Kimetsu no Yaiba – ep 13 – O que realmente importa
É o fim do primeiro cour de Kimetsu no Yaiba. O segundo começa já na semana seguinte à exibição do décimo terceiro episódio e deve ter como ponto de partida a formação da party do protagonista, algo que a abertura deu a entender que se concretizaria. Sem mais delongas, e focando no episódio que o Zagallo iria adorar, é hora de Kimetsu no Yaiba no Anime 21!
O Tanjiro é um personagem tão afável e simples, mas longe do medíocre, que não consigo não gostar das lutas dele, da maneira como ele pensa, age ou simplesmente de como ele se motiva a cumprir seu objetivo. E também como encara as adversidades de frente, em um misto de coragem, mas também de esperteza e instinto.
Eu poderia até dizer que só uma besta é capaz de caçar outra, não é? Não diria que é exatamente esse o caso, mas o que são os espadachins executores senão pessoas que superaram os limites humanos e ainda assim são limitados por eles? É exatamente o caso do Tanjiro nessa luta, um guerreiro que precisa cumprir sua missão de proteger ao próximo, ainda que ele mesmo não esteja na melhor de suas condições.
É por essas e outras coisas que sempre me divirto vendo esse anime e nesse episódio não foi diferente, mas diferente do que é com Tanjiro, minha opinião sobre o oni é um pouco mais delicada. Conhecer seu passado era realmente necessário? Compreender a mágoa que ele trouxe de sua vida enquanto humano e guiou sua vida de oni adicionou alguma coisa a história?
Se pararmos para relembrar, todos os onis que nosso herói exterminou até agora, e conhecemos seus nomes e personalidades, tinham algum traço marcante que trouxeram consigo de sua vida humana e moldavam o poder de seus Kekkijutsus. Isso aconteceu com o oni da prova, o oni três em um, o oni das setas da dupla de onis e até mesmo a outra oni que não foi derrotada por ele e, agora, com Kyogai.
Isso ocorre por quê? Porque foram pessoas que tiveram suas fraquezas exploradas por Muzan, sendo consumidas por elas. Elas se entregaram a algo que aliviaria a dor, mas jamais fecharia a ferida. Isso significa que todo oni que se transformou já tinha uma “mancha” em sua vida? Não necessariamente, mas que o autor coloca personagens assim no caminho do protagonista com o propósito de desenvolvê-lo.
Então o flashback do oni; que se pensarmos bem, muito justifica sua obsessão por comer um marechi e retomar um lugar em que suas capacidades eram “reconhecidas”; não foi inútil. O vilão do episódio pode não durar, mas Tanjiro sim e é a esse garoto que encara seus inimigos de frente que devemos direcionar nosso olhar crítico.
Pode até parecer simplório, mas Tanjiro ser caracterizado como um “protetor da bondade” não é algo exatamente ruim. Ao menos não se há mais que isso nele. Há momentos em que ele sente raiva, nervosismo, medo e uma consciência do seu “eu”, algo que pôde ser melhor visto no final do episódio anterior.
Ele passa longe de ser abnegação pura e de ter um senso de justiça simplista, pelo contrário, sua caracterização dá vida a um personagem que mantém sua individualidade mesmo quando seu foco costuma ser o bem-estar de outros e que é capaz de enxergar o que está além do inimigo a sua frente.
Tanjiro respeita seus inimigos, os encara nos olhos e não compartilha o ressentimento que sente por Muzan com eles por saber que também são vítimas. Nem todos devem ser assim, é claro, mas é uma caracterização que bastou para esse começo, pois em cima disso a base do personagem pôde ser construída mais facilmente.
Vê-lo respeitar, ainda que inconscientemente, o que Kyogai escreveu, assim como valorizar sua habilidade, é o tipo de clichê que, passe o tempo que for, sempre me sensibiliza. Ainda mais quando o personagem tem um certo carisma e há um bom nível de coerência na história.
Então não, aprofundar o pouco que seja o vilão não é algo inútil, mas me pergunto se isso sempre vai acontecer assim, se sempre vai ter esse tipo de pano de fundo. Para os primeiros momentos da história caiu bem, mas agora, ainda mais com a inserção de novos personagens, espero por mais variações de situações e reflexões.
Inclusive, que envolvam os outros personagens, algo que já começou a ser feito com a pitoresca situação do Zenitsu protegendo a caixa com a Nezuko enquanto Inosuke tentava atacá-la. Uma cena que não choca de forma alguma, porque era até fácil de imaginar que fosse acontecer, e se não diz muito sobre Inosuke, faz isso quanto a Zenitsu.
E sim, é muito conveniente que Tanjiro e seus companheiros tenham um sentido aguçado cada um. Na verdade, ainda não sabemos se é o caso do Inosuke, mas depois desse episódio acharei estranho se não for.
Zenitsu tem uma audição desejada por qualquer engenheiro de som. Ouvir os pensamentos das pessoas encaro como uma hipérbole, mas é fato que uma pessoa assim não deveria ser enganada tão facilmente, né? Mas e se Zenitsu é do tipo que decide confiar nas pessoas independentemente do que falam delas, ou até do que elas falam dele?
Aliás, será que toda essa “boa vontade” não seria um reflexo da falta de confiança que ele sente em si mesmo? Se ele não confia em si busca a dependência e ao buscar isso exaustivamente, vira e mexe é usado e enganado, aceitando tal condição por não achar que exista outro caminho.
Andar com o Tanjiro deve ir ajudando-o a mudar e, convenhamos, ele deu sorte, pois Tanjiro é alguém que não deve botar a perder qualquer confiança depositada nele. Além disso, o Zenitsu conhece ele há mais tempo que o Inosuke, e não tem uma personalidade tão “incisiva”, ou ríspida mesmo, quanto a do menino javali, o misterioso quinto espadachim que passou no último exame.
A reação do Inosuke foi compreensível, a violência excessiva contra um companheiro, mas se Zenitsu precisa de confiança, Inosuke a tem sobrando, tanta que isso o faz perder a percepção do que está a sua volta, de que espadachins executores existem para exterminar onis porque estes perturbam a paz e a ordem, machucam as pessoas, não exterminam os onis e isso por acaso ajuda as pessoas.
Não que Inosuke seja um monstro, mas seu egocentrismo deixa claro que ele prioriza matar onis por seus motivos a proteger as pessoas e isso é algo que deve mudar, o primeiro passo me parece ser aceitar a condição de Tanjiro e da irmã, mas isso só veremos no próximo episódio, porque me dói escrever isso, enrolaram mais que a conta.
A situação não se desenrolou de maneira ruim, houve a exposição sobre o Zenitsu e o impacto da cena dele protegendo a caixa, mas foi gasto muito tempo nisso para que o episódio acabasse com o protagonista se impelindo a fazer algo. Não era necessário, até porque não foi um baita cliffhanger. O público sabe que eles vão se acertar, lutar juntos, e esse acerto já poderia ter se encaminhado nesse episódio.
Enfim, pelo menos o trecho em que o Zenitsu se abria para o telespectador foi bem legal. Deu para conhecer mais o personagem, vislumbrar melhor o porquê de sua personalidade pouco assertiva e até mesmo irritante. O herói, é claro, é a chave para o desenvolvimento de ambos, o relâmpago e o javali. Ao se aproximarem eles devem ir se ajudando, amadurecendo juntos.
Com o excelente bônus da Nezuko, ou você tem alguma dúvida de que mesmo o hostil Inosuke não vai se render à graciosidade da musa de Yaiba? Eu não tenho! Nezuko amolece o coração de qualquer um e Kimetsu agrada a praticamente qualquer um.
Faço a ressalva de que esse primeiro cour não terminou tão bem quanto começou, mas o saldo ainda é, sem dúvida alguma, positivo. Como último adendo, não curti tanto a animação da água nas pegadas do golpe final, mas, como a lentidão da segunda parte, isso não foi algo que estragou o episódio, apenas minimizou um pouco a qualidade do produto final.
Ademais, a perspectiva de melhora quando esses novos personagens, já nem tão novos assim, forem sendo aprofundados, é real, e não posso negar que adorei o gatinho fofo entregador ninja. Foi uma boa sacada de um detalhe que não seria legal se fosse esquecido. Bons animes nos ganham nos detalhes, mais positivos que negativos, felizmente.
Esperemos por uma nova abertura e um novo encerramento no segundo cour e mais desses personagens.
Até a segunda metade!