“Um castelo de ferro se levanta no céu/Super Robô Mazinger Z/Sua força invencível alcança a todos nós.” Com esses versos cantados a plenos pulmões pelo grande cantor Ichiro Mizuki, anunciava-se uma verdadeira avalanche dentro da cultura pop japonesa dos anos 70. Tetsujin no. 28-go pode ter sido o primeiro mecha, Astroganger até deu alguns passos rumo a um novo horizonte, mas foi com Mazinger Z que os robôs gigantes construíram morada nos corações e mentes de milhões de pessoas ao redor do mundo. Sejam muito bem-vindos ao terceiro episódio de Entre No Maldito Robô.

Nascido em 1945 na cidade de Wajima, Prefeitura de Ishikawa, Kyoshi Nagai (seu nome de batismo) sempre mostrou interesse por desenhar e por ler mangás, muito a contragosto de sua mãe. Ainda na adolescência, após sofrer sérios problemas de saúde, decidiu seguir seu sonho de se tornar um mangaka e bateu a porta de várias editoras em busca de uma chance. Após várias tentativas e várias portas na cara, conseguiu se tornar assistente do lendário Shotaro Ishinomori (criador de Cyborg 009, da franquia Kamen Ride e de vários outras obras icônicas), tendo publicado sua primeira obra pouco tempo depois, em 1967. Alguns anos depois, já estabelecido como um dos autores de quadrinhos mais populares do Japão graças ao monumental sucesso da controversa obra Harenchi Gakuen, Nagai buscou inspiração em Astro Boy e Tetsujin para criar seu primeiro mangá com robôs gigantes, Mazinger Z. Na história, o cientista Juzo Kabuto tenta alertar o mundo que uma ameaça terrível está prestes a atacar, mas acaba sendo ignorado. Quando um antigo companheiro de trabalho, Dr. Hell, surge com um exército de monstros mecânicos gigantes prontos para conquistar a Terra, Dr. Kabuto, pouco antes de ser assassinado, avisa ao seu neto, Koji Kabuto, que existe uma maneira de deter Dr. Hell e suas criaturas. Segundo as coordenadas deixadas pelo seu avô, Koji descobre um gigantesco robô que pode ser pilotado através de uma pequena aeronave que se acopla a sua cabeça. Com ajuda de uma antiga assistente de Dr. Kabuto, Sayaka Yumi, que pilota o mecha Afrodite A, capaz de, dentre outras coisas, disparar mísseis que saem dos seus seios mecânicos (é, eu sei), Kouji luta contra as forças de Dr. Hell e seus lacaios, com especial atenção para o Barão Ashura, uma criatura metade homem, metade mulher (não é metáfora ou eufemismo, ele/ela é exatamente 50% corpo feminino e 50% corpo masculino). Adaptado para anime pela Toei Animation apenas 2 meses após o início de sua publicação original, Mazinger Z teve 92 episódios e provou ser um dos maiores sucessos de sua época, alcançando índices de audiência pouco vistos para um desenho animado antes ou depois. O mangá recebeu algumas continuações e spin-offs, tendo, inclusive, ganhado um filme, Mazinger Z Infinity, lançado em janeiro deste ano.

Alguns anos antes de publicar Mazinger Z, Nagai decidiu, juntamente com seus irmãos, criar uma empresa para gerenciar suas obras e facilitar a elaboração de contratos, recolhimentos de direitos autorais e outros trâmites burocráticos. Nascia assim a Dynamic Pro, empresa que cuida da carreira de Nagai até hoje. Um dos primeiros contratados da empresa foi um jovem chamado Ken Ishikawa. A princípio um assistente, Ishikawa demonstrou talento suficiente para conseguir publicar suas próprias obras. Nenhuma delas foi mais importante e influente que Getter Robo. Getter inovou ao introduzir o conceito de um mecha formado a partir da fusão de dois ou mais veículos. Cada um dos seus pilotos (Hayato Jin, Musashi Tomoe, Ryoma Nagare) controla uma nave que, quando combinadas, formam o Getter Robo. Mas tem mais! Dependendo de como se combinam, o robô gigante assume formas diferentes, cada uma delas ideal para um determinado tipo de cenário de combate. Com personagens enfezados e uma história que prima pelo exagero e pela total falta de respeito pela lógica formal, Getter Robo também ganhou uma adaptação animada pela Toei com 51 episódios, que tirou muito da violência e do exagero do mangá optando por algo mais voltado para o público infantil. Assim como Mazinger Z, ganhou diversas continuações e histórias paralelas, algumas delas bastante fieis ao mangá original.

Não demorou muito para que outras empresas percebessem o enorme potencial comercial que o gênero tinha. Uma dessas empresas foi a Sunrise. Formada por ex-empregados da Mushi Production (empresa fundada por Osamu Tezuka na década anterior), a Sunrise, em parceria com alguns estúdios (especialmente a Toei), produziu mecha-animes importantíssimos nos anos 70, em especial Yusha Raiden e a “Trilogia do Romance” (Combattler V, Voltes V e Daimos). Voltes V tem uma história especial com as Filipinas, a série foi exibida naquele país no final dos anos 70 e seu sucesso foi tal que acabou irritando o ditador Ferdinando Marcos, tendo este proibido sua exibição no país (há quem especule que a história, que gira em torno de um grupo de amigos que lutam contra a invasão de um império alienígena, tenha provocado temores de que sua influência na juventude local pudesse levar a uma rebelião, embora a realidade é que muito provavelmente o sucesso tenha contrariado interesses comerciais da família Marcos). Raiden traz elementos místicos e marca o primeiro contato com o gênero mecha de um certo diretor chamado Yoshiyuki Tomino, do qual falaremos bastante no decorrer deste espaço…Tomino que dirigiu ainda a série Zambot 3, um dos primeiros mecha com final dramático.

Vários criadores e estúdios estavam produzindo obras das mais variadas qualidades e influências, mas foi apenas em 1979 que uma avalanche ainda mais acachapante que aquela criada por Go Nagai sacudiria não apenas o gênero mecha, como todo o panorama dos animes e do próprio entretenimento nipônico. Mas isso fica para o próximo episódio. Até lá!

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Como preferir =D Mas pelo menos até agora cada artigo tem sido bastante auto-contido, cada um contando um pedaço da história do gênero mecha:

        0 – Apresentação
        1 – Origens (Tetsujin 28-go e outros)
        2 – Mazinger Z e o subgênero super robot
        3 – Gundam parte 1 (esse artigo aqui)

      • É mais falta de tempo mesmo e to deixando os artigos abertos no browser, ai leio tudo de uma vez e não preciso ficar esperando o próximo kkk

  1. Mazinger Z: Infinity não deve agradar ao público que não está familiarizado com animes e, tampouco, o que está. Sinceramente os filmes de ação não são o meu gênero preferido, mas devo reconhecer que Lego Ninjago, um dos melhores filmes de animação superou minhas expectativas. Adorei está história, por que além das cenas cheias de diversão, realmente teve um roteiro decente, elemento que nem todos os filmes deste gênero tem.

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