adotada por ele só confirma o que escrevi acima, que o presidente é esperto, ele quer manter essas figuras capazes de influenciar os rumos políticos do país debaixo da sua asa. Isso não significa que não se importe com a liberdade e os direitos dessas “crianças”, mas que deve querer mantê-los sem a adição de problemas em meio a uma guerra que ainda está sendo lutada e precisa ser vencida.

E nisso entra Shin e os outros, que devem lutar muito em breve. Entra a Imperatriz, que parece ser só uma garotinha, mas com certeza esconde um passado triste como o deles. Entra os interesses dos militares na experiência de combate dos Eighy-Six. E os interesses políticos, e de peso na consciência, do presidente Ernst. Entra a Lena, cujo (re)encontro com o Shin e os outros deve ser um dos melhores momentos da temporada.

E entra você, caro(a) leitor(a), que vai me acompanhar em mais uma cobertura? Assim como fiz com a primeira temporada, cobrirei essa por aqui, com as melhores expectativas e a maior boa vontade, afinal, 86 é um ótimo anime e a estreia de sua sequência fez jus a isso. Gostei da mudança de cenário e expansão de mundo, da direção competente, um pouquinho da Imperatriz de voz irritante e da abertura do amazarashi. Tem mais?

Até a próxima!

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