Kujira no Kora – ep 3 – Vamos conversar
Bom dia!
O que foi esse episódio, hein? Algumas coisas ruins se confirmaram. Algumas coisas boas aconteceram. Algumas coisas muito insanas aconteceram! Para o bem ou para o mal, coisado esse episódio foi.
O ataque já havia começado no final do episódio anterior, então a carnificina não foi surpresa nenhuma. Não tinha como esperar que os jovens, isolados, inocentes e alienados habitantes da Baleia de Lama tivessem a menor condição de se defender de maneira efetiva contra um ataque surpresa de um exército profissional, afinal de contas. A surpresa ficou por conta do comportamento dos atacantes: parece que não eram soldados, mas sim zumbis! Bom, zumbis também são bastante assustadores e matam muita gente. Mesmo assim, não esperava “zumbis”.
Para ser razoável, devo reconhecer que faz sentido que os soldados sejam assim. Bom, algum sentido. Lembra-se de quando Ouni e Chakuro tocaram em Lycos (o monstro devorador de sentimentos) no episódio anterior? Na sequência, eles estavam com uma expressão vazia, meio apalermados, como se estivessem drogados. Começo a entender o funcionamento desses devoradores de sentimentos: não é que transformem as pessoas em sociopatas, frios, mas sim que os deixem em estado mental alterado. Talvez seja como uma droga mesmo. A Lycos (a garota) até mesmo disse que, fora de sua ilha, ela morreria! Reanalisando em vista dos novos fatos, aquilo guarda alguma semelhança com crises de abstinência.
E não apenas os soldados têm a complexidade mental de um peixe (e nenhum instinto de auto-preservação), como aquela ainda não era a força principal e aquele ainda não era o ataque para aniquilar. Estavam “brincando”, em sentido figurado naturalmente porque não é como se realmente fossem capazes de “brincar”, mas as ordens que seguiam serviam mais para observar e registrar as ações e reações dos pecadores do que para exterminá-los de uma vez. Como não há chance nenhuma da Baleia de Lama fugir agora que foi abordada e já atacada, e como eles ainda querem estudar mais alguma coisa sobre seus habitantes (e sobre a Lycos), se dão ao luxo de agendar o ataque derradeiro para dali a uma semana.
Tudo isso faz sentido? Faz. Eu aceito essas explicações. O que não quer dizer que eu não tenha ficado incomodado com o comportamento dos soldados durante o ataque. Ainda que tudo isso faça sentido nos termos colocados, anote que a maior parte disso só foi explicada depois dos ataques, que com ou sem explicação lógica eles não parecem verossímeis, e que, bem, foi um ataque bem chato. A reação dos habitantes da Baleia foi apenas um pouco melhor.
Com efeito, a maioria deveria estar apavorada demais para conseguir pensar em qualquer coisa direito, quanto mais reagir. Para muitos, a maioria acredito, aquilo simplesmente não fazia sentido, e ficaram congelados tentando em vão entender. Os que efetivamente tentaram reagir no geral não tiveram muita chance. Os amigos do Ouni foram imprestáveis, e embora tenham pelo menos reagido, ficaram tão assustados e desesperados quanto todos os demais. O Chakuro já havia demonstrado em episódio anterior que seu poder psicocinético é forte, ele apenas não consegue controlá-lo, assim ele conseguiu se defender uma vez, de um único soldado (conseguiu nocauteá-lo!). O Suou, acredite só! Queria “conversar” com os assassinos de seu povo. É, Suou, vamos conversar…
E de novo, tudo isso é compreensível. Ao contrário dos soldados apáticos, contudo, as reações do povo da Baleia podem ter soado estúpidas muitas vezes, mas não me pareceram inverossímeis. Não me incomodaram – não por eu achar ruim, pelo menos. Mas que eu senti vergonha alheia do Suou, ah eu senti! Do outro lado do espectro, está o Ouni. Sem hesitar, fazendo discursos, matando impiedosamente seus inimigos, sem derramar uma só lágrima e derramando muito sangue – na cara do Suou inclusive. Na cara! Acredito que muitos vibraram com a pró-atividade do rebelde residente de Kujira no Kora, mas quero que se note uma coisa: o Ouni é como é para que o Suou seja o contrário, e vice-versa. Nenhum dos dois são exatamente “personagens” nesse episódio, não tanto quanto são meros avatares de dois polos ideológicos opostos.
Quem vai vencer o embate? O que significa vencer o embate, aliás? No momento e para todos os efeitos, é óbvia a vantagem do Ouni. E largando com uma vantagem dessas talvez o anime nunca consiga fazer esse conflito funcionar, se é que é mesmo nessa direção que a história irá caminhar. De todo modo, ao fim e ao cabo o juiz será Chakuro, o protagonista. Lycos tem muito a aprender sobre viver por sua própria vontade e sobre ter a liberdade de sentir, então não a vejo tendo qualquer poder de decisão. Com a Sami, morreu também a inocência de Chakuro e de todos na Baleia de Lama.