Esse episódio teve a missão de introduzir a nova personagem, contextualizá-la no ambiente do quase clube de vôlei de praia, e mostrar ao telespectador algo recorrente em histórias que têm um esporte como pano de fundo, que a prática esportiva geralmente está associada a se enturmar em um grupo e fazer amizades, ainda mais em se tratando de um esporte coletivo como o vôlei. Pode até ser clichê explorar esse assunto, mas se ele pode ser associado a vivência de uma das protagonistas que mal há nisso? Isso é bom para a coesão da história, e também tem seu mérito enquanto mensagem positiva!

O episódio começa me surpreendendo com a peculiar performance de uma idol do vôlei – japoneses são muito criativos, né? –, e quem melhor para o papel senão a Akari, a prometida quinta integrante da extensão do clube de vôlei que, seguindo a velha regra dos clubes esportivos escolares japoneses, ao se juntar a ele faria com que o clube passasse a ser oficial. Isso fez com que a inserção da Akari no grupo fosse de interesse de todas? Com certeza, mas seria um desperdício se fosse somente isso e é justamente na interação entre personagens e na correlação de seus dramas que o anime brilha mais.

De um lado temos a Akari, que por seu status de “celebridade” tem dificuldade para fazer amizades, o que se deve mais a forma distante como aqueles a sua volta a veem do que a sua própria vontade de não se enturmar – já que ela quer ser popular e acha que virar uma idol do vôlei a proporcionaria isso. Do outro temos a Kanata, que conheceu alguém que passou por algo parecido, a Narumi. Ainda que seja por motivos diferentes, ambas eram solitárias porque as pessoas evitavam a aproximação e elas também não sabiam como fazer amigas mesmo querendo isso. Foi a Kanata que estendeu a mão para a Narumi, a apresentou ao vôlei de praia e a ajudou a se relacionar melhor com outras pessoas – tanto é que agora a Narumi é parceira de outra garota –; então, ao perceber que a Akari passava pelo mesmo problema como ela poderia não estender a mão e tentar ajudá-la? O esporte tem muito disso, de pessoas incentivarem outras a praticá-lo e, por meio dele, “expandirem os seus horizontes”.

A tentativa de Akari de “roubar” uma parceira para si foi bem boba, é verdade, mas não foi assim tão forçada visto que ela realmente não sabia como falar com as pessoas da mesma idade, com quem ela deveria fazer amizade. Sua personalidade tsundere também não é a mais animadora, mas não chega a ser tão irritante visto que não é exagerada, tendo mais a ver com a falta de tato para se comunicar com o próximo do que uma soberba adquirida por seu status de celebridade. O tipo de tsundere que é assim porque quer se libertar da concha na qual se encontra, mas não sabe como fazê-lo. Por sorte dela, não só a Kanata, mas a Haruka também decide estender-lhe a mão para ajudá-la a fazer amigas.

Não podia faltar o bom e velho clichê do, “Se você perder entra para o clube”, né. O que até foi bem-vindo porque a intenção da Kanata não era forçar a garota a se juntar ao clube, mas fazer ela sentir o quanto o ambiente e a atividade eram divertidos, fazendo a Akari entender que, ainda que não fosse do jeito que ela gostaria, era sim possível alcançar seu objetivo. O que ela queria não era ser popular só por ser popular, ela queria é fazer amizades, ter com quem almoçar; com quem conversar sobre qualquer coisa; com quem sair, se divertir e até brigar; com quem compartilhar algo “verdadeiro”. Aí entrou o interesse dela no vôlei de praia e a receptividade das garotas aos sentimentos que ela tinha.

Akari enfrenta Kanata e ao prever os movimentos da iniciante a derrota dela se torna mais que certa, mas se o resultado final era o menos importante, foi a insistência da novata que a fez gostar de jogar vôlei de praia, e a proporcionou o estabelecimento de um laço que nem precisava ser enunciado em voz alta porque ali todas já eram amigas, todas compartilhavam um gosto igual e o desejo de crescer juntas tanto no esporte, quanto na vida. Quer mensagem mais bonita e necessária que essa para um anime esportivo? E nem é preciso deixar a competitividade de lado para isso. Um exemplo pode ser visto no desejo da Kanata de enfrentar a Narumi, que é tanto sua amiga, como rival no vôlei de praia.

Um episódio de personagem com um drama que é facilmente relacionável a uma das protagonistas e provoca a solidificação de um sentimento de unidade com relação ao grupo, afinal, a Akari, ao menos por ora, deve agir mais como uma assistente, como alguém que provê suporte as duas duplas e traz a sensação para as garotas de que vencer ou perder não diz respeito só a elas, mas também a quem dá forças fora da quadra e ajuda para que o que acontece dentro dela corra da melhor maneira possível.

Para trabalhar seu drama Harukana não precisou deixar a comédia de lado, pelo contrário, pois usou mais dela do que fez nos episódios anterior e acertou com isso, já que a mensagem que o anime quis passar se tornou mais leve e fácil de ser digerida. É verdade que esse é um tópico recorrentes nessas obras, mas a forma como se trabalha a amizade no esporte é importante para fazer o público ver que há verdade no enredo do anime, que a amizade formada tem motivo para existir e é proveitosa a ele.

Para concluir, não posso negar que usar o elemento “idol” em Harukana me incomodou um pouco – e olha que eu adoro idols –, mas não é como se isso não fizesse sentido e idols estão fazendo o maior sucesso nos animes, né? Não é errado se aproveitar de um ou outro elemento popular ao longo de uma obra se isso não prejudicar a sua execução – como não prejudicou em Harukana. Só espero que não extrapolem com alguma outra ideia inesperada, o que não é preciso visto que só a jornada até a competição vindoura, e ela em si, já são suficientes para acabar esse belo anime com chave de ouro.

Ouro de qual das três duplas principais? Não faço ideia, mas tenho certeza que a chegada da mãe da Éclair vai agitar o recém oficializado clube de vôlei de praia e quem sabe será a oportunidade a qual a Harukana precisava para tentar igualar o máximo possível as adversárias difíceis que tem pela frente.

Você não precisa ser outra pessoa para fazer amizades, basta dar o primeiro passo, falar com alguém e, a partir daí, buscar desenvolver uma amizade com essa pessoa. Uma bela mensagem, não acham?

Harukanaservice