O episódio começou com russos sendo russos, e ainda que essa visão do povo russo caia na caricatura, eu imagino que deva haver um fundo de verdade nela, até porque faz sentido levando em consideração a situação política e cultural da nação.

Focando no anime, Tsuki to Laika to Nosferatu nos entregou um episódio sublime no qual a heroína conquistou o espaço. Antes dos homens, antes dos seres humanos, Irina se tornou a primeira cosmonauta da história. Uma vampira orgulhosa de ser quem é e de seu feito.

Mas antes de falar de flores, se teve uma coisa que não gostei nesse episódio foi a facilidade com a qual o Lev foi solto e pôde se juntar a Irina, o que praticamente jogou pelo ralo a interferência do Franz e de quem queria prejudicar o chefe.

Com esse obstáculo fora do caminho resta apenas o próprio exército, que já é incômodo suficiente, mas talvez não demonstre tanto esse lado do preconceito como poderia ocorrer com as sabotagens a heroína. Apesar de que para começo de conversa a ideia era prejudicar um terceiro.

Em todo caso, o Lev reencontrou a Irina e a proveu um apoio emocional muito do fofo antes do lançamento, o qual, aliás, eu não entendi muito bem do que se tratava, mas se não estou enganado era mesmo de um teste para viabilizar um lançamento mais ambicioso no futuro, né?

Porque a gente viu o perrengue que é mandar um cosmonauta para o espaço, então não tem condições da missão ficar por isso mesmo. Além disso, verificar a possibilidade de comunicação no espaço era realmente crucial visto que sem ela o programa certamente seria abortado.

Quanto a Lycoris, sabe o significado do termo? É o nome científico da higanbana, o lírio-da-aranha vermelho, a bela e venenosa flor símbolo do equinócio de outono no Japão, e que não sei se existe no território russo, mas não duvido que exista dada a proximidade da Rússia com o país.

A título de curiosidade, é aquela flor vermelha que aparece no primeiro encerramento de Kimetsu no Yaiba, assim como em várias outras obras da cultura japonesa. E para encerrar meus comentários sobre a primeira parte do episódio quero elogiar o lançamento em todo seu apelo lúdico.

Mas não só ele, pois a tensão trazida na cena em que perdem a comunicação com ela e depois ela volta a falar foi muito bem trabalhada, nos trazendo para dentro de todo o misto de apreensão e furor que carregava aquele momento, ante as simples palavras ditas por aquela bela voz.

A princípio achei que a receita fosse brincadeira, mas quando ela retoma a fala para então passar a receita da bebida tudo fez sentido, a pequena rebelião dos cosmonautas confidentes se fez ali. Irina enviou um código que só o Lev entendeu, e ele se sentiu um pouco no espaço também.

Sensação essa que, aliás, ela descreve muito bem sem descrever, pois a emoção e a sensação não poderiam ser limitadas pelas palavras. Mas a Irina se deixou levar um pouco pela ambição também, pois lamentou a falta de perspectiva em conquistar a lua. Será que ela não vai mesmo?

Não sei, mas se for nem quero imaginar os problemas para a volta, afinal, ela circulou nem duas horinhas no espaço e para descer foi aquele pandemônio que a gente viu, com o Lev correndo contra o relógio para resgatá-la debaixo de uma nevasca que só aumentava o nível de tensão.

Acho que esse episódio retratou bem as dificuldades da viagem especial naquela época, com aquele nível tecnológico e sob a pressão militar de uma nação em eterna desconfiança. Mas claro, nada disso seria de grande valia não fossem os momentos dos personagens, Irina e Lev.

Sobre o protagonista, pontuo a sutileza e sinceridade de sua reflexão acerca de percepção da humanidade da Irina, algo que ele só pôde ter no convívio com a garota. Apresentar a coisa dessa forma trouxe uma doçura inconfundível ao personagem e a relação dele com a heroína.

Algo magistralmente complementado na cena em que eles se reencontram, se aproximam e choram juntos, dando vazão aos seus sentimentos, o que foi facilitado pela situação tensa em que se encontravam, mas de forma alguma abrupta, pois já víamos essa cumplicidade entre os dois.

Por fim, Lev a reconhece pelo que ela é, uma pioneira no espaço, a primeira pessoa a poder se intitular realmente cosmonauta, algo que não será reconhecido por praticamente ninguém a não ser ele, mas é como diz o Augustus Waters em A Culpa é das Estrelas:

 

“As pessoas vão dizer que é triste o fato de ela deixar uma cicatriz menor, que menos pessoas se lembrem dela, que ela tenha sido muito amada mas não por muita gente. Mas isso não é triste, Van Houten. É triunfante. É heroico.”

 

O Lev parece aceitar as suas escolhas. Espero que a Irina aceite as dela.

Até a próxima!

Comentários