Lidar com perdas não é algo fácil, mas é necessário, principalmente quando aquilo que foi perdido ocupa um espaço em você que muitas vezes se torna maior que o seu próprio. Por isso como diz o título traduzido: “Viva e deixe morrer!” (Guns n’ Roses).

Assim como funciona o corpo pra um machucado no pé, são as feridas internas, elas necessitam de tempo e de pequenos cuidados pra que logo cicatrizem e sarem. Merc Storia nos apresenta nesse episódio pontos de vista diferentes desse momento como um fechamento ao arco da cidade dos mortos, detalhando um pouco esse conflito interno pessoal e levando não só as personagens, mas até nós mesmos a uma reflexão de como encarar tal problema.

O mundo dos sonhos que vimos antes, nada mais seria que uma válvula de escape onde todos os sofrimentos passados no mundo real pudessem ser esquecidos e enterrados. No entanto, aquele lugar nunca seria real e permanente, então pra que as coisas realmente terminassem de forma sensata era necessário que cada um entendesse isso, sua própria dor e o que de fato era seu maior desejo, pra que assim eles se desfizessem de suas amarras e conseguissem a verdadeira liberdade que buscavam.

Retornando ao momento em que Yuu entra em uma ilusão, vemos parte de seu passado. Yuu cresceu admirando o pai, e pela fragilidade da própria idade ele se sentiu traído, abandonado e sofreu com a perda dele a suposta morte indicada no primeiro episódio.

Esse choque fez com que ele desistisse de ver alegria nas coisas, e foi em Merc que ele encontrou o apoio que precisava, uma vez que a pequena compartilhou momentos com ele desde o seu surgimento e entendia a dor pela qual ele passava, tentando sempre encontrar meios de renovar o espirito dele. Yuu durante o sonho e ao acordar, apenas ratifica o forte laço que possuem e o papel essencial que sua minúscula companheira tem.

Entrando agora no que eu tinha dito a respeito dos outros casos mais pesados, temos dois exemplos: o sentimento que amarra e inflige dano a suas relações e aquele que te aliena e te desliga do mundo.

Para o primeiro caso nós somos inseridos na realidade em que vive o pai de Cosette. Jean era um homem sonhador que havia perdido sua esposa Eleonora quando ainda jovem, mas diferente das outras pessoas da cidade que o cercavam, os sentimentos que tinha eram tão fortes que o impediam de quebrar a joia que guardava a alma dela, e isso prendia não só a ele como também trouxe consequências em sua relação com Cosette.

A desorientação dele em seu luto o tornou isolado e o afastou de sua filha, que dada a situação era a única que deveria ser o foco do seu amor, mas contrariamente era a que mais sofria, e como adendo isso o privava de seguir adiante e guinar seus sonhos antigos.

Já do outro lado temos Citrouille ou Shitoruiyu as traduções não se decidem então uso a mais atual, que como eu pensava estava ligado por um forte elo de amizade ao garotinho da entrada também dono do castelo. O abóbora vive uma situação de perda similar a Jean, mas no seu caso o luto o levou a um estado onde ele acabou por “perder” a memória.

Citrouille entra num modo onde o desejo de não lembrar algo o aliena da realidade, dentro dele tudo é removido, ele se transfere pra o mundo ilusório de forma permanente sem lembrança alguma, ficando apenas o vazio de uma amizade que desconhecia e uma promessa que nunca tinha se cumprido, sonhos que ele sequer entendia ou sabia a origem.

Yuu é o retrato de alguém que encontrou um meio de sair de seu transe e seguiu em frente mesmo com a dor, Jean se agarra a memória passada aprisionando a falecida, a filha e a si mesmo, enquanto Citrouille simplesmente entra se desconecta da realidade e do seu eu.
Todas essas vertentes são bem exploradas aqui e a interação entre todos também é eficiente, é bacana ver cada um participando da transformação do outro e potencializando o efeito da mensagem que se desejava passar, .

Um ponto positivo no meio dos vários que tiveram, é que admirei bastante a postura de Eleonora que mulher, e a dubladora maravilhosa. Normalmente em mundos fantasiosos, as ilusões te induzem a permanecer e viver aquela mentira, mas a moça segue o caminho oposto e mostra ao amado que ele tem um desejo real, que tudo aquilo é falso e existe um mundo fora dali onde se tem inúmeras possibilidades e onde há alguém que espera por ele, que deseja ser “salva” pelo amor dele, Cosette.

Ela o ajuda até o fim, pra vencer a si e libertá-lo inclusive do fantasma dela. O modo com que ela dialoga, a forma delicada, verdadeira e sensível de expor e ensinar o esposo até o último segundo é tocante quase caíram lágrimas.

Felizmente, todos tiveram o seu final feliz, mesmo com os encontros e despedidas cada um teve a sua oportunidade de aceitação e recomeço onde descobriram um novo motivo pra continuar vivendo e sonhando.

Esse foi definitivamente o melhor episódio mostrado, o tema foi muito bem trabalhado, os simbolismos e a maturidade do roteiro na exposição de tudo merecem parabéns. Ainda não tenho certeza, mas me parece que no próximo episódio voltaremos ao reino animal, fiquei curiosíssimo pra saber o que virá.

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