Charlotte, Rokka no Yuusha, Shimoneta – Primeiras impressões
Esse é o meu terceiro artigo da série de primeiras impressões. No primeiro falei de Gangsta, Game of Laplace e Okusama ga Seito Kaichou! e no segundo foi a vez de Gate, Classroom Crisis e Symphogear GX. A Lidy também escreveu um artigo de primeiras impressões sobre Dragon Ball Super. Dê uma lida em todos eles!
Nesse artigo trato de mais três animes promissores! Charlotte, sobre poderes paranormais que algumas pessoas têm até a adolescência e um grupo de alunos de uma certa escola que se dedica a evitar que esses poderes sejam abusados, Rokka no Yuusha, uma fantasia tradicional de heróis que precisam lutar contra a ameaça do Arquidemônio e também lidar com intrigas e traições internas entre eles, e Shimoneta (que é baseado em light novel e tem um nome gigante) sobre um futuro fictício onde até a forma mais leve de “pornografia”, como apenas pronunciar o nome dos órgãos genitais ou sequer descrever como ocorre o ato sexual, foi proibida há décadas em nome da “moral” e alguns dos jovens dessa futuro hipotético não sabem nem como funciona a reprodução. Um drama com um pouco de humor, uma ação em um mundo fantástico, e uma comédia levemente lasciva que critica o uso da moral como ferramenta de controle social.
E o que achei de cada um deles? Leia abaixo!
Charlotte, episódio 1 – Preste atenção na irmãzinha
Que coisa, fui pesquisar um pouco para poder escrever sem falar besteira e tomei spoiler na cara. Bom, não é grande coisa então vou contar: eu tinha achado que a Tomori era a mesma pessoa que a Yusarin da banda How-Low-Hello (nome que parece saído de Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, e isso pode ser importante no anime), por causa da cor dos olhos e da forma como as duas piscaram de forma idêntica perto do final do anime. Mas não são, Yusa Nishimori é outro personagem mas também vai participar mais da história, então não é como se a insistência em citar a banda fosse em vão. Na verdade, provavelmente nada nesse episódio foi em vão.
Por exemplo o destaque que Ayumi, irmã mais nova do protagonista Yuu, teve no episódio. Uma garotinha animada e que idolatra o irmão, que é também seu único parente próximo já que sua mãe “se divorciou e largou eles para o tio”, e sobre seu pai nada é dito. O tal tio, naturalmente, também não mora com eles. Crianças vivendo sozinhas já é um clichê comum em animes, mas em Charlotte talvez seja usado como parte do enredo, já que até o Yuu chegou a ter um sonho sobre isso depois de ouvir a irmã falar tanto. Eu acredito que a garotinha vá ser muito importante em algum arco futuro, talvez no próprio arco final do anime.
Em um anime sobre adolescentes com superpoderes, vamos falar deles logo. Yuu tem o poder de possuir outras pessoas (por no máximo cinco segundos), o que ele aprendeu a usar para seu próprio benefício, fazendo encrenqueiros brigarem entre si, colando de forma insuspeita em provas e quase matando pessoas apenas para ter a chance de impressionar a garota de quem está afim salvando-a de um acidente causado por ele próprio. Por tudo isso ele é descoberto por Tomori e Takajou, membros do conselho estudantil do colégio Hoshinoumi e forçado a se transferir para o mesmo colégio. Tomori tem o poder de ficar invisível para uma única pessoa, e Takajou tem o poder de se mover de forma praticamente instantânea (como um teleporte) entre dois pontos em linha reta, embora tenha dificuldade em acertar o local de destino exatamente. A irmã mais nova do Yuu parece não saber do poder do irmão e ela própria não tem poder nenhum, o que pode se tornar um elemento chave para o roteiro.
Os poderes desaparecem em dado momento da adolescência. Metáfora bonita e óbvia, não é? Quando adolescentes sentimos que somos capazes de qualquer coisa, que somos “superpoderosos”, até a realidade bater na porta. Mais especificamente, é incomum que essa queda na real ocorra de uma só vez. É um processo que faz parte do desenvolvimento da psique (e do amadurecimento) da cada pessoa, descrito na psicanálise freudiana como o desenvolvimento do superego, associado aos freios morais e ao auto-controle (coisa que alguém que provoca um acidente de caminhão para parecer legal para uma garota definitivamente não tem). Também costuma ser associado à figura paterna, pois seria o pai quem estabeleceria esses limites para a criança. Adequado para um protagonista sem pai e que sonha com uma figura paterna que não consegue identificar o rosto.
O início foi desenvolvido de forma muito interessante e bem amarrada, espero muito desse anime. Assistirei até o final e recomendo que faça o mesmo.
Rokka no Yuusha, episódio 1 – Por que Adlet quer tanto ser um dos Seis Heróis?
O cenário poderia ser europeu ou japonês ou chinês medieval, em qualquer um desses a história de seis heróis que são escolhidos de tempos em tempos para combater um mau desperto não mudaria muito. Mas escolheram uma estética que lembra a das civilizações mesoamericanas pré-colombianas, como os maias ou astecas. E devo dizer que o resultado é deslumbrante aos olhos! Os personagens, da mesma forma como a história, não são tão dependentes assim do cenário.
Adlet é o protagonista e seis são os heróis escolhidos pela Deusa da Justiça para derrotar o Arquidemônio cada vez que ele desperta de seu sono em uma península no oeste do continente. O episódio começa antes dessa escolha, quando os sinais eram claros que em no máximo um ano o vilão ancestral despertaria, e candidatos a heróis já eram mais ou menos conhecidos por todos os reinos e torneios ou outros eventos sagrados são realizados para revelar novos heróis em potencial para o mundo e mostrá-los aos olhos da Deusa. Adlet decide participar de um desses torneios, mas ignora todas as formalidades e simplesmente se intromete na semifinal, derrotando os dois contestantes à final contra a princesa Nachetanya, conhecida como Santa das Espadas e atual campeã. Claro que, apesar de seu poder, ele não foi acolhido exatamente de braços abertos pelo reino. A acolhida que ele recebeu é melhor descrita como “à grades fechadas”, se é que você me entende. Eu já acho que foi muito a vida dele ter sido poupada, e especulo se a princesa não trabalhou para isso, tendo ela própria demonstrado interesse pelo rapaz desde o início.
Demônios menores já estão surgindo e aumentando de número por toda parte, sendo esse um dos sinais do despertar do Arquidemônio, e de forma muito suspeita pelo menos três grandes candidatos à heróis foram mortos recentemente. Acredita-se que seja trabalho dos demônios para diminuir o poder de ataque dos heróis quando seu mestre despertar, mas Adlet comenta que não acredita que meros demônios menores sejam capazes de derrotar heróis da estatura dos que foram derrotados. É a deixa para a grande intriga que está anunciada desde a sinopse do anime: sete irão aparecer, e entre eles um deve ser um traidor.
Mas será que é mesmo tão simples? Alguém não poderia forjar o sinal da Deusa apenas porque quer muito combater o Arquidemônio? Veja o próprio Adlet por exemplo: ele foi muito além dos limites aceitáveis para ser escolhido como um herói. Me pergunto porque ele quer tanto ser um herói. E ele foi escolhido, há toda uma animação mostrando isso em primeira mão para o espectador no episódio, então não há dúvida de que ele foi um herói escolhido. Se o herói falso não for um traidor ele não poderia ser, digamos, a princesa? Ela possui a marca também, mas não aparece quando ou como essa marca surgiu nela. Pode ser forjado. Quero dizer, ela quer tanto lutar, admira tanto a força, e ficou tão admirada com o Adlet dizendo que queria lutar com ela que não posso evitar pensar que talvez tenha falsificado sua marca. Ou é isso ou um dos outros que ainda vai aparecer é um traidor mesmo. Com ou sem traidor, a simples suspeita da existência de um será motivo suficiente para criar muitos conflitos ainda na história. Outra estreia divertida e que eu recomendo.
Shimoneta to Iu Gainen ga Sonzai Shinai Taikutsu na Sekai, episódio 1 – Ecchi com causa
No Japão (bom, no mundo todo, mas para o propósito do anime e da light novel na qual ele se baseia o que importa é o Japão) vez ou outra surgem propostas de leis para defender a “moral” ou outros termos de definição vaga e fluída, e algumas dessas são aprovadas ao arrepio de outros direitos individuais. Se você acompanha um pouco que seja as notícias do meio otaku, deve ter visto as inúmeras notícias de animes proibidos na China por serem muito “violentos” ou “eróticos”. E pouca gente sabe, mas a legislação canadense é draconiana com o assunto: se você for pego com material que possa ser considerado pornografia infantil (e ilustrações contam para isso, bem como simplesmente mostrar a calcinha ou a mera sugestão de pose ou situação erótica de personagem que pareça menor de idade pode ser suficiente para o enquadro na lei) você pode ser preso, multado, e se tiver filhas pode ser obrigado a viver afastado delas por algum tempo! É isso aí, se você lê Love Hina você é considerado um pedófilo e estuprador em potencial no Canadá. Nesse quesito o Brasil até que não é tão ruim, né.
Agora extrapole, imagine que uma lei realmente feroz contra pornografia seja aprovada, uma que considere crime até mesmo pronunciar os nomes dos órgãos sexuais ou apelidos desses, a posse de qualquer foto ou ilustração que sugira um grau a mais de libido, uma lei que permite a uma acusadora arrancar pequenas fortunas de outras pessoas sem precisar provar que elas tocaram nela, onde meios tecnológicos foram criados para assegurar o cumprimento dessa lei (todos vestem coleiras que monitoram tudo o que você fala), a delação é encorajada e a sociedade já vive sob essa tirania há algumas décadas, a ponto de muitos dos jovens criados em famílias e colégios de “moral mais elevada” sequer saberem como ocorre a reprodução humana e todo mundo considerar esse estado de vigilância permanente normal. Bem-vindo à Shimoneta! (não vou escrever o nome inteiro, me recuso, no título já está bom demais)
O quanto de crítica de fato esse anime vai ter e o quanto vai ser só desculpa para fazer piadas sexuais e colocar o protagonista e outros personagens em situações eróticas eu não sei, mas pareceu muito promissor. Se for assistir apenas pelo ecchi, não recomendo, nem é tão forte assim, mas a comédia é forte. E uma das utilidades mais importantes da comédia é esse: expôr os absurdos da sociedade. Mostrar que o rei está nu. Não se trata de, como Okusama fez, defender o sexo como um fim em si, mas de denunciar quem acha que escondê-lo é uma forma de defender o bem. Anime engraçado, animado e promissor: eu defendo que você o assista. Obs: Será que calcinha na cara vai virar moda que nem fita embaixo do peito?