Em que tipo de monstro Ash está se transformando?

Bom dia!

Desde o começo do anime o quanto eu aprendi sobre Ash, o criminoso?

  1. Ele atira muito bem
  2. É esquentado pra caramba
  3. (mas no fundo tem um bom coração, é misericordioso, empático, e faz de tudo para proteger os seus)
  4. Hacker nas horas vagas
  5. E tem um passado trágico que explica como ele se tornou tudo isso

E ah, sim, ele é “líder de gangue” também. Mas isso tecnicamente o anime havia apenas contado, não havia mostrado, ao contrário de todo o resto. A gangue dele não apareceu pela primeira vez nesse episódio, mas eles são retratados tão consistentemente como patetas que mais parecem crianças que o Ash precisa cuidar do que bandidos de verdade.

Nesse episódio o Ash mostra porque ele é um líder de gangue.

Ash mostra tanto o quanto ele é um líder competente quanto como ele é capaz de ser implacável para alcançar seus objetivos. Um verdadeiro líder de gangue, e não apenas de gangues de delinquentes de rua. Quero dizer, ele é um líder de uma gangue de delinquentes de rua, mas com seu nível, com seu talento, ele bem poderia ser líder de qualquer quadrilha, de qualquer nível.

O plano de Ash para se livrar do Papa Dino por algum tempo, que já pareceu muito bom no episódio anterior, nesse se revelou genial. Se a ideia fosse só mandar o chefão para longe ele ganharia algum tempo mas depois tudo voltaria ao que era antes, com a diferença de que ele teria sua gangue de volta.

Mas ter sua gangue já foi inútil uma vez, e, em que pese ele ter sido pego de surpresa, ela era então bem maior.

Ao invés, ele está aproveitando o tempo em que mandou Dino Golzine para longe para derrotar Arthur de uma vez por todas. Dino deixou seus homens à disposição de Arthur para lidar com Ash enquanto ele está fora, mas será que Arthur usará esse seu trunfo?

E será que Ash não está levando essa possibilidade em consideração? Ao travar uma, sim, impiedosa, mas legítima guerra de gangues, ele está provocando Arthur a responder em seus próprios termos. Talvez com a ajuda da máfia Arthur tivesse uma vantagem insuperável, mas seria realmente uma vitória?

O que restaria para Arthur depois de Ash devastar Manhattan e ele precisar usar a Máfia Corsa para derrotá-lo?

Estaria enviando uma mensagem de fraqueza. Seria uma vitória pírrica. Acredito que Ash conte com isso e por isso esteja sendo tão violento em suas ações: para atrair o Arthur.

Que não se duvide da capacidade do vilão de jogar sujo, e nem o Ash duvida disso, aliás, mas está tentando fazer o melhor que pode para maximizar suas chances de vitória. Se tudo der certo, quando Dino Golzine voltar Ash terá a maior gangue de rua de Manhattan.

Se esse é o caminho para a vitória, porém, não é sem suas desvantagens e efeitos colaterais. Ash está sofrendo. Lembre-se: ele é misericordioso e empático. E ele não gosta de matar, embora seja muito bom nisso.

Quando fugiu da mansão a situação era bem diferente. Ele estava pleno de ódio, tinha como objetivo muito claro salvar o Eiji (e, depois, vingar o Shorter) e estava cercado de homens tentando matá-lo. Ali era matar ou morrer.

 

Ash precisa de Eiji

 

Agora não é. O Eiji sabe que não é, o Ash sabe que não é. Ash está matando delinquentes adolescentes que podem muito bem ter sido tão forçados a essa vida quanto ele. Eles não tiveram escolha. Imploraram por suas vidas. Mas Ash não os poupou.

Ash não é assim.

Ele não gosta de matar desde que matou pela primeira vez, lá pelos 7 ou 8 anos, quando matou um assassino em série pedófilo que o estuprou ao longo de um ano inteiro. Em particular, ter tido de matar o Shorter o lembrou do terror de tirar a vida de alguém, coisa para a qual ele tenha se anestesiado ao longo dos anos.

Se ele se esquecer de novo desse terror talvez vença essa guerra, talvez derrote todos os monstros que o atormentam, mas acabará se tornando ele próprio no próximo monstro.

Essa citação de Nietzsche já é um clichê, mas cabe muito bem:

 

Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.

 

Esse é o papel do Eiji: impedir Ash de fitar o abismo por muito tempo. Talvez de forma involuntária, inconsciente, Ash sabe disso, o que é uma razão extra (além do carinho mútuo que possuem um pelo outro) para mantê-lo por perto. Eiji parece ter percebido isso nesse episódio, talvez também de forma um pouco inconsciente. Tudo o que Eiji sabe é que Ash está indo pelo mal caminho, e que não pode ser assim.

A desgraça é que, por enquanto, é assim que tem que ser.

O embate contra Arthur já está agendado. Sabemos muito pouco sobre quem é o Arthur, mas o anime revelou uma série de características suas que não poderiam fazê-lo mais diferente de Ash.

Ash é corajoso, temerário até, Arthur é covarde. Ash usa de sua astúcia, como necessário no mundo em que vive, mas quem trai de forma vil é Arthur. Ash tem orgulho e não quer ficar devendo nada a ninguém, Arthur vem lambendo as botas do Dino desde o começo do anime para com seu favor conquistar poder, ainda que isso o torne não mais do que um capacho de Golzine. Tudo isso ficou evidente nas conversas que ambos travaram, em separado, com Cain, líder de outra gangue.

É para enfrentar alguém assim, nas circunstâncias em que se encontra (com Papa Dino temporariamente afastado e sem poder confiar nos chineses), que Ash julgou ser essa a melhor forma de combater Arthur. E talvez ele esteja certo.

O protagonista, porém, ao lavar os becos de Manhattan com sangue, se arrisca a vencer uma batalha que talvez não lhe renda espólios. Quantas gangues será que se aliariam honestamente a Ash depois que tudo tiver acabado?

Mas aparentemente está tudo bem porque esse não é seu objetivo final. Ele ainda está com os olhos em Dino Golzine. Com a ajuda de Max (e fotografias do Eiji), desvendou uma enorme conspiração do governo americano para lançar no caos países que não o apoiam no Oriente Médio e substituir seus governos por marionetes obedientes. O que a Máfia Corsa ganha com isso? O ópio do “Kafeganistão”.

 

O mapa da conspiração

 

A ideia é absurda, mas há quem acredite que no mundo real seja exatamente o que aconteceu no caso da Primavera Árabe. Que, é verdade, de “primavera” nunca teve nada, mas essa interpretação reducionista é na melhor das hipóteses insuficiente, e na maioria dos casos simplesmente errada.

Com isso quero dizer que embora o enredo de Banana Fish pareça nesse ponto absurdo, ele ainda consegue ser menos absurdo do que muitos acreditam ser o mundo real. Assim sendo, como posso criticar o anime, não é mesmo?

A história de Ash continua consistentemente boa, porém, então realmente não tenho nada do que reclamar. A conspiração é só um pano de fundo.

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