Cavaleiros do Zodíaco: Saintia Sho – ep 2 – Sessão do descarrego
Por incrível que pareça, não moveram esse episódio de Saintia Sho na base de lutas e mais lutas, mas sim na de um desenvolvimento de personagem razoável para a Shoko e para a Deusa Athena. Isso, é claro, se o desejo da garota e o dilema da Deusa forem bem trabalhados. Somos apresentados a mais personagens e a trama é aprofundada. Eleve seu cosmo ao máximo e me acompanhe nessa jornada!
Se você não conhece a franquia de outras temporadas não deve conhecer o primeiro e único Mito, o Jabu de Unicórnio. Cavaleiro secundário no clássico apenas porque seu brilho ofuscaria os demais.
A aparição dele aponta um detalhe importante sobre o anime; ele adapta eventos que acontecem em simultâneo com o original, e devido a alguns detalhes – no mangá a Saori descobre que é Athena em circunstâncias bem diferentes – funciona mais como uma realidade alternativa que um cânone em si.
Isso é bom? Isso é ruim? Acho que não faz diferença, o importante é que a história das Saintias seja bem contada – para isso a Shoko e a Saori são imprescindíveis, afinal, tudo gira ao redor dessas duas.
A Shoko vai para o seu treinamento e a Saori continua sua vida de dondoca, mas agora atormentada pelas visões que a Deusa Éris a aflige.
Tirando o Tatsumi – um dos mordomos mais toscos da história dos animes – bem-apessoado, o caminho até a Mayura não me parece ter algo digno de nota, mas é aí que posso comentar uma curiosidade. A sórdida história da origem dos 100 candidatos a cavaleiro.
Não é incomum na ficção, e na verdade nem na vida real, que pais queiram decidir o destino de suas crias, o problema é determinar o destino de 100 crianças e como apaziguar a atrocidade por trás de tal ato, além disso, ser aquele que os trouxe a vida – ou, no caso, fez 50% do serviço.
Sim, o genial Mitsumasa Kido passar anos engravidando mulheres para depois mandar os filhos para uma peneira da qual sairia no máximo um time de futebol é algo demasiadamente questionável por si só.
Toquei no assunto porque isso tem certa relação com a tentativa de assassinato da Saori. Voltando a Shoko, gosto da forma que ela acaba sendo usada pela cosmoenergia impregnada nela pela semente maligna, pois sua vulnerabilidade era clara e isso também serve de iniciação forçada à cosmoenergia em si.
Uma forma de despertar mais rápido o cosmo latente da garota e, de quebra, dar o propósito que será usado como molde de sua força. Se lutar por si mesmo é vedado aos cavaleiros, mas desde o começo ela queria lutar por outras pessoas, nada impede que conciliem os objetivos.
Querer lutar para proteger já a dá todo o direito de fazer parte do “clubinho seleto” que luta pela paz na terra. O que resta à garota é construir sua força enquanto serva de Athena – e não como receptáculo de Éris.
Enquanto isso, quem tem pesadelos é a Deusa Athena, atentada pela Deusa da Discórdia que aponta contradições no que se refere ao seu papel perante a humanidade. A Éris está certa no que diz? Acho que não, pois Athena e seus cavaleiros lutam mais de forma reativa que ativa, combatendo o inimigo que aparece a sua frente.
E, ainda que ele só faça isso por querer a cabeça de Athena, não é como se isso ausentasse a Deusa Éris ou qualquer outra da culpa por ceifar vidas humanas e causar infortúnio.
Mas é claro que a Saori não vai chegar a essa conclusão tão fácil. Esse dilema vai persegui-la e precisa ser superado para que ela cumpra seu dever como Athena. Ela pode ser uma Deusa, mas nasceu uma humana, então se encher de dúvidas é sim algo normal para uma menina de 13 anos; mesmo a idade nessa obra sendo forçada só para se encaixar no público alvo.
O Fantasma que aparece – meio irmão de todos os cavaleiros de bronze do clássico – e encontra a paz no calor do cosmo de Athena foi só a palinha do que está por vir do lado da Éris. Esqueça o filme da década de 80 – sim, houve um filme da Deusa Éris, mas ele é original e não tem qualquer ligação com esse spin-off – se você já o viu, o que a Éris vai apresentar de subordinados é bem diferente daquele filme e se adequada mais ao perfil dela.
Lembrando que Saintia Sho tem uma trama paralela a uma trama maior e apresenta uma inimiga que tem também uma importância menor no universo da obra. Acho isso uma pena, mas se a gente parar para analisar, o que são as Saintias senão isso?
Guerreiras que no máximo estão no mesmo nível dos cavaleiros de bronze, mas, na verdade, são um caso à parte, uma guarda especial que trabalha ainda que sem ter o aval do Grande Mestre do Santuário – o primeiro subordinado direto a Athena, mas o verdadeiro chefe de todos os cavaleiros – e, por algum motivo que não lembro se contam no mangá, se juntou à reencarnação de Athena para protegê-la.
A Mayura é uma amazona de prata – tal qual a Shina de Cobra e a Marin de Águia do original – e por isso usa máscara, estando acima na hierarquia dos cavaleiros, mesmo com isso. Isso tudo me faz questionar a existência do spin-off, se ele é mesmo a afirmação feminina que faltava na franquia. Contudo, ainda é cedo para ir além, vamos ver o que o anime nos entrega, né – é verdade que leio o mangá, mas nada garante que adaptem tudo fielmente.
No final das contas, o que importa é que a Shoko passa pelo primeiro teste de ferro, se libertando do poder maligno que a possuía para poder enfim iniciar seu treinamento. A mim pareceu um exorcismo com cosmoenergia e, de certa forma, foi isso mesmo.
Enquanto isso, a Éris continua seu avanço a fim de disseminar a discórdia pelo mundo e os cavaleiros de ouro ficam atentos a isso. Isso significa que eles vão mesmo estar ativos na trama como a abertura e o encerramento indicam? É algo bem fácil de prever e, na verdade, é uma forma compreensível de tentar “vender” um spin-off incomum, usar a imagem de personagens clássicos que toda a fanbase adora – óbvio que eu estou falando do Jabu também, principalmente dele.
O problema é colocar personagens com uma aparente disparidade de poder para lutar lado a lado. Temo que isso roube os holofotes justamente de quem mais importa: as Saintias. Esse spin-off é delas, são elas que eu quero ver derrotando a Deusa Éris e seus servos mais poderosos. Vamos ver o que a trama nos entrega!
Por ora, esse episódio funcionou como verdadeiro ponto de partida para a protagonista e foi bem bacana, teve uma ótima trilha sonora e desenvolveu o propósito da Shoko e os problemas da Saori/Athena. Desenvolvimento esse que só vai ter valido a pena caso dê frutos – e não podres – mais à frente.
Próximo episódio já volta à normalidade do que eu espero de um battle shounen, inimigos aparecendo e lutas pipocando na tela. Se esforce estúdio, pois o último anime da franquia – justamente o nostálgico Soul of Gold – mandou bem nesse quesito.