Bom dia!

O mundo de Kotobuki oficialmente é como o Velho Oeste americano. Se o é pelos mesmos motivos, ainda vamos descobrir, mas as características sociais e estéticas parecem estar lá.

Aparente ausência de um poder central. Comunidades que se auto-organizam, inclusive para a própria defesa. Milícias de vigilantes amadores. Empresas privadas de transportes e de mercenários. Criminosos que atacam fretes e vilarejos.

Nos EUA e em outras partes do mundo o que levou a esses fatores foram a expansão territorial e populacional mais rápidas do que o governo poderia dar conta, deixando o povo literalmente à própria sorte. O termo historiográfico oficial, adequadamente, é Fronteira, se referindo à mutante e mutável linha de frente (a “fronteira”) da colonização humana.

Por enquanto isso não parece existir em Kotobuki, mas quem sabe? Os três primeiros episódios serviram para, cada um, revelar um aspecto do mundo: no primeiro, a dinâmica narrativa e a apresentação dos personagens principais, no segundo, a política macro e alguns dos problemas gerais, e nesse, como funciona uma das diversas cidades isoladas nesse mundo e um vislumbre de suas relações internas e seu conflito frequente com bandidos.

Talvez o ciclo de introdução tenha acabado nesse terceiro episódio, ou talvez não.

Enfim, menos especulação, mais análise. Acho que já escrevi em algum artigo ou em alguma sessão do Café com Anime, mas em todo caso, digo de novo, agora com plena certeza do que estou afirmando:

Kouya no Kotobuki Hikoutai é quase exatamente como o Velho Oeste. Os pilotos são os cowboys, os aviões são os cavalos, e os dirigíveis são carroças e diligências.

Inclusive a história desse episódio foi o roubo de um avião, e quer algo mais Velho Oeste do que roubo de cavalos?

 

 

O detalhe aqui é que os bandoleiros fingiram (bem cínicos, de todo modo) ser negociantes normais. Isso serve para mostrar o que resultaria da anistia dos piratas, proposta pela Julia. Eles podem até tentar fazer “negócios”, mas faz parte da índole deles (pelo menos de parte deles) enganar, chantagear, e no geral dar tiros nas pessoas só porque acham legal.

Mesmo sem a anistia, os piratas das “Indústrias Elite” já se organizam como se fosse uma empresa – ou, pelo menos, fingem isso. Nada iria mudar para eles, exceto que deixariam, pelo menos por um momento, de ser ilegais. Enquanto conseguissem forçar povoados indefesos a aceitar seus negócios fraudulentos, estariam livres. Poderiam até mesmo disparar uns tiros que, na falta de um poder central presente, ninguém conseguiria provar isso e ficaria a palavra de criminosos contra a das vítimas.

Não basta haver um poder central, como defende a Julia, é preciso que ele consiga alcançar todos os cantos do território.

Nessas circunstâncias, os colonos precisam se defender por conta própria. Infelizmente para os cidadãos de Rachma, eles não apenas estão em desvantagem numérica como também possuem muito menos habilidade. E depois do primeiro ataque, estão todos assustados e perdidos.

Ceder à pressão dos piratas parece uma boa ideia, pelo menos em um cálculo míope. Tudo o que eles querem é um avião que pertence ao prefeito e sequer está em uso. Se entregar um único avião, que serve apenas como depósito de pó, irá salvar a cidade e sua população, que assim seja.

Ou assim seria se eles fossem realmente negociantes, ao invés de bandidos. É óbvio que uma vez que identifiquem uma vítima fácil, irão continuar atacando-a. Então Rachma precisa se defender para que eles nunca mais voltem. Mas não é fácil: estão em desvantagem não importa como se faça as contas.

É aí que entra o Kotobuki.

De cara, as garotas assumem lados diferentes na discussão. Notavelmente, Kirie é à favor de ceder aos piratas, enquanto Emma é terminantemente contra. O resto da cidade está rachada também. Alguns estão mais preocupados em procurar culpados do que em resolver o problema.

Se o Kotobuki lutar as chances de Rachma aumentam exponencialmente. Mas elas são profissionais e não vão trabalhar sem pagamento. O acordo que Loulou oferece é draconiano. O Prefeito sabe que a cidade não tem como pagar. O impasse continua.

Até que Emma faz um discurso duro contra o Prefeito, acusando-o de ser indeciso, mas, francamente, ainda que ele pareça meio covarde, ele estava certo. Não tinha mesmo solução naqueles termos, e ele não poderia simplesmente dizer para todo mundo aceitar fazer isso ou aquilo se em qualquer caso metade da cidade continuaria insatisfeita, e no final talvez tudo desse errado. Seria o verdadeiro fim de Rachma.

Mas do alto de sua covardice, o Prefeito admitiu que, se dependesse só da vontade dele, escolheria lutar. Era isso que Reona, a líder das pilotas, estava esperando escutar para revelar uma nova oferta da Loulou. Uma que a cidade poderia pagar, desde que todo mundo ajudasse. Como fogo morro acima, Rachma está em chamas de novo, mas não literalmente: o que arde agora é o espírito de luta de seu povo!

 

 

Mesmo assim, a batalha é desequilibrada. Os piratas simplesmente têm muitos aviões. A milícia de Rachma é heroica, mas caem como moscas e só conseguiram aguentar o ataque dos piratas por tempo suficiente para o Kotobuki chegar porque contavam com artilharia anti-aérea estrategicamente posicionada na cidade.

De todo modo, o importante não era vencer, e sim infligir dano tal que os piratas não achassem mais lucrativo atacar a cidade. Com a população inteira e as garotas trabalhando juntos, esse objetivo foi atingido.

Mas os piratas conseguiram roubar o avião. Emma foi derrubada, o que elas prometeram defender foi roubado, foi uma vitória apenas parcial, principalmente do ponto de vista do Kotobuki.

Rachma está em festa, mas as garotas vão buscar o troco no próximo episódio.

 

 

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