Boogiepop wa Warawanai – ep 6 – Só morra depois de lutar
Um episódio de Boogiepop sem o shinigami Boogiepop seria assim tão animador? Mas se eu falasse que o Boogiepop apareceu no episódio e talvez você só não tenha é percebido?
Percebendo ou não, o fato é que foi um episódio da Suema e da Aya, para cruzar seus caminhos e, se ainda não dar todas as respostas que o público gostaria de receber, pelo menos indicar como lutar antes do arco morrer.
A título de curiosidade, Camille e Spooky Electric – Spooky E – são nomes que o famoso cantor Prince usava para distinguir a sua personalidade boa e a sua personalidade ruim, respectivamente.
Mal ouvi o nome Spooky E e já sabia que o conhecia de algum lugar… de todo modo, a cena inicial do episódio deixou duas coisas claras sobre a Aya.
Primeiro, sua missão menos importante é conhecer mais sobre o Boogiepop. Segundo, a sua missão principal ainda é uma incógnita, mas parece ter a ver com sexo?
A Organização Towa não quer apressá-la, mas se há algo que achei suspeito é que uma das primeiras coisas que ela pergunta ao Masaki após ela tê-lo ajudado é se ele queria transar. Se nós lembrarmos dos boatos que a cercam, só consigo pensar que na missão da garota há pelo menos duas regras.
Ela precisa procriar, ou gerar algo por meio da copulação, e não pode ser odiada por outros, e é por isso que ela faz o que qualquer outra pessoa quiser.
Contudo, se sair com o Masaki não tem relação com a missão dela é porque ela está contestando aquilo que a prende e isso é aprofundado mais à frente.
Se antes de chegar no fim precisamos passar pelo meio, como não poderia comentar a sutil aparição do Boogiepop no cursinho? Na verdade, duvido que você, caro(a) leitor(a), não tenha se tocado, pois a voz muda – ela sai “arrastada” – quando é o Boogiepop e não a Touka.
Mas por que o shinigami se manifestou e saiu na hora? Era medo do Imaginator descobri-lo investigando? O 2 não parece saber, e o 1 está sumido, então, sinceramente, eu não sei o que achar, só que gostei de vê-lo indiretamente.
Porém, o que é relevante nessa cena é a ajuda pedida a Suema, pois ela me deixou mais curioso para saber de suas circunstâncias. O que aconteceu no seu passado? Quem ela perdeu? Foi de uma forma violenta, né? Alguém enlouqueceu completamente – um pai, uma mãe ou um irmão? – e fez a garota passar por uma experiência traumática que ela ainda não conseguiu superar? É o que me parece.
Sei no máximo que há relação com psicologia criminal envolta em um evento sobrenatural – foi o que os gostos peculiares dela fizeram parecer. O legal é que, mesmo sem saber, ela pode aconselhar a quem está envolvido em um fenômeno sobrenatural, pois tem alguma experiência de vida com isso, não é?
A cena na sala do Jin-niisan foi uma evolução no que se refere a explicar o que é o Imaginator e o que ele pretende. Repare que, de novo, são garotas o alvo da existência sobrenatural antagonista do arco e, muito provavelmente, muitas delas, ou todas mesmo, espalhavam os boatos sobre o Boogiepop.
A ansiedade comentada lá no final pela Suema tem tanto a ver com isso, com essa iniciação pela qual o Imaginator está fazendo as moças passarem, que fica difícil não elogiar a maestria com a qual se põe essas ideias em prática, com a forma que elas se enroscam e se amarram, um modo de ligar histórias muito eficiente.
Enfim, se o Imaginator quer pensar por você e o que ele vende, na verdade, não tem exatamente a ver com a liberdade; então o que ele prega é falso, conveniente, vazio? Se sim, então a missão do Jin de achar o que há de errado nas pessoas a fim de consertá-las não passa de um desejo egoísta imposto a pessoas de mentalidade frágil?
Aliás, ele não é uma dessas pessoas? Tudo bem que ele abraçou a loucura de se tornar um Imaginator, mas não pode ter sido apenas uma forte indução? Afinal, ver uma ex-aluna morta sem poder fazer nada foi um baque grande, uma motivação para agir.
E digo mais, como é muito bem explanado pela Suema na reta final desse episódio, por que consertar o mundo é necessário? A instabilidade, a ansiedade, a imperfeição; incapacitam a vida por completo?
Por que os seres humanos, e até os sobrenaturais, insistem em confundir liberdade com perfeição? É um erro que a Suema não é capaz de cometer, e a conversa dela com a Aya deixa essa e outras coisas bem claras sobre a personagem, mas também sobre a própria Aya e sua necessidade de salvação, ou melhor, a sua necessidade de contestação, de ódio. Diz-se que amar é humano, mas odiar também é!
Se a Aya é capaz de se magoar, como ela pode desejar não magoar os outros? A vida dela é assim tão insignificante para ela mesma a ponto da garota não poder estar no mesmo nível de uma pessoa?
Hey, ela pode incomodar sim! E eu nem diria que ela deve fazer de propósito, é só que é inevitável. A barata que você mata em casa de vez em quando já é uma agravação perante o mundo.
É impossível não machucar os outros, ou a si mesmo. E morrer pode sim ser uma fuga, ao menos se falta à pessoa a vontade de se erguer para lutar contra aquilo que a está incomodando – que macula sua liberdade.
Não concordo com a máxima de certas pessoas de que o suicídio sempre é uma fuga, mas se você ao menos tentar e fracassar, isso já terá sido alguma coisa. A pessoa tem que ver até que ponto aguenta a instabilidade, a incerteza que acompanha a grande maioria das, senão todas, vidas humanas.
É isso que Boogiepop preserva; o direito ao questionamento, a incerteza, o enxergar da beleza na feitura ou só aceitar a feitura pelo que ela é. Buscar a perfeição, a precisão, a certeza incontestável são amarras que sufocam e detonam com as pessoas.
Teria ocorrido isso com a Aya não fosse o Masaki e agora a Suema. Primeiro a garota precisava perceber que queria mudar, que queria ir contra o seu status quo para só assim se questionar e, após ser aconselhada, passar a enxergar a possibilidade de lutar por si.
A princípio não entendi o paralelo entre as cenas dela conversando com o Masaki e dela conversando com a Suema, mas parei um pouco o episódio para refletir e só no fim do trecho entendi.
A Aya quer, e isso é um atestado do seu subconsciente buscando a contestação, ser salva, e por isso se agarrou à figura do Boogiepop, a de um shinigami bonzinho que não intercederia por ela já que ela mesma não se dá valor como humana.
É aí que ela, em um sutil momento de desespero, pede a ajuda do Masaki para que ele a liberte. Ela que não queria ser odiada se arriscou por quê? Porque deseja a liberdade!
Mas hey, ela está presa em algo bizarro e no fundo quer se libertar, não quer acabar com tudo e dar por fracassado algo que ela sequer começou direito. Para fazer isso ela tem tudo o que é necessário.
A opressão que se transforma em ódio. Um desejo que se transforma em motivação. A percepção de que virar o jogo depende mais dela. No mundo real não existem, ou não deveriam existir, princesas a serem resgatadas e príncipes infalíveis.
Aliás, o Boogiepop não é um herói que vai salvar o dia, nem a Suema dará todos os melhores conselhos possíveis. O Boogiepop é um pequeno desequilíbrio que se encarrega de salvar sem realmente salvar, que pode até ajudar a todos, mas não luta é por ninguém!
Porque lutar é algo que deve vir de dentro. Pode dar errado, e o resultado final ser terrível, mas sem lutar não se é possível conquistar uma liberdade para chamar de sua. Só morra depois de lutar. Até!