Yagate Kimi ni Naru – ep 6 – O Rio
Bom dia!
Rios e a imaginação humana têm uma longa história conjunta. Rios dos mortos, como o Aqueronte do submundo grego, ou o Sanzu do budismo japonês, mas também rios sem nome e bem menos populares como aquele de Guimarães Rosa em seu conto A Terceira Margem do Rio.
O rio é uma barreira natural. Uma das mais fáceis de superar, seja a nado, embarcado, ou a pé mesmo, se for raso o suficiente, mas mesmo que construamos uma vistosa ponte para atravessar um rio em segurança, ele continua lá embaixo, imovível, dividindo o mundo entre o lado de cá e o lado de lá.
Mesmo sem rio nenhum, algo continua dividindo, separando, a Sayaka e a Yuu. A melhor amiga da Nanami pode ter aceitado a Yuu, mas continua observando ela com a cautela e a desconfiança da distância. Nesse episódio, em particular, ela faz questão de lembrar Yuu que a Nanami também não está assim tão próxima dela quanto pensa.
É como se Yuu estivesse olhando o reflexo nas águas de uma Nanami que, não obstante, está do outro lado de um rio. Sayaka a alerta disso com a propriedade de quem provavelmente já viu a Nanami real – mas parece ter escolhido (ou não teve outra opção) continuar olhando para o reflexo dela, ou para sua distante imagem na outra margem.
O que parece ser fúria mal contida que explode – mas mantendo toda a classe e educação que se espera da Sayaka – é talvez uma tentativa desesperada de gritar “Vá e olhe, mas olhe bem, pois Nanami não é nada disso que você pensa!”, na esperança, talvez, de fazer a Yuu desistir.
Mas Yuu não desistiu. Como poderia? A seu modo, ela já ama Nanami. Mas talvez devesse ter passado mais tempo observando-a de longe, ao invés de pular nas águas para atravessar o rio à nado e olhar para a alma da presidente através de seus olhos. Pois eis que muitas coisas são melhor entendidas à distância, vendo o todo de uma só vez.
Yuu, que é Yuu, que no episódio anterior mostrou que sabe manter a distância quando está atrás de um balcão, agiu intempestiva nesse episódio depois de um breve vislumbre, e acabou presa na mesma armadilha em que Nanami está.
Isso culminou na cena até agora mais importante do anime: a beira do rio, Yuu confessa tudo o que descobriu sobre Nanami, que não nega nada. Yuu chega perto de confessar coisa demais, mas a cada palavra Nanami se afastava, então ela ocultou partes importantes do seu discurso.
Toda a dúvida, o medo, a ansiedade, foram retratados visualmente na fantástica cena do rio. Mas, note: nenhum bom sentimento passou por ali.
Nanami se afasta, vira as costas, olha de soslaio, Yuu tropica, persegue, se aproxima, Nanami volta. A sombra, a luz, o trem que passa. É como se pudéssemos enxergar os sentimentos das garotas, manifestos através de suas ações e movimentos sobre o rio.
Não tenha dúvida: se Nanami tivesse atravessado, elas teriam se separado permanentemente.
Talvez Sayaka tenha passado por isso? Ou talvez tenha simulado isso em sua mente, talvez mais de uma vez, e tantas vezes sem conseguir como obter resultado outro que não a separação. Por isso seria o amargor dela para com a Yuu, e por isso empurrou Yuu na direção do rio.
A situação da Touko Nanami é mais complicada do que parece e mais simples do que elas imaginam. Sete anos atrás, sua irmã, Mio Nanami, era a presidente do mesmo Conselho Estudantil que ela é hoje. Sete anos atrás, ela iria realizar a mesma peça teatral que Touko agora está planejando.
Mio estava no pináculo de sua vida, e não poderia estar em melhor posição. Era amada por todos, família, escola e amigos, presidente do Conselho Estudantil, inteligente, bonita, determinada.
Mas sete anos atrás Mio morreu. A peça não foi realizada. Nunca mais foi realizada. E, como irmã mais nova, Touko foi pressionada e se pressionou a ocupar o espaço da irmã mais velha. Essa é a origem de toda a insegurança da Touko, que, não obstante, ela exibe apenas para Yuu.
Nanami vive uma vida que talvez ela pense falsa, que não é sua. Ela parece ter bem dividido em sua cabeça qual é a sua personalidade e qual é a de sua irmã. Quem é Touko e quem é Mio. E ela tenta viver como Mio, sem matar Touko, apenas a prendendo no fundo de seu coração. Mas nesse conflito, provocado por um luto com o qual ela ainda não soube lidar, ela falha em perceber duas coisas:
Primeiro, talvez sua irmã não fosse assim perfeita. Se Touko sofre para manter essa máscara, como ela pode ter certeza de que o mesmo não era verdade para Mio? No limite, pode ter sido isso o que empurrou a irmã mais velha para sua própria morte – sim, talvez não tenha sido acidente.
Segundo, se Touko já está há sete anos sistematicamente escolhendo viver daquele jeito, aquilo não é mais mentira. Ela efetivamente se tornou aquela pessoa. Uma pessoa complicada, que esconde seu lado frágil e sofre por isso, mas não obstante essa é quem ela é. Não Mio, mas Touko mesmo.
São detalhes assim que Yuu talvez tivesse apercebido se tivesse se mantido afastada por um tanto mais de tempo, mas agora é tarde, ela se enredou nas palavras de Nanami e não pode, nem se quiser, escapar do destino em que se meteu. Não sem provocar mais sofrimento.
O problema talvez seja que a Yuu também tem suas próprias preocupações, seus próprios anseios. Ela não é uma terapeuta, ela não está lá para curar a Nanami, ela só quer aprender a amar com essa garota bonita, delicada, e psicologicamente quebrada que ela conheceu e por quem se afeiçoou.
Yuu tenta dizer para si mesma que não precisava ser a Nanami, poderia ser qualquer um. Ela já se diz isso desde o episódio anterior. E, no entanto, ela quer mesmo é a Nanami. Consegue imaginar ela indo atrás e fazendo tudo isso por outra pessoa?
Ela ainda não percebeu, mas seu próprio pensamento já não consegue ocultar isso: durante a cena do rio, Yuu pensa claramente que ela quer aprender a amar e tem que ser com a Nanami.
A Nanami, por outro lado, da boca da fora diz que é a Yuu. A Yuu é um ponto fora da curva na vida dela, tendo sempre rejeitado todos e todas que a ela se declararam, nunca parecendo interessada em romance. Mesmo assim, bastou a Yuu começar a desenterrar seu passado, bastou a Yuu começar a sugerir que a Nanami deveria ser desse ou daquele jeito, que ela começou a se afastar sem segundo pensamento.
Em seus próprios termos, se a Yuu demonstrasse interesse por qualquer característica sua, como seu lado fraco, que ela identifica como sendo sua personalidade real, então Nanami não iria querê-la mais.
Como alguém que se sente vestindo uma máscara o tempo todo, ela tem a percepção aguda de que o amor é necessariamente superficial. Quem se apaixona, se apaixona por alguma característica da pessoa. Sua aparência, seu gênio, seus modos. Nanami não quer isso.
Talvez porque acredita que está mesmo vivendo uma vida dupla, ela sinta como se sua máscara pudesse rachar a qualquer momento. Talvez Nanami não se sinta segura para dizer quem ela própria é, e talvez não se sinta segura para garantir que irá continuar assim. Talvez Nanami não saiba mais quem é.
Não deixa de ser uma forma de rejeitar e rebelar-se contra o que a fez ser assim em primeiro lugar: as expectativas de todos ao seu redor de que ela fosse como Mio, sua irmã morta. Se ela fosse assim gostariam dela. Se ela fizesse isso a amariam. Se ela se comportasse de tal maneira iriam respeitá-la.
Pensando dessa forma, não é difícil entender porque Nanami não quer ser amada. Pelo menos por uma pessoa no mundo, Nanami não quer ser amada. De algum modo perverso, é só assim que consegue se sentir realizada em uma relação.
O irônico é que, para a Nanami sim, poderia ser qualquer pessoa. Claro que não há muitas pessoas como a Yuu por aí, e talvez ela nunca mais encontrasse alguém assim, mas não há nem nunca houve nada em particular na Yuu que atraísse a Nanami.
Isso tudo descamba em um relacionamento abusivo. Quando tem vontade de beijar, Nanami beija. Quando tem vontade de andar de mãos dadas, elas andam. Abraçar no meio do corredor da escola? Também.
Nanami não deixa dúvidas: na cena do beijo no Conselho Estudantil, ela disse para a Yuu, literalmente, que o que a atrai na garota é que ela aceita tudo o que venha dela.
A Yuu só quer aprender o que é amar, mas a Nanami não sabe o que é e rejeita o amor. Tenho certeza que ela gosta da Yuu, mas a expectativa dela para o relacionamento é apenas ter alguém que possa atender seus desejos e necessidades a qualquer momento.
Por enquanto essa relação não está fazendo mal para nenhuma das duas, mas não é difícil imaginar as muitas formas em que isso pode dar errado. O melhor para uma relação que começa assim é terminar o quanto antes, sem traumas nem crises. Infelizmente isso é anime e duvido que vá acontecer.
O mais provável é que de alguma forma elas fiquem juntas no final, depois de uma usar a outra e a outra usar a uma como psicóloga particular. Ou que os conflitos se acumulem até que tudo acabe em um trágico suicídio duplo ou coisa que o valha.
Bom, esses são os finais que me parecem possíveis no mangá, que tem ainda tempo para isso. O anime não vai ter tempo de fazer nada disso, e elas devem só terminar felizes para sempre (?) ao final do episódio 13 e é isso aí.
raava u,u
pqp, eu nao consigo imaginar um final tão ruim para yagate kimi ni naru, a pesar de sim, este episodio ter dado uma visão TERRIVE porem realista do relacionamentos delas. mas após ele o manga faz questão de mostra delicadamente que ele não chega a extremos, que ele vai suavemente evoluindo, com muita paciência. ele não é um manga extremista, isto lhe garanto.
e eu não concordo que para nanami poderia ser qualquer um para nanami na vdd seria melhor ela nunca ser amada, pois assim nunca precisaria ou teria o risco de mostrar a verdadeira “ela” q voce mesmo disse q ela divide.
ela odeia ela mesma, ela odiaria saber tbm que alguem amaria ela pelo personagem que ela criou, pq pqp isto significaria que quando ela sei la mudasse, ou mostrasse outro lado dela, aquela pessoa não amaria ela, sim a nanami tem uma visão terrivel sobre o amor e muito conturbada.
mas ela se apaixonou pela yuu, e o motivo dela ter se apaixonada por ela foi um reflexo de algo nao sei se é algo da mio ou da “touko fragil” mas é algo que ela sempre quis ter
e quando se sentiu assim, percebeu q não poderia fugir, e que talvez tentasse, mas dentro dela não da para aceitar alguem amando ela. não dar poém ela consegue aceitar que ela pode amar alguem, pois ela sabe que esta se apaixonando por alguem real.
nanami é complexa em milhares de niveis, mas nada que chegasse ao verdadeiro extremo do ruim.
ela é extremamente egoista, e faz tudo que der na telha e espera que os outros aceitem, mas as duas sayaka e yuu tem grande noção disso, e ja deixaram bem claro que yuu não aceita qualquer coisa para ela. ela é teimosa e inflexivel quando é sobre algo que ela nao gosta.
entretanto ela quer tentar.
eu também estou preocupada como anime irá abordar toda historia, pois oq vem agora no manga é de puraa delicadeza,
e que precisa ser demostrado o maximo o possivel, mas não sei se terá tempo para mostrar ao publico que tudo não é tão perdido assim.
Fábio "Mexicano" Godoy
Também duvido que tenha um final infeliz. Mais ainda: duvido que não tenha um final feliz.
É que eu não gosto do tropo muito comum na ficção em geral (não só em animes) em que o amor “cura” tudo. Estamos vivendo a tanto tempo vendo isso em livros, filmes, novelas, e sim, mangás e animes, no nosso caso, que acreditamos que seja verdadeiro. E não é. Às vezes, as pessoas precisam procurar um terapeuta mesmo. Do contrário, terminam em relacionamentos tóxicos.
O relacionamento entre Nanami e Yuu ainda não está fazendo mal para nenhuma das duas, mas as circunstâncias em que ele acontece são terríveis. Duvido que algo muito ruim irá acontecer, no máximo um conflito aqui e ali para dar uma turbinada no drama, mas o ponto não é esse. Como eu disse, me incomoda o exemplo que ele passa.
Mas é bonito sim, mesmo que irreal, mesmo que perigoso tentar imitar, esse tipo de romance fictício. É por isso que eles nos atrai, não é? Por isso gostamos de assistir essas coisas. Porque, no fundo, todos queremos alguém que aceite tudo de nós, como a Nanami tem a Yuu. Os mais românticos entre nós até tentam se convencer que seriam capazes de aceitar tudo de outra pessoa, desde que a amasse, mas isso sempre só é verdade até a hora que começa a machucar.
Não estou criticando YagaKimi nem nada, só estou pensando alto aqui, esperando pelo dia em que um relacionamento tóxico é tratado como tóxico na ficção e tudo termina bem, sem ninguém precisando se machucar. Nem acho que seria necessariamente uma história menos interessante: não acha que um romance que não dá certo mas os dois no final entendem isso, se separam, mas continuam bem e em paz um com o outro, seria legal de assistir? Eu acho.
Não vai ser o caso de Yagate Kimi no Naru, claro. E vai ser bom mesmo assim, apenas vai ser, nesse particular, igual a tantas outras histórias.
Obrigado pela visita e pelo comentário =)
raava u,u
exatamente isto, no anime não deixou tão claro assim, mas a yuu achava que só pq a nanami amava ela ia tentar se curar.
e foi por causa deste pensamento que levou a yuu fala aquelas coisas no rio.
no manga deixa mais claro isto…
eu só quero dizer q não passa esta informação de que amor cura tudo
pq esta interpretação é totalmente rejeitada durante o enredo .
por isto acho necessário ter todos capitulos do manga no anime, para mostrar a evolução depois deste episodio
pq é serio, é uma construção, e tipo yuu rejeita o lado psicologo porque a propria nanami rejeita isto dela.
então yuu tenta acha outras formas e situações que façam isto por nanami.
mas não tira o fato que nanami acaba tendo que se curar sozinha durante o resto do processo
pois o manga começa a mostrar que nanami usa muito a yuu como escape dos problemas.
é igual pessoas viciadas em bebidas que bebem para esquecer os problemas aushdaudha
e quando yuu começa a rejeitar ser o escapismo, rejeitar ser a cura, é maravilhoso.
por isto te digo com tranquilidade eu sei oq voce diz, mas este manga não comete este erro.
eu sei que voce esta falando seus pensamentos alto e deu para perceber sua revolta
e também um sentimento de desistencia também, e fiquei aguniada em ver isto. mas é exatamente este sentimento que este episodio quer passar para o espectador, fazer com que ele se sinta igual yuu… vontade de desistir da nanami.
mas diferente da yuu não estamos apaixonados asduhaudhaudahsduasdhuadas então sentimos mais raiva.
Fábio "Mexicano" Godoy
Olá Raava, tudo certinho?
Eu não sei que mensagem o mangá vai passar porque não estou lendo o mangá, nem esses artigos aqui são sobre o mangá. O anime, até esse momento, aliás, principalmente nesse momento, corrobora o senso comum de que “o amor pode tudo”. Vencer qualquer barreira, superar qualquer obstáculo, basta se esforçar que vai dar certo. Isso nem é apenas um clichê de ficção, nós como sociedade parecemos acreditar nisso, e a ficção (não apenas animes e mangás, toda a ficção, a ocidental inclusive) reflete e reforça isso, com as eventuais exceções que comprovam a regra. Só não sei o que é que veio primeiro nesse dilema, se o ovo ou a galinha.
No mundo ideal, para mim, o relacionamento entre Yuu e Nanami daria errado e pronto. Começou errado, a chance de dar certo é muito pequena, como isso é ficção não vale a pena embelezar e fazer dar certo porque pessoas reais vão se inspirar e tentar emular isso em suas vidas. Mas daí não vai ter um autor generoso por trás escrevendo, e provavelmente irão se frustrar, talvez se machucar muito. Mas é praticamente impossível que isso aconteça em Yagate Kimi ni Naru, não é? Não sou bobo. Elas passarem por muitas dificuldades antes de enfim “darem certo” já seria satisfatório.
Acredito que seja mais ou menos o que esteja acontecendo no mangá, e é o que você quer dizer quando escreve que não é preciso dizer que “o amor cura tudo”, e posso concordar com você – elas vão passar por poucas e boas, afinal. Nem sempre juntas, no sentido estrito da palavra, mas ainda assim uma por causa da outra. Ainda assim, ao fim e ao cabo, ficarão juntas, não é? Ou acha que existe hipótese de terminar diferente? Quando YagaKimi acabar Nanami terá superado seu pesar pela perda da irmã e sua insegurança em se sentir agindo como se fosse outra pessoa, que por conseguinte causava seu medo de ser amada, Yuu saberá dizer o que é amor, e elas serão felizes para sempre. No horizonte escatológico, a utopia. No caminho até lá, o amor de uma pela outra, que as levará a se esforçarem para superar cada dificuldade. Ou seja: o amor curará tudo.
Mas não se preocupe, não estou revoltado, muito menos sequer cogitando jogar a toalha! Estou adorando esse anime, é um dos que estou mais gostando de assistir nessa temporada, e um dos que estou sentindo mais prazer em escrever esses artigos – e em responder os comentários também! Veja quanto estou desenvolvendo do meu raciocínio em apenas um comentário? Não é qualquer anime que me permite isso. Estou adorando. Só estou analisando as coisas de um ponto de vista talvez diferente do seu – e não necessariamente mais “correto”. Expliquei acima o que estou tentando dizer, espero que tenha ficado mais claro agora.
Obrigado pela visita e pelo comentário ☺