Boogiepop wa Warawanai – ep 15 – Quase nada do que reluz é ouro
Um episódio interessante de verdade, apesar de ter sido protagonizado pelos coadjuvantes “menos” conhecidos pelo público até agora. Um episódio de transição até algo maior, que mostrou mais do que o poder do Rei da Distorção é capaz. Sem Boogiepop, ou um outro personagem de um arco anterior, mas nem por isso ruim. Vamos analisar as distorções que tanto fascinam o Rei que anseia pelo ouro!
E quem diria que a mãe do garoto teria tido um caso com o Teratsuki Kyouichirou, hein? Por essa eu não esperava, imaginava que ela fosse só uma senhora curiosa.
De toda forma, seria seguro assumir que ambas as versões dos personagens mais jovens e mais velhos se passaram dentro da ilusão, que mesmo eles sabendo que não era a pessoa para qual o remorso era direcionado que estava ali – menos o moleque –, era difícil não abrir o coração para o Rei da Distorção? Acho que foi esse o caso.
No fim das contas, Teratsuki Kyouichirou deu a ela a quantia pedida, mas nunca conseguiu dar o que ela ansiava: amor, segurança, o sentimento de que se encaixava. Eu não sei se era isso o que ela queria, só que ela com certeza não queria criar o filho sozinha, e também não queria abortá-lo, mas no final apenas obteve o dinheiro.
O que, pensando na altíssima probabilidade do Teratsuki estar por trás disso tudo e de já ter previsto a sua morte, foi o “melhor” que poderia ter conseguido.
Não que o “melhor” seja isso de fato, não foi nesse caso. E ela ainda se agarra à possibilidade de ele ser o pai do filho dela, enquanto não existe mais Teratsuki, só o Rei da Distorção, sendo ele o “meio” de propagação do presente de despedida do ricaço humano artificial já morto. É isso o que parece.
Por outro lado, a Sakiko se remói por ter falado algo horrível para a amiga e se arrepende por nunca ter sido capaz de pedir desculpas. Ela se acha a pior pessoa do mundo por isso, só que ninguém disse a ela que esse era o caso. Hey, elas eram crianças e a Sakiko falou aquilo em uma explosão de inveja, de raiva.
Se elas eram tão amigas assim mesmo ela seria perdoada e ficaria tudo bem, mas a menina morreu e a Sakiko jamais vai poder ter certeza de que seria assim. Contudo, ela terá que aprender a conviver com essa culpa se quiser seguir com a vida. Se quiser não mais ser morta no auge da beleza.
É, como eu pensava, ela queria o Boogiepop para cumprir com os boatos infundados que cercam ele, o shinigami da beleza. Acho um jeito compreensível de uma adolescente lidar com o arrependimento e a culpa.
O bicho pega agora, em como ela lidará com isso, se confirmará as palavras do Rei, deixará essa dor carregá-la, ou se tentará superá-la por si. Acolhendo, ou se livrando, da culpa e lidando com o arrependimento como for possível. Só assim ela será capaz de seguir em frente – ela desejará viver.
O terceiro caso foi o do Habara. Já perceberam como quem se apaixona pela Nagi muda? Não apenas o visual, mas também, ao menos um pouco, a personalidade? E olha que a Nagi nem tem a aparência chamativa que combinaria com sua “personalidade”, mas ela “muda” quem se deixa cativar por seus encantos.
Enfim, o importante é que ele estava consciente dentro da ilusão – o sonho que contradiz o pesadelo ou só o confirma? –, e o Rei teria que tentar uma tática diferente caso quisesse “pegá-lo”.
Aliás, isso que rola em torno da Nagi me parece muito uma tentativa tola do ser humano de buscar a identificação com outro, a similaridade capaz de uni-los. Ainda que não seja consciente, o Saotome e o Habara queriam ser reconhecidos pela Nagi, queriam estar à sua altura. Por isso mudaram, porque estavam insatisfeitos com o eu atual deles. Um se mostrou um psicopata, o outro só ficou descolado; menos mal que ficou por isso mesmo.
De todo modo, o embaralhamento de ilusões que ocorreu com o Habara não garante que o Rei consiga misturar ilusões de pessoas que nunca tiveram contato umas com as outras, ao menos não se o Habara já conhecia o Saotome, né. Se ele conseguir seria o terceiro estágio do poder dele. Acredito que se for para ocorrer algo grande e confuso assim será mais para o final do arco.
Não que não tenha sido confuso um monstro surgir, mas era aquilo que a criança remoía – ele deve se culpar por sentir medo? –, e logo o Habara teve presença de espírito para acordar desse “pesadelo”.
Dou como certo que o Rei deseja promover a fuga da realidade, que esse ouro seria ouro dos tolos por reluzir como o verdadeiro, mas não ser ele. Um brilho sustentado por sentimentos que são incapazes de dar às pessoas o que elas realmente precisam. E isso seria perdoarem a si mesmas?
Por fim, o Habara acorda e acorda também o Shirou, mas ao invés de escapar eles devem tentar tirar as outras pessoas do transe. Ficou claro que o Shirou estava sonhando com “ela” e seria interessante ver essa conversa – teria tornado esse episódio melhor –, mas eu acho que isso ainda vai acontecer e que deve ser um dos melhores momentos desse arco.
As “vítimas” do episódio 14 devem retornar no 16 com tudo, e mais ilusões tomarão forma. Eu acredito que a influência de Boogiepop continuará no âmbito prático da ação, que serão os personagens que terão que lidar com seus próprios remorsos, e assim serão capazes de “vencer” o Rei, de não dar vida a um outo fruto de sentimentos degradantes.
O Rei da Distorção deve mesmo ser uma criação, uma extensão, do Teratsuki, mas duvido que seja o próprio, ainda que aja sobre as regras impostas por ele. Não tenho uma suposição clara sobre o que vai acontecer agora, mas só precisamos olhar para o passado para prever o futuro – seja de um arco de Boogiepop ou do que aflige a cada um dos personagens presos no Templo da Lua.
As respostas se encontram dentro da gente, dentro da própria trama, mas como elas serão dadas é o que nos leva a assistir o anime, né. É uma pena que Boogiepop esteja acabando. Lembre-se que nem tudo que reluz é ouro. Na realidade, quase nada do que reluz é ouro, então cuide bem do que for valioso para você!