Violet Evergarden – ep 7 – De volta para casa
Bom dia!
No episódio dessa semana Violet Evergarden me aliviou a estranha sensação de que o anime havia estagnado. Continuava muito bom, sim, mas não parecia mais estar indo para lugar nenhum nem estava melhorando. Pois eis que a produção lança mão da arma secreta que estava guardando desde o começo do anime e agora tudo vai mudar – provavelmente.
A Violet não tem uma casa para onde voltar. Ela não tem sequer um nome (Violet foi como Gilbert a nomeou) ou uma família. Tudo o que ela tem de realmente importante, seu bem mais precioso, seu conforto para todas as horas, é a joia que Gilbert lhe deu e com a qual ela anda o tempo inteiro. Oscar, o dramaturgo que Violet atende essa semana, tem uma “casa”, mas após as devastantes mortes de sua mulher e, especialmente, de sua filha, é como se não tivesse nada. Ele vive em uma pocilga e se tornou alcoólatra por conta de sua total incapacidade de lidar com sua perda. Ele não consegue mais escrever fisicamente, pois vive sempre bêbado e o álcool começou a cobrar seu preço na forma de sua capacidade de movimento fino, e ele também não consegue mais escrever emocionalmente, preso em um bloqueio criativo sem fim enquanto tenta criar uma história feliz apesar de toda a infelicidade que ele próprio sente.
A filha de Oscar foi embora e nunca mais vai voltar. Espelhando isso, a heroína de sua nova peça, também uma garota, após derrotar o vilão final está presa em um lugar de onde Oscar não sabe como fazê-la voltar. Com a ajuda de Violet, que também é uma criança e tem os cabelos da mesma cor que sua filha falecida, Oscar consegue superar o fundo do poço. Provavelmente ele ainda tem um longo caminho pela frente, mas já é genuinamente capaz de escrever histórias felizes. Oscar retomou o controle de sua vida. Sua filha nunca vai voltar, mas Oscar voltou para casa.
Essa não é a única peça de Oscar presente no anime essa semana. No começo do episódio, Erica e Iris estão em um teatro assistindo uma tragédia. Um homem mata outro e proclama em seguida: “Terei que viver com o fardo de meus pecados”. Violet não assistiu essa peça, mas a leu. A filha de Oscar havia feito uma promessa para seu pai que, por causa de sua morte, nunca foi capaz de cumprir. Violet reflete: quantas promessas ela terá tornado impossíveis de serem realizadas durante a guerra? Quantas pessoas ela matou e quanta dor isso causou? O irmão de Gilbert, por tudo o que sabemos, é uma pessoa horrível, mas há uma verdade inconveniente nas palavras que ele disparou contra Violet alguns episódios atrás: como alguém que causou tanta dor pode agora viver em paz?
Violet não chegou a pensar nisso, mas é tentador pensar como talvez todo o bem que ela esteja causando agora possa compensar por todo o mal que fez antes. Esse episódio é quase literal sobre isso, com a protagonista tentando realizar a “promessa” que a filha de Oscar fez para seu pai. Quando sozinha, porém, no caminho de volta para a capital, o sentimento de culpa que Violet nunca teve finalmente a sobrecarrega. Aquela deve ter sido uma noite difícil para ela, mas o pior ainda estaria por vir. Ao desembarcar, reencontra por acaso a Senhora Evergarden, que deixa escapar a verdade: Gilbert está morto.
A garota corre para interpelar Hodgins a respeito e, sob pressão, ele não tem escolha senão admitir que escondeu isso dela o tempo todo. É isso. É Violet quem está devastada agora. Ela até mesmo se apega a vã esperança de que Gilbert possa na verdade estar vivo – nunca encontraram ou identificaram seu corpo, afinal. Nesse momento, talvez a leitora ou o leitor esteja tentado a criar esperanças junto com Violet, mas eu não aconselho. O local onde Gilbert morreu foi bombardeado, é mais do que natural que seu corpo tenha sido reduzido a restos humanos indistinguíveis no meio do entulho. Não que eu esteja dizendo categoricamente que ele está morto. Isso é anime, afinal, sabemos como essas coisas podem funcionar, mas a meio caminho do fim Violet Evergarden está melhor como uma história de superação do luto do que uma reviravolta maluca sobre um morto muito louco que ficou meses (talvez mais de ano, já) escondido em algum lugar – preso ou com amnésia ou o que quer que o coração de Violet gostaria que fosse. A perda é parte do fardo de Violet, assim como é para os irmãos Luculia e Spencer Marlborough no longínquo episódio 3.