[sc:review nota=5]

Esse primeiro episódio estabelece o cenário de uma fantasia medieval (e até agora fantasia histórica também) que se continuar assim será deliciosa de assistir. E eu já disse, mas nunca é demais lembrar: adoro boas fantasias medievais. Para ser honesto, ainda será preciso pelo menos mais um episódio de caracterização. Pelas referências dadas durante o anime, ele se passa nas décadas finais da Guerra dos Cem Anos, mas isso não é totalmente importante. Mesmo se misturassem fatos históricos e criassem um enredo completamente anacrônico ainda assim poderiam criar uma boa história. Analisar a precisão dos fatos históricos reais referenciados no anime vai ser outra diversão para quem gosta de história. E a protagonista e suas motivações?

Para um só episódio achei que muita coisa foi revelada sobre Maria, a protagonista, e de forma natural, narrada pelos acontecimentos do anime, e não porque alguém parou e vomitou informações na tela para a audiência. Começando pelo que ela não gosta: guerras e a Igreja Católica. Não sei porque ela não gosta de guerras, imagino que a história deve tratar disso em algum momento. Não estou tentando dizer, é evidente, que ela deveria gostar de guerras, mas é que para o contexto da época não seria nada inesperado se ela simplesmente não se importasse com guerras. As outras bruxas que aparecem no episódio parecem ter esse tipo de relação com guerras, mas muito pouco é revelado sobre elas, para ser honesto, então não posso afirmar isso com total certeza ainda. A outra coisa que Maria não gosta é muito mais óbvia, já que o ódio é mútuo. E não apenas por isso, mas ela se ressente de verdade de atitudes da Igreja em geral. Para provar esse ponto, ela cita Joana D’Arc, que teria tido sua virgindade testada à dedo por ordem da Igreja, e depois acusada de ser uma bruxa (coisa que Maria afirma que ela não era, e se uma bruxa de verdade diz isso deve ser verdade) e queimada na fogueira. Ela deve ter outros problemas contra a Igreja, embora não pareça pretender se levantar contra ela, e imagino que elementos de paganismo devem aparecer associados à ela e a outras bruxas em geral. Maria não tem, por exemplo (nem que seja só da boca para fora), o pudor com relação à virgindade e ao sexo que os religiosos possuem. Isso embora ela própria ainda seja virgem e não entenda absolutamente nada sobre sexo.

E essa é a piada corrente nesse primeiro episódio, e como está presente no próprio título e subtítulo do anime, suponho que durará a série inteira: Maria não sabe nada sobre sexo. Maria tem uma súcubo (Artemis) que faz parte do trabalho para ela. E ela faz isso ao modo de uma súcubo, como não poderia deixar de ser. Assim que Artemis entra em cena pela primeira vez ela reclama de dor nos quadris. Em conversa com Maria pouco depois, enquanto dizia que havia deixado vários generais incapacitados para o combate por pelo menos um mês, ela se queixou de dor no maxilar. Maria não entendeu nada disso. E sobre o maxilar ela ainda ficaria pensando o dia inteiro. Segundo Artemis, Maria chegou à puberdade há pouco tempo. Bom, não deve ser tão pouco assim porque ela já tem um corpo feminino bem desenvolvido, então acredito que ela tenha pelo menos 16 anos. De todo modo, provavelmente pelo estilo isolado de vida que leva e talvez por nunca ter se interessado mesmo, ela não apenas é virgem como é completamente desinformada sobre o assunto.

Contudo, parece que isso está para mudar. Maria parece ter uma queda pelo mensageiro (Joseph) de um senhor feudal local que, se entendi, aparecia com alguma frequência com flechas cheias de pedidos para ela (parece que é assim que as bruxas arranjam trabalho). Em um episódio só não dá para ter certeza se ela tem uma queda por ele ou apenas ficou interessada porque ele demonstrou interesse antes (ele pede a mão dela e beija depois dela aconselhá-lo a negar tudo e dizer que foi controlado por ela caso ele seja entregue para a Igreja). Se for analisar o comportamento de Artemis, contudo (sempre com o cuidado de não confiar demais em uma súcubo), parece que ela já havia notado que Maria começava a nutrir sentimentos pelo rapaz, e se diverte provocando a bruxa. Como quando, bem quando Maria estava indo encontrá-lo, Artemis diz que ela estava suada e fedendo. E isso deixou Maria realmente cismada.

A animação é competente, as batalhas são críveis ainda que não tão atraentes assim. Nenhum sangue é derramado então não há censura nenhuma – é uma guerra limpinha. E falando em censura, Maria aparece completamente nua em dois momentos: tomando banho e dormindo. Ela é do tipo que dorme nua! Bom, o que dizer, é o tipo de comportamento que eu espero de uma bruxa, não sei porque. Naturalmente essas cenas são fanservice, mas não me incomodam pois elas são inseridas em contextos cotidianos normais, não pareceram forçados. Tampouco são resultado de um homem desastrado caindo em cima delas e tirando sua saia ou calcinha. As demais bruxas pareceram bastante genéricas, o que me faz pensar se terão alguma importância na história. A única que se destaca é a bruxa inglesa, que além de não parecer genérica (e ser inglesa) não trabalha com uma súcubo. Ela até mesmo sugere às suas companheiras francesas que façam o trabalho de suas súcubos elas próprias. Apenas uma fatia mínima da sociedade da época foi retratada, mas não deixa de ser divertido ver os soldados (o povo) tratando seus inimigos pelos termos étnicos (bretões, saxões e gauleses) enquanto a guerra como um todo é travada entre países (Inglaterra e França). E era assim mesmo que funcionava a guerra na época, não havia sentimento nenhum de nação, as pessoas possuíam vínculos apenas com seu próprio feudo, e as guerras mesmo obedeciam essa lógica feudal. O plebeu lutava pelo seu senhor que lutava pelo seu rei. Paralela a essa hierarquia vertical da sociedade, jazia a hierarquia clerical da Igreja, para o bem e para o mal. No final do episódio Maria, após impedir uma batalha (e segundo reações das bruxas e de alguns soldados essa não foi a primeira vez), é chamada por uma voz vinda do céu. A maldição começará no próximo episódio. Esse foi muito bom, tomara que continue assim.

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