Bom dia!

O Café com Anime é um bate-papo descontraído sobre animes da temporada entre mim e meus colegas Vinícius, do FinisgeekisDiego, do É Só Um Desenho, e Gato de Ulthar, do Dissidência Pop.

Continue lendo para ver como foi a conversa da semana sobre o Kujira no Kora, episódio 2!

Fábio "Mexicano":
Wow, as eventos escalaram rapidamente, não?
Eu achei fofo e gostei de ver a Sami com ciúmes da Lycos, mas parece que isso não importa mais. RIP Sami 😢
Enfim, a ideia de usar criaturas que lhes dão poderes em troca de sentimentos (a Lycos só disse que eles tomam seus sentimentos, mas se fosse só isso penso que seriam inúteis, estou aqui assumindo por conta e risco que são essas criaturas que lhes dão poderes também) com certeza é útil para construir um mundo eternamente em guerra. E se as ilhas-navios originalmente são naves de guerra, a população-tripulação da Baleia de Lama desertou em algum momento do passado e só o Conselho de Anciões sabe disso. Faz bastante sentido e é bastante interessante, apesar do desenvolvimento abrupto nesse episódio. Mas ficou difícil saber o que vai ser da história agora. O próximo episódio deve ser em grande parte apenas caos, com os personagens que conhecemos fazendo o possível para sobreviver, contra-atacar, se reencontrar e, enfim, de alguma forma, fugir. Ou talvez acabem capturados? Por que seriam capturados se a ordem era apenas matar? Talvez a Lycos interceda por eles?
Diego:
Enquanto não fizerem um funeral pra Sami e o caixão dela afundar na areia, eu não engulo que ela morreu. Se ela for resgatada ou só “desaparecer” podem apostar que ela volta numa boa.
Mas comentando sobre o episódio de forma mais geral, de fato o desenvolvimento foi bem grande. Eu gostaria que a história fosse deles fugindo, em um pequeno grupo que teria de explorar aquele mundo enquanto aprende mais sobre essas guerras e o porquê do pessoal da baleia não estar envolvido nela (ou nem saber a respeito, diga-se de passagem).
Vinícius Marino:
Posso estar confundindo as bolas porque grego não é o meu forte. Mas a Lycos mencionou que seu povo trocava sentimentos pelo ideal da apatia, não? Se for verdade, parece que teremos uma pérola filosófica nas mãos. Estóica, para ser mais precisa.
Para esclarecer: falo da escola de filosofia que pregava que as emoções traziam sofrimento. E que, para vivermos com felicidade e sabedoria, precisávamos estar acima dos nossos impulsos.
Gato de Ulthar:
Nesse episódio podemos ver o anime absorveu vários conceitos da filosofia grega, como “nous”, que não um termo específico em português, mas seria algo como uma atividade do intelecto em detrimento às emoções, e “apatheia” que é a ausência de paixões/emoções. Até mesmo Lycos é de origem grega, embora haja mais de vinte personagens da mitologia grega com esse nome, desde um filho de Ares que sacrificava pessoas para o seu pai até um sátiro. De qualquer forma, os significados destas estruturas do anime se encaixam com os significados dos seus termos gregos.
Só o que pegou negativamente pra mim foi o protagonista, que é um tanto impertinente. O moleque chora toda hora, tira a Lycos da prisão para mostrar os gafanhotos só pelo fato de que ela tinha que ver os gafanhotos mesmo que não tivesse sentimentos. Esses protagonistas super bonzinhos me incomodam um pouco, mas não é nada sério. Ahh, e pobre da Sami.
Fábio "Mexicano":
Mais do que “desenvolvimento” (que eu mesmo falei, mas pensando de novo acho inadequado), acho que o anime começou de verdade agora. E concordo com o Diego: talvez a Sami não tenha morrido ainda. Não que eu queira ela morta, mas não tenho motivos para querê-la viva também, não sei o que o personagem dela acrescenta à nova história além de um triângulo amoroso em momento inadequado, mas ainda não sabemos direito o que virá, então quem sabe. E sim, eu totalmente entendi e já estava pensando nisso, Vinicius. Com o anime soltando palavras em grego pra lá e pra cá desde o primeiro episódio, eu com certeza estou de olho nesse tipo de coisa.
Quanto ao protagonista, Chakuro, acredito que ele vá melhorar. Ele precisa melhorar, qualquer que seja o novo mundo que o aguarda, para sobreviver ele precisa deixar de ser molenga e inocente.
Vinícius Marino:
Eu gostaria de acreditar nisso, mas pressinto a velha “maldição” que afeta tantos animes: com tantos coadjuvantes peculiares, o protagonista talvez se mostre o cara mais sem sal do bando.
Fábio "Mexicano":
Oh, mas tenho a impressão que o anime acaba de resolver o problema de excesso de coadjuvantes…
Vinícius Marino:
É a velha tática “exploda o shopping center” que as novelas brasileiras conhecem tão bem. 😂 Brincadeira, estou com o Diego nessa: enquanto não ver o funeral da Sami, não acredito que ela morreu de verdade.
Fábio "Mexicano":
Inclusive se eles não vivessem em um espaço limitado ela até poderia “morrer” agora, mas depois descobrirem que ela na verdade “não morreu” coisa nenhuma. Mas acho que não há como ela ir parar em um hospital e ficar em coma ou sofrer amnésia ou algum clichê do tipo em Kujira.
Enfim, próximo tópico: por que será que eles são “pecadores”? Por que será que estão sendo caçados? Quero dizer, obviamente eles não são um risco para ninguém. E por que a humanidade (ou parte dela) abriu mão dos sentimentos para lutar em primeiro lugar? Eu sei que é fácil saltarmos para julgamentos morais agora, mas a verdade é que não sabemos nada. Talvez haja uma razão muito boa para a guerra sem fim? Talvez haja uma razão muito boa para o massacre? (Pessoalmente, não acredito em razões boas o suficiente para nenhum massacre, mas vamos fazer exercícios mentais, por favor.)
Diego:
Eu chutaria que são pecadores por terem escolhido não abandonar seus sentimentos. Sobre a guerra, talvez a intenção original fosse acabar com ela. Acharam que se livrar das emoções ajudaria as pessoas a se controlarem, mas acabou tornando todo mundo em uma máquina de matar.
Vinícius Marino:
Ótimas perguntas. Acho que há várias opções: pode ser uma questão moral (i.e. viver na “apatheia” é melhor do que ser escravo dos sentimentos). Pode ser uma questão de dominação (ex: o livro “Admirável Mundo Novo” ou o filme “Equilibrium”, em que ter sentimentos é crime dentro de um estado totalitário). Pode ser uma questão utilitária (soldados “sem sentimentos” são melhores como bucha de canhão, e desertores são punidos com a morte). Pode ser uma questão espiritual (o planeta foi para as cucuias e a sociedade regrediu a alguma seita que prega a ataraxia).
Gato de Ulthar:
Compactuo com a visão do Diego, provavelmente o pessoal da Baleia de Lama são pecadores pelo fato de fugirem a regra e desertarem, a fim de levarem uma vida pacífica e com sentimentos.
Neste ponto é até entendível o objetivo dos anciões em restringir o acesso a informações do passado da Baleia de Lama, visando proteger a frágil sociedade que criaram no navio de areia.
Tanto é que aparentemente se passou 93 anos desde a criação dessa pequena sociedade, pois é dito que estão no ano 93 da era da areia. Provavelmente os anciões sabiam que podiam estar sendo perseguidos e que qualquer hora poderia haver um ataque, por isso era vital para a proteção da Baleia de Lama restringir qualquer aventureiro. Mas de qualquer forma, eles foram achados.
Também achei interessante o sistema de governo, onde somente os idosos que entram para o conselho de anciões sabem do passado da baleia de Lama, por isso são todos putos com a vida 😛
Quanto as motivações da guerra? É muito cedo para fazer qualquer conjectura.
Fábio "Mexicano":
Eu não tinha me atentado para o detalhe de que faz relativamente pouco tempo que tudo começou, se o calendário utilizado for qualquer pista de alguma coisa, bem reparado, Gato! É virtualmente possível que alguns dos membros do Conselho de Anciões atual já fossem nascidos no ano zero, quando aconteceu “o pecado”. Pouco provável, claro, mas mesmo assim não se passaram tantas gerações desde então. Não estamos falando de um mundo apenas em infinitas guerras sem sentido, a escala de tempo relativamente curta garante que seja quase certamente a mesma guerra. Nada mudou desde então. Apenas conseguiram se esconder por algum tempo, e especialmente para os marcados, que morrem tão cedo, isso deve ter parecido muito tempo.
Vinícius Marino:
Estou agora imaginando que tipo de discussão moral o anime vai propor. Será que continuaremos a achar os “herois” bonzinhos e o “sistema” (seja qual for) ruim? Será que teremos um grande twist e descobriremos que a Baleia de Lama precisa mesmo ser eliminada (algo como a revelação no primeiro arco de Rayearth?) Será que entenderemos que o mundo está indo para as cucuias e agora nada (ou pouco) importa (como em Wolf’s Rain)?
Por um lado, a cena dos soldados mascarados abrindo fogo contra crianças inocentes é bem difícil de engolir. Por outro, nessa temporada mesmo tivemos uma “heróina” que condenou um país à anarquia. em nome da justiça. Então sei que as aparências podem enganar.
Diego:
Acho possivel haver um sentido maior às ações dos vilões. Assumindo que são seres sem emoções, deve haver alguma lógica mais racional do porque atirar em criancinhas seria válido.
Gato de Ulthar:
O engraçado é que as pessoas sem sentimentos não são tão destituídas de sentimentos assim! A Lycos, tenta lutar contra, mas é visível que ela sente alguma coisa, só tem uma dificuldade imensa de se entender, além do fato de lutar contra os sentimentos emergentes. Acho que aquele troço do Nous somente dá uma camuflada nos sentimentos, mas não é algo de todo infalível não… Achei bem relevante aquela cena dela sendo carregada nas costas de seu pai.
Fábio "Mexicano":
Não é? Se fosse só a Lycos, poderíamos pensar nela como uma exceção. Mas acho que o anime tentou nos dizer algo muito importante quando mostrou o pai dela, um adulto, cedendo e carregando a filha. Foi a última vez que ele a carregou, viveram juntos por tão pouco tempo.
No geral, contudo, acho que a questão dos “sentimentos” está bastante nublada ainda. Não faço ideia do que isso possa significar para o anime, para a história, para nossos protagonistas. Sentimentos são ruins ou são bons? Foram o que começaram a guerra? Foram o motivo pelo qual a Baleia de Lama desertou? Por que uma comunidade pacífica que rejeitou os monstros devoradores de sentimentos ainda assim prega que se deva evitá-los? Será algo filosófico, ou algo prático – talvez haja um daqueles monstros em sua ilha, ou talvez haja meios de detectar pessoas à distância através de seus sentimentos? Os sentimentos irão salvar o dia? Ou se provarão apenas um mal necessário, ruim com eles, mas pior ainda sem eles?
Diego:
Acho que essas e outras perguntas serão respondidas no mangá, enquanto que nós, vendo o anime, ficaremos a ver navios 😃 (ou a ver baleias de areia rs).
Gato de Ulthar:
Acho que o anime vai focar, pelo menos um tempo, na grande dicotomia formada entre o ultrasentimentalismo do protagonista (que chora até pelos mortos que não conheceu), com a resistência aos sentimentos de Lycos. Estou curioso como o anime vai tratar estas diferenças. Preciso ver mais alguns episódios para ter uma opinião realmente formada.
Vinícius Marino:
Acredito que a resposta esteja na “thymia”, seja ela o que for. Deve ser uma daquelas “bênçãos dúbias”, que trazem benefícios, mas que exigem um preço altíssimo a se pagar. Qual EXATAMENTE é a relação dela com os sentimentos, não ouso sugerir ainda.
Fábio "Mexicano":
Eu tenho teorias mais comportadas e certamente mais prováveis, mas vou com uma bem insana para encerrar por esse episódio: Coisas realmente horríveis acontecem na Baleia de Lama. A Lycos não falou nada, que eu me lembre, sobre ser normal os marcados morrerem jovens – isso pode muito bem ser algo específico da ilha do protagonista, e por motivos bastante macabros.
Até o próximo episódio!

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